a Sobre o tempo que passa: Estaremos no grau zero de qualquer coisa? Por Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.3.11

Estaremos no grau zero de qualquer coisa? Por Teresa Vieira


Um grau zero de crenças, de ideias, de humanidade zero, começando cada dia com as dívidas dos dias anteriores, zero no destino que baseou a sua contracção.

Será que devemos todos interrogar-nos de novo sobre o que é existir? Sobre o que é existir a seguir ao século XX espaço que emergiu das guerras e das possibilidades?

Será que sabemos onde estamos?

É que se estamos no centro do mundo, é sinal que estamos no centro de um umbigo, e de um umbigo simultaneamente periférico, já que muito se desaprendeu da auto-observação, andando de um modo ou de outro de roda de qualquer coisa sem balanço das realidades cruciais.

O excesso informacional contribuiu em muito para que nada compreendamos. E todos os que se dizem explicar, querem que a perspectiva deles, através da comunicação, ganhe o campeonato da nossa atenção sobre essas vistas supostamente informativas: sendo estas uma maioria bolorenta de interpretações de grau zero e até de menos um.

Julgamos até que o glaucoma intelectual provém, em muito, do facto de não entendermos o que se passa por não sabermos conhecer as retrospectivas dos mimetismos.

Acreditamos que a grande cegueira é a que não reconhece o cego por uma falta enorme de lucidez.
E que tal repensar o nosso modo de pensar e questioná-lo sem parcimónia?

De momento, será talvez o que pode constituir a grande diferença para que algo de fascinante aconteça.

Saibamos sair deste grau zero da medicalização do sentido da vida.

Saibamos construir a geografia acessível ao pé e à alma. Poupemos tempo mesmo que os outros o percam.

As mulheres lutarão incansavelmente para que aos seus filhos se não mostre uma possibilidade de qualquer coisa, mas antes uma significativa vida, um projecto que elas os ensinarão a enfrentar, num outro parto.

M. Teresa B. Vieira
29.03.11
Sec. XXI