a Sobre o tempo que passa: O verbo transforma a regra. De Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.3.10

O verbo transforma a regra. De Teresa Vieira


Julgo que crise é também igual a esperança, num sentido muito preciso.

Digo: todos desejamos um novo viver e para isso há que criar condições de diferença, condições que alterem o caminho da impossibilidade, ou, a manutenção das águas estagnadas nos destruirá irremediavelmente com a ajuda da velha vidente das desgraças.

Porque é preciso destruir umas coisas para criar outras, não podemos continuar a pactuar já que daqui a pouco, o pouco a pouco não é nada. É adiar sem medo do terrível, sem sentir a falta de sentido que nos rodeia.

Há que criar uma nova disponibilidade; a disponibilidade para nós próprios, aquela que face a face a nós, nos faz sentir enfim a batota que nos enreda.

O homem tem de estabelecer um paralelo remissivo da essência para a existência, caso contrário estaremos a minar constantemente a nutrição da vida; estaremos a ignorar que o verbo transforma a regra.

Os sonhos não são essencialmente gustativos das horas em que se repensam, ao contrário, os sonhos resultam também de uma abstinência forçada, entupida, e à qual há que fazer frente.

Talvez se fizermos da indignação um acto de consumo compulsivo, aí sim, nos surja uma Páscoa - uma passagem - espontânea e para a qual até as células se sorriem aliviadas do peso do somatório da força de todos os abatimentos.

O mar de Cartago é uma festa que a todos convida. Recordo.

Encontremo-nos nela.

Teresa R.B. Vieira

26.03.10

Sec.XXI