a Sobre o tempo que passa: março 2010

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.3.10

Sándor Márai, do tratado da amizade. Por Teresa Vieira


Aprende-se que há um amor a todos os títulos fecundo quando os homens são capazes de criar e de manter a vivência de uma amizade como salto qualitativo na forma de viver.

O romance As Velas Ardem Até ao Fim tem sido merecidamente aclamado, mas um autor como Sándor Márai nunca por excesso será nomeado, tal a força da sua imensa inteligência no poderosíssimo discurso escrito.

Entramos num ecossistema de leitura diferente de cada vez que revisitamos estas velas que ardem qualitativamente catalisadoras de transformações profundas e que sempre aconselharei a reler neste romance.

A magia de um diálogo deslumbrante neste livro acode ao mistério do tudo e do nada há quarenta e um anos vivido lado a lado com o que se não pode resolver, ou, por se tratar de ideias falsas, ou, por tão perto e de tão perto, que já não acresce reconhecer o que afinal de nós nunca saiu e tanto no outro se procurou.

E procurou-se no jeito dos porquês e dos comos, ambos miseravelmente idênticos, ambos fórmula sem testemunha que deponha benevolente.

Afinal, da leitura deste livro fabuloso, também resulta que a tudo se sobrevive e, talvez que muitos silêncios sejam mais humanos do que as palavras alguma vez o foram, na ânsia de qualificar a vida.

Existem muitos crimes que os códigos não reconhecem pois que pouco sabem de conteúdos. Também existem misérias e grandiosidades, vaidades e preconceitos que ardem como as velas, muitas, ainda assim, expectantes que se não apaguem de morte esquecida.

E reli e irei reler e apelo à (re)leitura deste romance de Sándor Márai As Velas Ardem Até ao Fim. Todas as noites têm luz quando se sugere um livro como este, pleno de palavras meticulosamente talhadas na alma das pedras.

A realidade é um pormenor na luz flutuante do salão que abriga o diálogo entre dois homens, amigos inseparáveis. Amigos migratórios. Amigos que reconhecem os defeitos e as consequências dos mesmos. Amigos que se não amam apenas pelas virtudes e pelas fidelidades. Amigos até que ambos amparam a bala que afinal não era inteiramente sincera.

Também existe uma? mulher neste livro, tal como a amizade que quando surge é um destino.

Também é no seio de uma comum permissão secreta que não se deseja libertar as verdades que em comunhão com uma paixão tiveram ambição de soldado.

E houve guerra. E solidão. E castelos e conventos e cortinas e uma nudez humana que responde com toda a sua vida.

Também existem muitos significados de caça que só muito mais tarde se entendem. Em verdade, as caças têm muito de despedidas, têm muito do foste tu que me chamaste?

Com tudo o que de brilhante nos ocorre quando lemos este livro, o caos da criação onde se desenvolve a dignidade humana, é ainda mais cintilante, quando o sentimos como uma obrigação nobre, tão nobre que faz parte do ofício do entendimento, como andar a cavalo, ou participar num concerto de Chopin.

Oculta e exposta está a sensualidade deste livro. Surge-nos como consequência natural das circunstâncias que levam as mãos ao tremor, tão antigo na paixão, quanto jovem e permanente ao posto de vigia: licor líquido cor de púrpura a quem no acto de leitura o não descuida.

Permitam-me que cite Sándor

“Era o momento em que a noite se separa do dia, o mundo de baixo do mundo de cima. E talvez haja outras coisas que também se separam nesses momentos (…) já não é noite, mas ainda não é dia.”

E nem sempre se argumenta com palavras da razão. Digo.

M. Teresa Ribeiro B. Vieira

31.03.10

Sec.XXI

Outra nota metapolítica, fora do tempo que passa...


Tanto me fartam os inquisidores e os pides que caçam pedreiros, comunas e anarcas, como os falsos jacobinos que querem enforcar o último padre nas tripas do último papa. Entre fantasmas de direita e preconceitos de esquerda, nem deus nem o diabo têm de escolher...

Entre o sol e a lua, o mundo e os céus têm várias escadas e não apenas a nostalgia da revolução ou da contra-revolução perdidas. Tanto sou contra a utopia das revoluções como contra a paz dos cemitérios das reacções... Prefiro a revolta das revoluções evitadas.

O estado e a sociedade a que chegámos precisam de uma valentíssima e reverendíssima reforma que liberte os indivíduos do colectivismo de seitas das nossas pesadas heranças...

Confesso que já fui anticomunista primário, nos tempos passados de uma guerra fria, com muitas guerras quentes por procuração, onde seria suicida subscrever-se o antes vermelhos do que mortos. As ideias pelas quais importa lutar, as comunidades das coisas que se amam impõem que também por elas se esteja disposto a dar a vida!

São perigosos os atalhos desesperantes da anti-religião. As minhas raízes estóicas e panteístas obrigam-me a reagir contra os vermes do cepticismo, do utilitarismo, do niilismo e, sobretudo, contra o situacionismo conformista dos pretensos moderados do centrão mole e difuso, das modas que passam de moda...

30.3.10

Sermão de Santo António aos peixes que querem ir para o aquário de Belém...


Há quem julgue que só existe aquilo que pode medir-se, segundo o cientificismo mental que pensa deter o monopólio do rigor, mas que, de tanto planeamentismo, não conseguiu prever a presente crise e nos amarrou às trombas dos principais elefantes brancos que nos escravizam em dívidas...

Portugal, se tem de submeter-se para sobreviver, não pode deixar de lutar para continuar a viver como comunitariamente se pensa. Só ousados engenheiros de sonhos nos podem mobilizar em saudades de futuro...

Só a flexibilidade das naus nos pode dar o pragmatismo e a aventura de uma visão do paraíso, aqui e agora, neste mundo e no nosso tempo, onde sempre é possível a redescoberta do transcendente situado...

Os poetas e profetas são mais verdadeiros do que os pretensos criadores de cenários políticos. E os falsos futurólogos do planeamentismo construtivista dos processos histórico, económico ou financeiros...

Se os parcos factores de poder que ainda restam à liberdade nacional e à vontade de sermos independentes não receberem o sopro de um pensamento com entusiasmo e de um entusiasmo com pensamento, poderemos reeleger recandidatos, mas não seremos passado presente com capacidade para pilotarmos o futuro, sem medo de ter medo...

29.3.10

Regresso à política, contra os coveiros do regime!


Breve viagem pelos blogosféricos que persistem em fantasmas de direita, em santa aliança de contrários com os irmãos-inimigos que professam preconceitos de esquerda. Felizmente, alguns conseguiram intuir a essência da mudança, um quarto de hora antes do fim do maneleirismo, bem como do ambiente inquisitorial que perseguia como heréticos os que não subscreviam o rumo suicida da direita que convém à esquerda e que poderia continuar a ser a mais estúpida do mundo...

PS e PSD estão separados por cinco pontos em termos de sondajocracia. Mas PSD mais CDS são menos do que a soma do pretenso povo de esquerda. Logo, Cavaco vai dizer sempre que vale mais do que a AD e a soberania do PSD pode continuar condicionada...

Espero que não continue a música celestial deste mais do mesmo que marca o ritmo dos coveiros do sistema que poderão ser os assassinos do regime. Estou farto dos álibis costumeiros para a nossa decadência, do presidencialismo à globalização, da União Europeia ao financismo salazarento...

Sócrates nunca perdeu. Tem ido, de vitória em vitória, sem se aperceber que vencer, às vezes, pode ser o mesmo do que ser vencido...

O pior deste sistema está naquela subsidocracia que, apesar de legal, depende da simpatia do gestor da rede de grandes sacos azuis de certas políticas públicas, estaduais ou europeias, essa fase superior da compra do poder, que muitos pensam ainda estar dependente de Dona Maria da Cunha...

Passos Coelho que, profissionalmente, conhece os meandros de tal política dita de ambiente, deve iniciar o seu caminho, caminhando com uma nova atitude: mostre as contas da respectiva campanha interna e proponha uma alteração estatutária, para que todos os outros se livrem de futuras campanhas pretas!

Porque num partido que mistura tudo, incluindo sinais ideológicos, quanto mais massificação, mais organização, isto é, mais homens do aparelho, mais sargentos verbeteiros e, portanto, mais possibilidade de política de sigilo quanto aos financimentos partidários que não são controláveis pelo sistema público de controlo das fontes de compra do poder....

O PSD, depois de ter mostrado que a regeneração do regime pode vir de dentro, isto é, dos próprios partidos, deve acabar de vez com os ausentes-presentes e com as consequentes guerras por procuração. Espero que, dentro dos laranjas, não haja mais inúteis que se arroguem como homens de Cavaco, de Barroso ou de Marcelo, essa direita que convém à esquerda e vicia os bons combates políticos...

28.3.10

O verbo transforma a regra. De Teresa Vieira


Julgo que crise é também igual a esperança, num sentido muito preciso.

Digo: todos desejamos um novo viver e para isso há que criar condições de diferença, condições que alterem o caminho da impossibilidade, ou, a manutenção das águas estagnadas nos destruirá irremediavelmente com a ajuda da velha vidente das desgraças.

Porque é preciso destruir umas coisas para criar outras, não podemos continuar a pactuar já que daqui a pouco, o pouco a pouco não é nada. É adiar sem medo do terrível, sem sentir a falta de sentido que nos rodeia.

Há que criar uma nova disponibilidade; a disponibilidade para nós próprios, aquela que face a face a nós, nos faz sentir enfim a batota que nos enreda.

O homem tem de estabelecer um paralelo remissivo da essência para a existência, caso contrário estaremos a minar constantemente a nutrição da vida; estaremos a ignorar que o verbo transforma a regra.

Os sonhos não são essencialmente gustativos das horas em que se repensam, ao contrário, os sonhos resultam também de uma abstinência forçada, entupida, e à qual há que fazer frente.

Talvez se fizermos da indignação um acto de consumo compulsivo, aí sim, nos surja uma Páscoa - uma passagem - espontânea e para a qual até as células se sorriem aliviadas do peso do somatório da força de todos os abatimentos.

O mar de Cartago é uma festa que a todos convida. Recordo.

Encontremo-nos nela.

Teresa R.B. Vieira

26.03.10

Sec.XXI

26.3.10

O Processo Estacionário em Curso. Para o Diário Económico




O presente situacionismo entrou em processo estacionário em curso, dado que, as alternativas sistémicas não são suficientes para um baralhar e dar de novo, segundo o conceito de “new deal”. Nem sequer há suficiente temperatura espiritual para o estabelecimento de um novo contrato social, enquanto pacto de união, refundador do regime, com o consequente pacto constitucional e o posterior pacto de governo, através de novo acto eleitoral.

Acresce que as forças vivas dominantes, tanto a nível partidocrático como bancoburocrático, podem ser simbolizadas por uma moeda que, depende do euro, e tem duas faces: de um lado, a cara do socratismo; do outro, o cavaquismo sem Cavaco. As coroas têm a imagem de Barroso; as rugosidades chamam-se "rating" e endividamento...

Manuela Ferreira Leite tem, hoje, o seu canto de cisne, mas sem hipótese de renascer das cinzas. Com efeito, o cavaquismo sem Cavaco pode pensar na reeleição do seu recandidato, entrar em contactos imediatos de primeiro grau com Barroso, ou fingir que se pode negociar com Lacão e Teixeira dos Santos.

Talvez nunca tenha compreendido a verdade ensinada por Emmanuel Mounier, para quem os problemas económicos e financeiros apenas se resolvem com medidas económicas e financeiras, mas não apenas com medidas económicas e financeiras. Precisam de política que volte a ter a justiça inteira como estrela do norte. A deusa estatística, na sua vertente da heresia aritmética, nunca foi capaz de ascender à geometria espiritual do "esprit de finesse"...

Daí o absurdo da presente encruzilhada, onde as abstenções, à boa maneira salazarenta, contam como votos a favor. E Sócrates, mesmo sem aparecer, pode proclamar que quem não é contra ele é a favor dele.

24.3.10

Sócrates, o autor, os actores e os auditores, com muitos poderes sem autoridade, porque esta é a que vem de autor


José Sócrates Pinto de Sousa é pluridimensional, como qualquer figura pública. Tem sucessivos círculos concêntricos que se propagam do centro à periferia. Primeiro, tem um espaço de intimidade. Depois, um espaço de reserva pessoal. Finalmente, dois heterónimos públicos: o do líder partidário e o do estadista, primeiro-ministro de Portugal. A comissão parlamentar de inquérito só pode aceder a esta última máscara...

O que ontem foi novidade, já anteontem tinha sido anunciado por Aguiar-Branco e, dias antes, denunciado por Sócrates, na máscara de líder do PS, onde voltou a ser animal feroz, para, em breve, passando de um pólo ao outro, voltar a ser gajo porreiro. Como não há detectores de mentiras no espaço do teatro de Estado, pode concluir-se que apenas voltará a haver crise política quando as sondagens revelarem uma radical alteração na opinião dos portugueses...

O parlamento não é um consultório de psicanalista. E nem as próprias relações jurídicas são relações da vida real, apenas são uma minoria das condutas humanas, aquelas relações sociais que o direito coactivamente tutela...

Aliás um ser humano não coincide com uma pessoa jurídica. Esta não passa de um abstracto centro de imputação de direitos e deveres e durante milénios nem todos os humanos tinham acesso a essa máscara e outros tantos sofriam de diminuição de cabeça, como era óbvio no caso das mulheres.

Aliás, a palavra pessoa vem de "máscara", a que os actores usavam em representações na antiguidade e que, segundo alguns, precisavam de um tubo que fazia "per sonare", da voz humana a um certo sistema de megafone. A máscara continua em palco, com "actores" sujeitos a guião prévio e "auditores", os cidadãos que não querem ser "autores"

Os actores não mentem, representam um papel. Os auditores gostam de boas peças e melhores interpretações. Só os actores é que rimam com a verdade. Infelizmente, neste sistema que nos degrada, há muitos poderes à solta e quase nenhuma autoridade, aquela que, etimologicamente, só os autores podem assumir...

23.3.10

Sócrates, se o deixassem votar, escolheria e mandaria escolher Paulo Rangel. Era porreiro, pá!


Lá vi e ouvi o amargo debate entre os laranjas, já espremidos, a três dias do sumo dia. Não assinalaram a circunstância de os serviços parlamentares e presidenciais mostrarem pouca fé na luta de um ex-deputado, ex-jota laranja, ex-ministro de outro partido e ex-assessor de outro presidente que quer papéis e planos, mesmo que a maioria deles seja cópia de um formulário adquirido em "outsourcing" pela nova especialidade dos corruptólogos, com alguma vantagem retórica se tiverem sido maoístas ou sacristas. Quanto ao debate do PSD, parece-me que Aguiar-Branco venceu esta batalha, mas que Passos ganhou a guerra. Castanheira parece merecer um lugar de deputado nas próximas listas e Rangel caiu na casca de banana de um advogado de rabo pelado e voltou a não emergir como o encoberto em noite de nevoeiro.

Passos, melhor do que os outros em economia e finanças, até aguentou no caso do PGR e do MP, perante a tentativa de emissão ex-catedra e lentífera de um assistente de direito à procura de tese, esboçando o tradicional argumento de autoridade, um pedacinho gnóstica. O mesmo Passos, prefigurando-se já como líder do PSD, interessou-lhe que Branco malhasse no ex-irmão de facção. E preferiu pairar em discurso redondo, para que cavaquistas e anticavaquistas, sociais-democratas e liberais, nele se revissem. Por outras palavras, ao não perder, venceu...

Passos cumpriu os prévios ensaios e conseguir emitir a mensagem do princípio ao fim, já com direito a indirectas e farpas sobre Rangel. Este, habituado aos aplausos dos que o confundem com o messias, demonstrou não ter recursos de diálogo para a chamada conversa. Por outras palavras, foi mal treinado para a normalidade da palavra posta em discurso, a que os gregos chamavam "logo" e que costumamos traduzir por razão. Parece só saber falar de palanque para as palmas e não reparou que nem todos os adversários são vitais...

Aguiar-Branco foi a todas, assumiu o cavaquismo e o maneleirismo, o sá-carneirismo e o menezismo,l soube manter a camaradagem jota com Passos e mostrou que respira política com alma e categoria. Eu que, dele desconfiava, por causa do maneirismo, rendi-me à qualidade, ao contrário do que previamente julgava de Rangel, cujas expectativas saíram frustradas...

Claro que não voto nem quero votar no PSD. Muito menos na energia de caracol com que a social-democracia é receita de oportunismo pós-revolucionário, para a qual os programas estão à esquerda dos líderes, os líderes à esquerda dos militantes e os militantes à esquerda do eleitorado. Como em sentimento e em pensamento, na prática, estou quase sempre à não-direita dos líderes e militantes da instituição, mantenho a fé e a razão de um liberal que não é neoliberal e de um tradicionalista que detesta reaccionários e não está para aturar os falsos messianismos populistas da direita mais estúpida do mundo, isto é, daquela que convém à esquerda instalada. Não tenho dúvidas que Sócrates, se o deixassem votar, escolheria e mandaria escolher Paulo Rangel. Era porreiro, pá!

PS: Foto de família constante do Facebook de PR. Com emplastros e tudo...

22.3.10

Continua a violação das massas pelo mau-cheiro deste mais do mesmo


Em política, PSD continua mais uns dias em procissão: Rangel está contra a "promiscuidade" e pretende "desparasitar" o Estado. Uma passista-pensadora descobre o título francês, de há uma década, do "État Moderne, État Modeste". Aguiar-Branco, enquanto corrige as assinaturas da candidatura, está contra as "claques" de Pedro e os "actores profissionais" de preto "call center", ao serviço de Paulo que, a esses costumes, disse estar em branco e a guiar para as bruxelas .

Reparo como os "socialistas" do governo dizem ter preocupações "sociais", enquanto o presidente, fardado, mostra preocupações "ambientais", contra o lixo e o mau-cheiro... E proponho que todos os carros que entram em Lisboa passem a pagar portagem, não em prestação pessoal, mas numa via verde que faça transferência informática de verbas da autarquia de residência para a de Costa. Como também sugiro que os políticos, que fazem belos discursos, devam mostrar-se sempre na televisão com um rodapé onde apareçam as reformas estaduais que acumulam e as consultadorias que abicham, das empresas de regime...

Também registo como Sampaio, o cenourinha, foi, é e há-de continuar simpático, por mais notário da república que tenha sido. E quando diz que não comenta o mandato do seu sucessor em Belém, está a afastar directamente a hipótese de uma recandidatura por razões deontológicas. Infelizmente. Tenho saudades de um presidente que se passeava como homem comum pela ruas da vizinhança, saindo da gaiola presidencial...

Noto como reconhece que um governo em acção pode ser populista e alterar os dados da opinião pública e afectar escolhas eleitorais. Eu confirmo. O pior populismo é o que não parece populismo, isto é, o que altera os dados da opinião pública e afecta as escolhas do povo. Basta o "vermos, ouvirmos e lermos". Aqui e agora.
Chocam-se as cenas de inequívoca violência criminal que foram, ontem, transmitidas em directo do Algarve, antes do jogo entre dragões e águias. Foram mais um sinal de vergonha que vamos continuando a tolerar em nome da festa do futebol...

Precisamos todos, em nome da transparência, de saber quanto é que custou ao contribuinte a mobilização dos aparelhos estatais de segurança para o efeito privado dessa chamada festa! Porque a estrutura da auto-organização do futebol a deve pagar na integralidade!

Como liberal, exijo que os clubes e as sociedades capitalistas que patrocinaram o jogo paguem tal despesa directamente. Como adepto da autonomia da sociedade civil, clamo pela chamada justiça desportiva. Usem os sumaríssimos para adequada punição. Pelo menos, uns joguinhos à porta fechada para os clubes que todos vêem ...
Não podemos clamar contra o intervencionismo do poder político sobre órgãos de comunicação social, se aceitarmos passivamente esta forma de violação das massas por entidades que beneficiam desta forma de pressão, quase de psico militar em tempo de ocupação de territórios alienígenas! Nem mais um tostão público para o futebol!

Claro que não perco um jogo de futebol. Mas a minha paixão pelo espectáculo e o meu clubismo não admitem esta quebra civilizacional de uma minoria de bandos que, em nome da festa, se passeiam em violência, proibindo que pessoas normais, nomeadamente pais com filhos, possam ter o prazer desse belo espectáculo dos deuses dos estádios! Já chega de cobardia!

O silêncio sobre esses crimes, que deveriam ser investigados pelo Ministério Público, leva a que a própria política se enrede na teia, com dirigentes e comentadores futebolísticos que ascendem a candidaturas políticas, e com elementos de claques que se insinuam em candidaturas partidárias, numa promiscuidade com nível de baixeza idêntica à da própria corrupção!

21.3.10

Quem procura nem sempre encontra. De Teresa Vieira


QUEM PROCURA NEM SEMPRE ENCONTRA

Existem muitas realidades que estão dentro de nós e não “num lá fora” onde se procuram.

Por outro lado, a preocupação de procurarmos também nos limita o campo das descobertas, porquanto as procuramos através do funil que já determinámos.

Assim, é bom que saibamos interpretar a beleza e a penúria, para que repensemos o que nos cerca, e quais os factores que mais conduzem a que quem procura nem sempre encontre.

Não é raro assistir-se ao espectáculo que os políticos provocam tentando criar no homem rural uma mentalidade industrializada, urbana. Também não é raro o perder de uma liberdade fundamental, só existente e sentida pelo homem do campo, quando, na cidade, contempla o sol.

Tudo isto nos levanta a questão de se saber, através da mínima percepção que seja, o que se procura e o que se encontra, não sendo de descurar a extrema liberdade de quem come do que semeia.

Mas uma coisa é reconhecer no homem o oficio das suas imensas capacidades de sobrevivência, outra coisa é transferirmos o seu sofrimento para um outro modelo que tem tanto de discutível quanto de tolhida abundância da realidade que se promete.

Em rigor, é desumano que se pense que, afinal, os que padecem de fome ainda são os mais livres já que perderam o procurar e o encontrar.

Que desacerto entre o que se busca e o que se tem; entre o que se esperança e o que nos detém.

Morremos a cada dia também pelo desencontro entre a nossa angústia e o que nos oferece a sociedade da abundância; a tal que só quer o que o outro tem; aquela que deixa o básico por resolver; a mesma que destrói a qualidade de existência das pessoas; a que convoca as cimeiras das modificações económicas e se esquece que as mesmas só surgem da modificação de valores.

Podemos dizer que quem procura nem sempre encontra, ou não reconhece no que avista, as prioridades pelas quais tanto luta.

Será por essa razão que até as janelas são todas quadradas? por uma questão funcional do pensar e do criar? que se não adequa à beleza por esta ser insusceptível de avaliação pecuniária?

Enquanto o ser humano existe, diga-se, ele tem de ter condições de existência, em termos de alegria, de vitalidade, de crítica, de afectos, de direitos, de trabalho, enfim de tudo o que lhe permita não morrer antes da morte: antes de se dar conta da impossibilidade de encontrar o que procura.

Contudo, existem muitas realidades que estão dentro de nós e não “num lá fora” onde se procuram, tal como afirmo no início deste texto. Devo dizer que a invenção da ocupação dos tempos livres me confunde. Ainda hoje me recuso a acreditar que vivemos numa sociedade em que somos tão pouco livres que ainda não descobrimos os nossos próprios interesses e delegamos em alguém o inventar de coisas para fazermos.

Afinal preparar os jovens de hoje para o futuro de amanhã é em si uma impossibilidade do presente? Então a pátria constrói-se sempre num amanhã? Afinal a penúria é não nos colocarmos a pensar no presente? Ou o futuro é um jovem velho numa falsa festa?

Não se descure que o território patológico nega a dimensão social, política e humana, mas o destino não está todo contaminado

No Douro, raramente se diz «no mês de Setembro», lá, a noção é outra: é a da altura das vindimas. E redigo que a sensibilidade na leitura da natureza é a única que não compartimenta a vida nem a acanha, é sim, a que transforma a concepção mundo, a que prova que quem procura sempre alcança.

E creia-se!

M. Teresa Ribeiro B. Vieira

19.03.10

Sec.XXI

20.3.10

Sobre algumas tragicomédias...

Na TVI, ontem

19.3.10

Mão de Deus, dedinho de Jesus e golo de Kardec... Que venha Zandinga!


Qual Aguiar-Branco, qual Paulo Rangel, qual Passos Coelho! Ontem todo o país confirmou que, em vez da velha mão de Deus, à Vata, se notou a omnipresença do dedo do senhor Jesus, bem como um golo decisivo de Kardec, isto é, tudo divindades, homens do Senhor e espiritismo, bem como esse facto do acaso que levou a bola para o fundo das redes, no estádio olímpico das bicicletas e das "connections". E o barulho de fundo inundou esta cidade angustiada. Um sinal de sonho revolvendo um povo pequizado e impostado, que nem sequer pode recorrer à velha internet para declarar o IRS, que as mãos do estadão parecem em greve de zelo de tanto choque tecnológico...

Parece que os funcionários mais qualificados da nossa reformadísisima e modernizada Administração Pública a estão decapitando, com uma avalanche de pedidos de reforma, aposentada e antecipada, enquanto milhares de outros demonstram o vírus da incapacidade mobilizadora de quem a governa...

Ainda ontem, numa dessas reuniões oficiais, confirmava que, entre os titulares cimeiros da carreira, cinquenta por cento pedira a reforma e a restante fatia entrara em regime de não ter que os aturar. Na plenitude, apenas os que vão aspirando a subir uns degraus na tabela dos postos de vencimento, enquanto, para as cúpulas da honraria, se vão recrutando aposentados, eméritos e reformados...

O "simplex" em vigor, ao recorrer à conspiração de avós e netos, com muitos avós acumulando reformas, das públicas, bem especiais, às privadíssimas, não gosta de generais no activo, prefere música celestial, diplomas de remunerações extraordinárias e muitos sargentos verbeteiros, entre leis da rolha (reparei em Santana Lopes) e leis do garrote (ouvi Narciso Miranda)... Qual Pedro, qual Paulo, qual Branco! Interessam mais as prendas do sucateiro...

O fado, o futebol e as fátimas, são como as orgias, as festas e o êxtase, rituais de fuga para fora do tempo que passa. Infelizmente, nem todos os praticam com a intensidade exigida pela vida interior, saindo da prisão do próprio tempo. Faltam-nos profetas que sejam precursores, como eram aqueles intelectuais que conheciam a receita da redenção dos males do mundo. Já não há precursores que captem os sinais do tempo e adivinhem, muito cientificamente, tanto o futuro da história de Portugal como a própria salvação do mundo. Nem Mariano Gago nos vale, de Magalhães em tecla e Kafka em prática...

18.3.10

De como persiste o castramento do impulso libertacionista da política


Ainda ontem, num dos melhores programas económicos das nossas televisões, assisti ao habitual desfile de destacados fiscalistas, contabilistas e financeiros da nossa praça, compreendendo como a injecção do PEC contém as habituais substâncias que levam ao castramento do nosso impulso libertacionista da política.

O elogio barroseiro e do Eurogrupo a esse concentrado de desespero revela como as altas ministerialidades do nosso espaço está afectado pela droga inventariada pelo nome de TINA que, segundo o esperanto bancoburocrático, se descodifica como "there is no alternative".

A causa das causas da presente crise é a autogestão em que se devora a geofinança, esse monstro a que muitos dão o nome diabólico de neoliberalismo, e que nada tem a ver com a clássica visão liberal que nunca abdicou da supremacia da justiça e, consequentemente, da política.

Daí que abundem as reaccionárias explicações das teorias explicativas do "Zeitgeist", onde até há alguns que vão as sótãos rebuscar os manuais maniqueístas, neo-inquisitoriais, nazis ou comunistas, esses que vêem diabos, mãos ocultas, aranhas clandestinas, plenas de judeus, maçons, multinacionais, padralhada, comunas, sindicatos e jovens turcos...

Aliás, quanto mais conspiratória é a análise, menos transparente são os segmentos biográficos dos analisadores, geralmente cristãos-novos que tentam usar decapante para aquilo que foram em metodologia, mesmo que tenham variado de "ismo"...

A geofinança da presente planetarização ainda não atingiu aqueles mínimos de Estado de Direito universal, ainda há efectivos poderes fácticos à solta, isto é, absolutos, pelo que sem república universal não se conseguirão accionar os princípios de justiça....

Os homens da finança e da política deveriam adaptar-se aos sinais dos tempos e seguir o exemplo das grandes religiões universais e das forças espirituais tradicionais, admitindo que o diabo tem lugar a seguir ao Pai, ao Filho e ao Espírito. Porque se, dele se abstraem, terão a surpresa de o sentir explodir em autoritarismo, totalitarismo e guerra!

17.3.10

La belle époque, un quart d'heure avant, elle était encore en vie


Voltemos à lama do quotidiano, ao carro que se enreda e não avança. Discutamos as remunerações dos gestores das empresas públicas e de regime, os carros de gama alta das ministerialidades, a TVI, santana, o freeport, ou os ricos que paguem a crise. Voltemos à terra, a este ambiente de fim de "belle époque", que alguns sistémicos do situacionismo já qualificam como de fim de regime, a este apodrecimento lento das instituições, onde os críticos são qualificados como catastrofistas...

Os sinais de crepúsculo surgem, sobretudo, entre os donos do poder, isto é, dentro das várias secções, ou facções, do rotativismo devorista, ou de certa ditadura da incompetência, onde os bonzos, os irmão-inimigos, apenas são desafiados pelas margens dos endireitas e dos canhotos...

Outrora, a ordem impunha-se porque o medo guardava a vinha. Os fantasmas de direita temiam os revolucionários profissionais (os comunistas). Os preconceitos de esquerda invocavam o eventual golpe da tropa...

As novas teorias da conspiração preferem outros prosaicos. Na Grécia, os repórteres falam em anarquistas que partem montras e dão nos polícias. Por cá falam dos poderes ocultos, como o presidente do sindicato dos ajuizados, alinhando, já não apenas subliminarmente, com aqueles que gostaria de uma nova lei Santos Cabral aos Estados Unidos e à Europa, onde certamente não haveria Estado de Direito, Obama ou Jean Monnet, tal como nunca teriam existido George Washington, Winston Churchill, Montesquieu ou Kant...

Na encruzilhada da ditadura dos factos, apenas o desespero de uma espécie de tecnocracia acima do reino da política, dos eurocratas à doméstica ditadura das finanças naquela fragmentação que também nos poderia levar a uma república de magistrado, porque eles são "magis", enquanto os ministros são meros "minis"...

Vale-nos a liberdade de expressão. Ao contrário do que aconteceu antes de 1926, os críticos da democracia não são dominados pelos inimigos da democracia que preferem procurar um qualquer falso sebastião numa das facções dos partidos da esquerda-menos da presente hipocrasia. Hoje, os seareiros e os seus companheiros da "Revista dos Homens Livres", sobretudo os que estavam livres da finança e dos partiodos, seriam mais ouvidos...

16.3.10

Não, Ana, não partiste! Ascendeste!


Foi há um mês, numa madrugada súbita, que a morte te rompeu a promessa. Por mim, continuo sem reconhecer que o luto pode ser o esquecimento. Porque, contigo, deixei de ser apenas eu. E, dentro de mim, ficaste para sempre. Como semente do mais além que nos deu vida. Não apenas memória e raiz viva de saudade. Porque aprendi, contigo, que mais vale esta mística do silêncio criativo, e cúmplice, do que os paraísos perdidos que me venham, tentadores, da solidão altiva. Não, Ana, não partiste! Ascendeste! E ficaste para sempre no transcendente situado a que damos o nome de eternidade. Estás presente no futuro que continuaremos a ser. Que viveste como sentiste, e aprendi vida contigo. E, além da morte, me libertas. Foste esboço que procurarei cumprir, traço que continua a procura de uma linha recta que já não está limitada pela perspectiva do horizonte. Estás além e estás aqui. E voltas no vento que ainda me dá dias de luz. Na água viva das correntes profundas que procuram. Nesta sede de infinito. Serás, para sempre, vida, em quem te lembra e te procura cumprir. Continuarei fiel!

15.3.10

Dos endireitas ao espírito do das Caldas. No DN hoje


Lá encerrou o concílio de Mafra, com muitas homilias, mas sem emanações neo-sebastianistas. Foi uma espécie de jogo-treino para os candidatos à liderança, que tiveram sucessivos empates, de golos, fífias, e frangos, mas onde dominou o espírito do Oeste, especialmente o das Caldas, reflexo da resistência de um PPD profundo, o das pequenas vilas e cidades dos "self made men", talvez com saudade da gerações dos jotas com "jeans" ....

Santana começou em glória, mesmo quando disse que Cavaco deveria reconhecer Sócrates como pior “moeda” que a do respectivo governo... Infelizmente, no “day after”, inebriado pela “virtù” dos príncipes sem ritmo de jogo, meteu os pés em lugar da cabeça e ousou elevar o respeitinho ao chefe a nível do tratamento dos crimes de heresia. Porque, se a norma pudesse ser aplicada retroactivamente, o próprio Cavaco deveria ser processado...

Felizmente, a norma estatutária aprovada é substancialmente anti-estatutária, porque viola, de forma grosseira, o núcleo central da princípios gerais do partido, e até a constituição da república. Todos os três principais candidatos rejeitaram, desde logo, o espírito e a letra dessa emenda, bem pior do que o soneto, honra lhes seja!.. Essa do “quem não é por mim é contra mim”, sempre foi velha herança dos decadentismos autoritários... os tais que, durante a respectiva rotina, preferem praticar o “quem não é contra mim é a favor de mim”...

14.3.10

Limite ao poder de substituição. De Teresa Vieira



A participação numa decisão tomada por uma maioria não faz dela uma expedição sem regras. Cada um continua a não poder substituir-se à lei que aprovou sob essa maioria.

O poder não significa falar em nome da lei, apropriando-se dela.

Não devemos tolerar, seja a que nível for, que um indivíduo decida encarnar na lei. A grande força de uma sociedade sã reside em nunca permitir que alguém se faça tirano.

Hoje surge-nos com frequência a figura do porta-voz da lei, como quem detém apenas no timbre, a virtude única dos tempos míticos directa ao sótão de cada um.

Ora, sejamos claros e atentemos que estes porta-vozes são exactamente aqueles que fingindo tudo mudar, nada mudam, quanto mais não seja pelo receio de que a mudança real os desequilibre na postura obstinada com que seguram as ferramentas do domínio, esse mesmo, que não querem ver minimamente retalhado.

Quem os entende bem são os viajantes: aqueles que nunca sequer fizeram qualquer género de turismo na cobardia.

Quem os entende bem são os que a custos altíssimos já inverteram o percurso mostrando vocação para a liberdade.

Um dia, um dia de Domingo ao final de tarde, escutei um desses etéreos estabilizadores das fortes águas dizer-me:

Só a energia gera o fluxo constante que se sintetiza na folha. Se retirarmos luz às plantas elas morrem; o mesmo acontece se lhe deitarmos adubo tóxico. O limite ao poder de substituição, reside no próprio vulcão da natureza humana, a única que é lugar de elevada heterogeneidade, a única que sob diferentes formas, transmite aos filhos a fertilidade de se oporem aos processos que só sobrevivem consociados em vários poderes.

Escutei e aqui reproduzo e mais acrescento: que o primeiro foco de doença anda sempre junto à plantação e pela mão de quem decide encarnar na lei.

Teresa Bracinha Vieira

14.03.10

13.3.10

PSD: O espelho da nação. No DN de hoje



Num partido habituado à governamentalização, quando não há votos nem sondagens favoráveis, tudo se fragmenta em neofeudalismos e arquipelágicos apoios locais (mais de metade dos militantes estão em Braga, Porto e Aveiro).

Pesa, sobretudo, a nostalgia de 1985 e 1995, quando foi pioneiro das maiorias absolutas.

Dói concluir que, nestes últimos quinze anos, foi um verdadeiro cemitério de líderes (sete), com apenas dois anos de governança, mas a charneira de Portas.

Porque a pessoa do actual Presidente da República, ao desertificar o partido, passou a ser um ausente-presente, tão invocado como o próprio fundador, embora o irmão-inimigo, depois da saída de Soares, também tenha de contabilizar seis lideranças, embora esmague com treze anos de governo. Contudo, o PSD nunca abandonou verdadeiramente o poder.

Tem, além do Palácio de Belém, o quase monopólio na Madeira. Manda na maioria das autarquias. Fez ascender Barroso a presidente da comissão de Bruxelas. E é representado, no quarto poder, por dois dos nossos principais “opinion makers”.

Depois do fracasso eleitoral do cavaquismo sem Cavaco, o partido vai a Mafra, mas sem poder retomar o segredo da mobilização vitoriosa que levou Sá Carneiro e Cavaco ao poderio.

Já não pode invocar a trindade de “uma maioria, um governo, um presidente”, porque está condenado a apoiar a recandidatura do seu patriarca vivo.

E também está preso por ser a secção nacional de uma das duas principais multinacionais partidárias da Europa, ao lado do CDS.

Tal como está geneticamente imbricado no situacionismo, sobretudo nos “monstros” das políticas educativa e de saúde e na pesada herança do clientelismo e de outros processos de compra de poder, que enferrujaram as nossas canalizações representativas da partidocracia.

A falta de respeito pela palavra dada e o domínio do senhor ninguém



Leio uma de muitas notícias que circulam sobre o debate parlamentar do Orçamento. Sublinho uma das passagens: Subscreveram-na todos os partidos menos o PS. Só que, à última da hora, o PSD retirou-lhe apoio: a proposta foi chumbada com os votos contra do PS, a abstenção do PSD e o voto a favor dos restantes. Jorge Costa, deputado que representa o PSD no CA da AR, explicou ao DN que o seu partido se absteve em respeito ao princípio (não regimental) segundo o qual as propostas oriundas do CA ou são apoiadas por todos ou não são, acusando o PS de ter dado o dito por não dito. José Lello, socialista que preside ao CA, disse ao DN ter pessoalmente apoiado a proposta. Mas o seu partido é que não, bem como o Governo, alegando, segundo afirmou, que conceder o estatuto de nomeação aos funcionários parlamentares criaria "um precedente que poderia contaminar outras situações". E por isso a bancada do PS votou contra. Jorge Costa adiantou que o dossier pode ser a qualquer momento reaberto. Confirmo: a palavra destes irmãos-inimigos perdeu-se no "comunismo burocrático" daquilo que Hannah Arendt qualificou como o domínio do "senhor ninguém". Bastou soprarem os ventos da ditadura das finanças, para que os senhores deputados se tornassem contratados a prazo do respectivo directório. E recordo-o em nome da Ana. Que teve a sua última missão pública como assessora da comissão parlamentar de orçamento e finanças. Na precisa véspera da sua súbita e trágica morte, passou a segunda-feira dita de ponte a fazer mais uma acta da dita comissão. Acreditava fazer parte de uma elite de missão entre gente de palavra.

12.3.10

Contra a aliança do capitalismo de Estado com o capitalismo dos pequeninos, a que dão nome social-democrata de socialismo


Começo pelo patético. Depois de ontem ter uma prestação televisiva de comentário à entrevista de Cavaco, alguém anotou num blogue: "o sujeito escolhido pela SIC para elogiar Cavaco" (cá eu), "é, alegadamente, nem mais nem menos que sogro da filha de Cavaco e, obviamente, avô dos netos dele". Desta, não disseram que eu era filho do capitão da polícia de choque, como um ilustre crítico de televisão do antigamente e ainda servidor do velho estalinismo... Ou um cônjuge de uma funcionária da PGR, como certa televisão insinuou... Inconvenientes de um nome plebeu e raro, quando não é alcunha, mas que agora já sirva como terminação, para certezas dedutivas de compadrio, conforme a denúncia inquisitorial.

Parentesco com netos de presidentes belenenses já as tive, sim senhor, mas com um de antes de 1974. E era tão intensamente animosas que tais netos nunca puderam visitar a avó, mulher de ferreiro, de bela estirpe rural, o que levou parte activista da família das minhas bandas a votar toda em Humberto Delgado, como quase todos me confessaram, mas já depois do Vinte e Cinco de Abril. Mais cómico é qualificarem-me como cavaquista, eu que nunca votei, nem votarei, no ilustre economista, ou num partido por ele eucaliptizado, e que sou acusado pelos assanhados do neo-sidonismo como anticavaquista primário...

Porque há quem defenda uma mistura de capitalismo dos pequeninos com capitalismo de Estado, quando este aparece fragmentado por muitos pequeninos mais papistas do que o papa do micro-autoritarismo subestatal, sobretudo quando o invocam a ciência certa, da teocracia com que lhe torceram o pepino, com "tudo o que digo é lei" e o "não estou sujeito à própria lei que faço"...

Capitalismo de Estado é o poder pelo poder: um mercedes preto, uma secretária de pau preto, bem como um motorista e uma secretária, de qualquer cor, mas de carne e osso, com muitos "yesmen" bendizendo os restos que vou escorrendo daquilo que devia ser do povo...

Capitalismo de Estado é comunismo burocrático: sentar os opositores como comensais à mesa do orçamento e manter o clientelismo, o nepotismo, as empresas de regime, o paráclito e a engenharia da cunha e a subsidiologia, até com discursos contra a corrupção. Basta enredar um qualquer desses pretensos fariseus do "olha para aquilo que eu digo, não olhes para aquilo que eu faço"...

Prefiro o velho aviso de Jaime Cortesão: ser fiel aos "factores democráticos da formação de Portugal", desde as "comunas sem carta" (expressão de António Sardinha), como são as freguesias, aos concelhos, essas formas de "polis" que levaram o Infante D. Pedro, no primeiro tratado de política em português, o "Livro da Virtuosa Benfeitoria", a qualificar o reino, ou república, depois dita Estado, como "um concelho em ponto grande".

E como ainda ontem disse a um ex-patrão dos patrões, quando me interpelava sobre este herculanismo, também seguiria a lição de Passos Manuel, reorganizando o mapa, mas de baixo para cima, para reduzir o desperdício da infuncionalidade. Utilizava a região administrativa no continente e fundia concelhos e freguesias de forma federativa, retomando a mentalidade girondina e não os códigos administrativos do absolutismo. Bastava um governo provisório alargado que regenerasse o setembrismo da patuleia que sempre foi proibida pelos vigilantes exógenos... Por enquanto, apenas estou num activo Vale de Lobos da sabática, cumprindo rigorosamente o espírito e a letra da lei, isto é, trabalhando mais!

Como Cortesão também ensinava, o castelhano é que segue Quixote. Nós somos mais do partido de Sancho Pança, mas precisamos de engenharia de sonhos, daquela "visão do paraíso" que não é da utopia mas do terráqueo, de um transcendente situado que não se confunde com a demagogia dos falsos sebastianismos. Porque, cada um tem de começar por ser empresário de si mesmo, isto é, tendo uma ideia de obra que respeite as regras e promova manifestações de comunhão entre seus próximos, vizinhos e compatriotas. Estamos com sede de coisa pública, neste momento de esperança dos desesperados.

Capitalismo de Estado é saber que qualquer homem tem um preço. Há uns que se compram com honrarias, outros com amendoins. Os inimigos são os que preferem o antes quebrar que torcer. São hereges, dissidentes e inimigos do povo. Mesmo que transforme o antigo inimigo de ontem em amigo de hoje. Ele apenas era oposição com mentalidade de situação...

E Estado é dividir o mundo entre os superiores da ministerialidade, escolhidos pelos "boys", e os inferiores eleitos nas autarquias e nas regiões, para quem "no money for the boys". Tudo para "inglês" das "ratings" ver. Será o resultado do novo aconselhamento da agência de "lobby" ou cansaço da respectiva tradução em lusitano: "passos perdidos", que é nome parlamentar do "átrio"?


11.3.10

Esprit de finesse, precisa-se!


Presidente falou. Um reflexão de direito constitucional de experiência feita, ao bom estilo de um oficial de dia, e de muitas comparações protocolares face aos respectivos antecessores. Mas tudo o que disse era aquilo que se esperava que ele dissesse. Não houve anúncios de golpe de estado constitucional, como clamavam os chamados presidencialistas do revisionismo constitucionaleiro.

A mais arriscada afirmação: o PR sabe o que os portugueses querem. Trata-se de questão teológica, de quem não tem "postestas", mas mais complexa "auctoritas"). A lição de moral política mais séria: o carácter dos homens é duradouro, os cargos políticos transitórios. A honra, a honra. Espero que esta finalmente se case com a inteligência.

A rasteira em que ia caindo, mas não caiu: distanciar-se da afirmação de um dos candidatos a líder do PSD sobre a dissolução da AR. A única coisa que o irritou: a questão dos pastéis de Lima e Zé Manel Fernandes, com PS pelos meandros. Que teve direito à rispidez: "uma total invenção". Porque há coisas que se explicam uma vez e não se voltam mais a dizer.

Sobre as relações com José Sócrates: 150 reuniões de trabalho que "não se medem pela temperatura". E nunca tiveram fugas de informação. Não foram quentes nem resfriadas. Até porque nunca vetou nenhum diploma do governo, ao contrário de anteriores presidentes. Também parece que ainda não está esclarecido sobre o projecto de compra da TVI pela PT. Compras dessas têm que ser tanto do conhecimento do PM como da própria opinião pública. O parlamento é que vai esclarecer...

Pinto Monteiro: ele só informa o PR naquilo que entende informá-lo. A nomeação e a exoneração dele depende sempre de proposta do governo. E o PR não o pode avaliar publicamente.

Quem fiscaliza o governo é o parlamento. É este que pode decretar que há crise política. O PR não pode substituir-se à oposição. Os processos têm que fazer o seu caminho. Ninguém está acima da lei. E ele está acima da vida partidária. Mas a situação está grave.

Transcrevi em oito pedaços o que os meus ouvidos quiseram ouvir das mensagens do presidente. Foi cartesiano demais, em análise e síntese, com o tradicional espírito geométrico. Faltou-lhe Pascal e "esprit de finesse". Nunca poderia ser brasa, porque nada tem de além. Ele não acredita que a política tenha metapolítica. Separa a física da metafísica....

Cavaco nunca foi do partido da criatividade, isto é, considerando ciência apenas como aquilo que pode medir-se, reduz as potências da alma à razão e à vontade, temendo a imaginação. Por mim, face à alteração anormal das circunstâncias, deveria haver palavras de excepção, para que se mobilizasse a esperança libertadora de uma maioria de desesperados...

Meia dúzia de minutos de Alexandre Soares Santos, logo a seguir, foram palavras assentes em obras. Como seriam as de Belmiro. Gosto destas derivas liberais que não são neoconservadoras. Que os políticos ponham os empresários que o são, em contrato com os sindicatos. Para que os portugueses regenerem Portugal em esperança. E não tenham que escolher apenas entre Cavaco, Alegre e Nobre. Novo contrato social precisa-se, novo pacto de união que seja superior aos sucessivos pactos de sujeição, ou de governo, nascidos das eleições às pinguinhas, onde as perguntas e as opções estão sistematicamente fechadas pela partidocracia e pelos seus aliados das forças vivas instaladas.

10.3.10

Entre Belém e São Bento, não há portas abertas...


Ontem foi o quarto aniversário do cavaquismo presidencial. Em tudo o que ele e a primeira dama vão dizendo, em tudo o que cada um de nós disser não há ponto sem nó. Tem em vista a recandidatura do dito. Preferia que servisse sem esse porquê.

Portugal não é a Grécia. Ainda não vendemos as Berlengas, as Desertas e as Selvagens. Mas já concessionámos parte do Terreiro do Paço e ainda temos essa estupidez do conceito de domínio público marítimo, que impede a venda de praias a lotes... Assim, não demorará muito que se atinja o regime do "onde dollar beach" para cada acesso da chamada "classe média" que somos nós todos...

Quando o velho rei do Congo ouviu a leitura das nossas Ordenações, na primeira viagem que fizemos para as bandas da foz do Zaire, terá dito ao comandante lusitano: "em Portugal também é crime alguém pôr os pés no chão?". Julgo que a imaginação fiscal do burocrata vai entrar no delírio da taxação, ao estilo do uso dos isqueiros ou do mero acesso ao "Google" e ao "Facebook", esses privilégios da classe média...

Quem gasta pelo mau uso e prostitui pelo abuso a máquina do estadão já não está habilitado a fazer com que o estado a que chegámos volte a ser um Estado ao serviço da república, ou da comunidade, da comunidade das coisas que se amam, a que damos do belo nome de Portugal. Não nos reformem mais, reformem-se antecipadamente. Precisais de uma valentíssima e reverendíssima reforma, bem penalizada...

Os filhos do PREC viraram patrões do PEC, neste "processo em curso" que ninguém sabe onde vai dar, mas que terá sido negociado, nas nossas costas, com os eurocratas e os consultores da geofinança, retendo, do PREC, os amanhãs que cantam, e dizendo sempre que o inferno são os outros, enquanto os mafarricos do presente nos vão tostando em "simplex" do paga agora, protesta depois.

Preferia que o Zé Povinho mantivesse o sentido do gesto! Que desse o "Toma" a quem não podemos "Fiar"...

Ontem foi dia da belenização de Cavaco, com a primeira "psico" para a futura injecção fiscal que não era aumento de impostos. Depois do PREC, o PEC, ou a pecuária política sempre em curso, nesta "animal farm", onde somos todos iguais, mas há alguns mais iguais do que outro...

Entre Aníbal e José, foram mais os anos de cooperação estratégica e de estado de graça, em que tudo foi porreiro, mesmo sem o pá. Depois foi aquela coisa dos espiões em autogestão com as respectivas teorias da conspiração, confirmando-se como entre São Bento e os arredores da gamela da Ajuda, houve um interregno de regime de assessores, "boys" e "boomerangs" sobre telhados de vidro...

José e Aníbal são siameses. Até dizem que Sócrates é o Cavaco do PS. Ambos comungam do mesmo preconceito "cainesiano" de um estadão assistencialista, intervencionista e clientelar, a que dão o nome de social-democracia, onde as mulheres são a consciência de esquerda intelectualóide...

Esta ficção da classe dita média vive do pingue-pongue valorativo, marcado pelo utilitarismo do homem de sucesso. Um dia pode ser fracturante, no outro catolaico, numa democracia-cristã que procura benzer-se com memória de Guterres, discurso de Silva Pereira ou encontros com o Padre Seabra e Dom Policarpo...

O tal estado a que chegámos tem, de um lado, Armando Vara e, do outro, Manuel Dias Loureiro. Por outras palavras, são Guizot, têm como lema o "enriquecei" da sociedade de casino dos fundos estruturais, assente em titulares honestos e incorruptíveis que usam desonestos como pés de barro, de acordo com aquele velho maquiavelismo, segundo o qual as árvores precisam de estrume.

Dez anos de cavaquistão betuminoso, passaram para o ciclo das energias renováveis, sempre com sacos azuis que restauraram a casta capitaleira e banco-burocrática, conforme as denúncias de Antero de Quental sobre o crepúsculo do rotativismo devorista da monarquia liberal, a que juntámos a ditadura da incompetência da I República, com alternâncias ilusórias, onde os bonzos vencem sempre, embora animem a fantochada dos endireitas e dos canhotos.

Se um prefere a gestão dos silêncios, outro é herdeiro da picareta falante, mantendo os monstros das políticas públicas de educação e de saúde e o desperdício de muitas tentações de intervencionismo propagandístico, nomeadamente no alinhamento da comunicação social pública e privada, com os inevitáveis clientelismos e engenharias de cunhas e subsídios...

Ambos mantiveram vacas sagradas constitucionais, como, por exemplo a divisão das magistraturas, enquanto o perfil politiqueiro os levou a provocar esta propaganda que não parece propaganda, dando uma imagem de políticos antipolíticos...