a Sobre o tempo que passa: A falta de respeito pela palavra dada e o domínio do senhor ninguém

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.3.10

A falta de respeito pela palavra dada e o domínio do senhor ninguém



Leio uma de muitas notícias que circulam sobre o debate parlamentar do Orçamento. Sublinho uma das passagens: Subscreveram-na todos os partidos menos o PS. Só que, à última da hora, o PSD retirou-lhe apoio: a proposta foi chumbada com os votos contra do PS, a abstenção do PSD e o voto a favor dos restantes. Jorge Costa, deputado que representa o PSD no CA da AR, explicou ao DN que o seu partido se absteve em respeito ao princípio (não regimental) segundo o qual as propostas oriundas do CA ou são apoiadas por todos ou não são, acusando o PS de ter dado o dito por não dito. José Lello, socialista que preside ao CA, disse ao DN ter pessoalmente apoiado a proposta. Mas o seu partido é que não, bem como o Governo, alegando, segundo afirmou, que conceder o estatuto de nomeação aos funcionários parlamentares criaria "um precedente que poderia contaminar outras situações". E por isso a bancada do PS votou contra. Jorge Costa adiantou que o dossier pode ser a qualquer momento reaberto. Confirmo: a palavra destes irmãos-inimigos perdeu-se no "comunismo burocrático" daquilo que Hannah Arendt qualificou como o domínio do "senhor ninguém". Bastou soprarem os ventos da ditadura das finanças, para que os senhores deputados se tornassem contratados a prazo do respectivo directório. E recordo-o em nome da Ana. Que teve a sua última missão pública como assessora da comissão parlamentar de orçamento e finanças. Na precisa véspera da sua súbita e trágica morte, passou a segunda-feira dita de ponte a fazer mais uma acta da dita comissão. Acreditava fazer parte de uma elite de missão entre gente de palavra.