a Sobre o tempo que passa: O ciclo linear: seremos nós ainda um local de encontro? Por Teresa Vieira.

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.3.11

O ciclo linear: seremos nós ainda um local de encontro? Por Teresa Vieira.


A relação do Homem com a Natureza não é apenas um problema físico, é também um problema espiritual por resolver.

A verdade é que em qualquer momento nós podemos assumir e honrar uma atitude de libertação em relação à nossa conduta perante os outros e perante nós mesmos e perante a própria Natureza. E qualquer atitude das que referenciámos envolve um respeito profundo face ao que se compreende e face ao desconhecido.
Mas não estaremos cada vez mais longe daquilo que se afirma desejar? Seremos nós o futuro ansiado?

Hoje a grande oposição é entre o Homem e ele próprio. Entre o actor e o seu cenário. Entre o divórcio em si como realidade a que se pode deitar mão e o divórcio interior que redivide o Ser e o distribui de novo e sempre em possibilidades artificiais.

Aceita-se com facilidade que se os sentimentos não oferecem alegria às pessoas, mas se podem oferecer conforto, tanto basta para a lógica cruel de um sistema de pensar que rompe circularmente o espírito, visto este como colectivo histórico e assumindo essa condição sem mais.

Acreditamos enfim, que o mundo se modificará apenas com homens transformados.

Homens que se aperfeiçoaram na desvantagem heróica das minorias, e que a partir de certa altura compreenderam, com total lucidez, o perigo das impossibilidades constantes.

Então, esses seres, guerrearão de vez o caminho estreito, irão sorver a praia mantendo-a intacta, irão pegar no sol sem diminuir o seu esplendor, irão regar a árvore com a água do peito e respirarão na consciência de não quererem ser mais os próprios poluidores da vida que lhes coube.

Afinal referimo-nos a todos aqueles que já romperam o chamado ciclo linear, ou aqueles que ainda o vão romper de tal jeito, que se inverterá o ciclo mecânico da máquina termiteira, sendo ela mesma destruída em linha recta e sem retorno.

O perigo do oposto é que o ciclo linear é deveras demolidor, anula mesmo as experiências humanas da maior importância, mas os livros nem falam disto e as aulas também não.

O desapossamento do Homem de si mesmo é um projecto que alguém inventou até à náusea silenciosa.
O ciclo linear não é mais do que o produto óbvio de uma determinada sociedade. Uma sociedade que constrói pedra a pedra a integração no que afirma recusar.

Perguntamos: se nada for feito ou se pouco for feito, seremos nós ainda um local de encontro?

M. Teresa B. Vieira
Em Março num sábado de 2011
Sec. XXI