a Sobre o tempo que passa: O ESTADO FEBRIL A QUE CHEGÁMOS

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.3.11

O ESTADO FEBRIL A QUE CHEGÁMOS


Encurrulados pela turbulência, todos confirmámos, a partir do episódio parlamentar de hoje, como o presente modelo de decisões não consegue rimar com a teledemocracia e o videopoder e, muito menos, com o ritmo europeu. Até Sócrates acabou de clarificar o respectivo conceito de diálogo, quando não quis ouvir a oposição na casa da democracia. Preferiu a Razão de Estado, a declaração directa aos portugueses, através do monólogo ou da conversa em família e acabou por aliar-se a todos os que querem que o presente estado febril entre em convulsões verbais. Logo, importa que se elimine a linguagem de guerra que faz da política uma tensão entre o amigo e o inimigo, voltando-se ao consenso mínimo, sem precipitações, isto é, com eleições condicionadas a metas comuns entre os principais partidos do arco constitucional, numa espécie de coligação negativa, não contra Napoleão, Hitler ou outros fantasmas e preconceitos, mas pela boa esperança que dê nova mobilização às tormentas da politiqueirice. O curto-circuito da solidão no poder, de um só lider, de um só órgão de soberania, ou de um só partido chegou ao fim. E o Presidente da República tem um urgente espaço de decisão e de criação de condições para o regresso à confiança pública.  Cabe-lhe um intervencionismo selectivo, mas pode assumir a plenitude da autoridade, pelo menos para evitar que a governabilidade continue reduzida a mera oposição à própria oposição.

No DN 24 de Março