a Sobre o tempo que passa: Sócrates, se o deixassem votar, escolheria e mandaria escolher Paulo Rangel. Era porreiro, pá!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.3.10

Sócrates, se o deixassem votar, escolheria e mandaria escolher Paulo Rangel. Era porreiro, pá!


Lá vi e ouvi o amargo debate entre os laranjas, já espremidos, a três dias do sumo dia. Não assinalaram a circunstância de os serviços parlamentares e presidenciais mostrarem pouca fé na luta de um ex-deputado, ex-jota laranja, ex-ministro de outro partido e ex-assessor de outro presidente que quer papéis e planos, mesmo que a maioria deles seja cópia de um formulário adquirido em "outsourcing" pela nova especialidade dos corruptólogos, com alguma vantagem retórica se tiverem sido maoístas ou sacristas. Quanto ao debate do PSD, parece-me que Aguiar-Branco venceu esta batalha, mas que Passos ganhou a guerra. Castanheira parece merecer um lugar de deputado nas próximas listas e Rangel caiu na casca de banana de um advogado de rabo pelado e voltou a não emergir como o encoberto em noite de nevoeiro.

Passos, melhor do que os outros em economia e finanças, até aguentou no caso do PGR e do MP, perante a tentativa de emissão ex-catedra e lentífera de um assistente de direito à procura de tese, esboçando o tradicional argumento de autoridade, um pedacinho gnóstica. O mesmo Passos, prefigurando-se já como líder do PSD, interessou-lhe que Branco malhasse no ex-irmão de facção. E preferiu pairar em discurso redondo, para que cavaquistas e anticavaquistas, sociais-democratas e liberais, nele se revissem. Por outras palavras, ao não perder, venceu...

Passos cumpriu os prévios ensaios e conseguir emitir a mensagem do princípio ao fim, já com direito a indirectas e farpas sobre Rangel. Este, habituado aos aplausos dos que o confundem com o messias, demonstrou não ter recursos de diálogo para a chamada conversa. Por outras palavras, foi mal treinado para a normalidade da palavra posta em discurso, a que os gregos chamavam "logo" e que costumamos traduzir por razão. Parece só saber falar de palanque para as palmas e não reparou que nem todos os adversários são vitais...

Aguiar-Branco foi a todas, assumiu o cavaquismo e o maneleirismo, o sá-carneirismo e o menezismo,l soube manter a camaradagem jota com Passos e mostrou que respira política com alma e categoria. Eu que, dele desconfiava, por causa do maneirismo, rendi-me à qualidade, ao contrário do que previamente julgava de Rangel, cujas expectativas saíram frustradas...

Claro que não voto nem quero votar no PSD. Muito menos na energia de caracol com que a social-democracia é receita de oportunismo pós-revolucionário, para a qual os programas estão à esquerda dos líderes, os líderes à esquerda dos militantes e os militantes à esquerda do eleitorado. Como em sentimento e em pensamento, na prática, estou quase sempre à não-direita dos líderes e militantes da instituição, mantenho a fé e a razão de um liberal que não é neoliberal e de um tradicionalista que detesta reaccionários e não está para aturar os falsos messianismos populistas da direita mais estúpida do mundo, isto é, daquela que convém à esquerda instalada. Não tenho dúvidas que Sócrates, se o deixassem votar, escolheria e mandaria escolher Paulo Rangel. Era porreiro, pá!

PS: Foto de família constante do Facebook de PR. Com emplastros e tudo...