a Sobre o tempo que passa: setembro 2009

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.9.09

Portugal bismarckizado. Artigo DN


Tal como previamente o escrevi, todos podem, agora, comentar as inúmeras vitórias eleitorais de Pirro. E Fernando Pessoa tinha razão quando observou que, em muitos casos, vencer equivale a ser vencido. Porque se todos ganharam, todos fomos vencidos, porque ainda não há um novo ciclo de clarificação. Democracia não é sondajocracia. A sondagem mostra a vontade de todos conjugada no pretérito. A democracia foi a vontade geral. Cada um decidiu como se fosse a própria república, abdicando do respectivo interesse. As sondagens foram fotografias do passado. O povo em voto foi projecção cinematográfica, a não sei quantas dimensões. E a intuição dos grandes políticos continua a ser hierarquicamente superior às análises. Eles podem e devem ter o lume da profecia, se tiverem saudades de futuro. Hoje já não céu nem inferno. Entrámos todos no limbo. Temos resultados tão de encruzilhada como os alemães, porque a Europa a que chegámos, como dizia Delors, são dois terços de remediados e aposentados que, de forma egoísta, assentam num terço de socialmente excluídos e no endividamento das gerações futuras.

25.9.09

Guizot era pessoalmente incorruptível, mas governava pela corrupção... Sucedeu-lhe a esquizofrenia de João Franco


1
Isto aqueceu e ainda bem. Coitados dos maneleiros que não aguentam o ritmo de excelentes animais políticos que há no actual PSD como é o caso, sem ironia, de um José Pacheco Pereira. Ele bem deve ter avisado que isto não seria um passeio à Paulo Rangel. E coitado de Cavaco Silva a quem bem apeteceria falar para todos os pratos serem limpos. O problema é que ia borda fora a água suja, mas com as criancinhas dentro.

2
Tenho a certeza que, mesmo no Palácio de Belém, há, entre os conselheiros, das melhores cabeças, mais velhas e mais jovens, da nossa praça. Só que a política é a arte do possível. Mas anteontem bem gostaria de assistir à conversa que dois deles tiveram com o presidente. Apenas os vi sentados na Chique, aqui da esquina, e também não sou bufo para revelar quem eles eram

3
Temo isso das escutas... Como tenho passado mais tempo aqui nas vizinhanças do palácio e porque sei como as ditas funcionam, já também devo ter entrado na liça. Mas como tudo o que digo no micro-ondas também o escrevo e emito, estou-me borrifando até para as indirectas dos pseudo-bem-informatados deste quintal de bufos...

4
Lello, Braga, Pretos, Brancos, Bingos e Medalhas Infante D. Henrique.... Ai Guizot! Guizot! Entre neocabralismos e neofontismos, assim vai nosso rotativismo, com a infra-estrutura devorista e inquisitorial anunciando que, de boas intenções, continua a estar o inferno cheio. O problema é de quem paga e passa cheques em branco a quem não confiaria a carteira...

5
Os que julgam que a solução eleitoral resolve o problema moral, ainda não perceberam qual o verdadeiro sentido do manda quem pode, obedece quem deve. Quem pede explicações a Cavaco, devia era pedi-las sobre o tabu que o levou ao abandono depois de mais uma estrondosa maioria absoluta. Os gigantes com pés de barro autoderrubam-se. Nem sequer é precisa a funda de David. Claro que quem maneja os cordelinhos progressistas volta a ser o Zé Luciano que é a coisa mais parecida com os sócrates que vamos tendo, tal como me parece que o PSD caiu nas garras da pulsão hintzácea. Espero que ambos não caiam na esparrela esquizofrénica do franquismo... Mas há por aí muitos salvadores com a mesma sintomatologia!

6
O PSD teve um banho de multidão. O PS teve um banho de multidão. O PCP é só banhos de multidão. O BE é comícios a rebentar pelas costuras. O CDS, feiras,jantaradas e comícios como jamais. Vão todos ganhar. Ainda bem! João Franco foi o verdadeiro criador de Afonso Costa e, consequentemente, da viradeira de Salazar.

7
Preferi jantar no tempo de antena dos gatos, para não perder o confronto Marcelo/Vitorino. É mais aquilo que os une do que aquilo que os divide. Demonstraram ser o máximo de teatro no apelo ao voto útil. Ambos são o rosto deste regime tutilitário. Não disse totalitário, disse todo+utilitário. E essa do fura-vidas que subiu porque o Vitorino não exerceu o direito de primazia foi mesmo à Marcelo...

8
Vi depois a Maria José em enlatado. Feliz o Portas que dela se viu livre. Feliz a Manela que acolheu essa mais valia espiritual, política e eleitoral. Deve ter subido em dez por cento e já estar em maioria absoluta. Pena é não ter graça nenhuma. Citando-a: só é salazar quem pode e não quem quer. Eu também ainda tenho um na gaveta da cozinha e uso-o de vez em quando, quando tento imitar o Teixeira dos Santos nas suas contas à moda do Porto.

9
Só falei do nome Lello porque respeito uma família tripeira que editou Basílio e tem o espaço de livraria mais bonito do mundo. O outro merece referência depois do último discurso que fez na comissão permanente da AR sobre as trapalhadas de um candidato a deputado do PSD, com problemas com a administração da justiça alemã. Agora, reparou que ainda tem vidraças, embora saiba dos escudos invisíveis dos habituais efeitos Rui Mateus.

10
Daqui a dois dias todos estarão a comentar as sucessivas vitórias de Pirro de cada um dos concorrentes. Fernando Pessoa tinha razão quando observou que em muitos casos vencer equivale a ser vencido. Porque se todos ganharem, todos seremos vencidos. Eu preferia que entrássemos num novo ciclo de clarificação. E se o povo quiser mesmo uma maioria de esquerda, julgo que se tem de respeitar a vontade de quem mais ordena. Por mim, estarei no primeiro lugar da trincheira e continuarei frontalmente do contra, mas jamais votarei útil. Votarei em quem contratualizar a gestão da minha carteira pessoal. Isto é, no menos corrupto.


24.9.09

Democracia não é sondajocracia, o Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado


1
Esta incerteza, estas sucessivas fintas à Eusébio nos últimos dias de campanha são o mais excitante de uma democracia que já está fora do controlo dos "agenda setters". O que as sondagens acabadinhas de fazer, ou ainda em curso, vão fotografar estaticamente, eis o grande abalo. Eu só sei que nada sei, sou indeciso.

2
Até ao lavar dos cestos, ainda é vindima, mesmo depois de se colherem os cachos. E depois ainda há que espremer. Que nos espremer.

3
PS em sondagem passou o número mítico dos 40%. Sócrates sobe. Portas salta. O resto, o previsível. O cavaquismo ensarilhado. O cavaquismo sem Cavaco preso nas teias dos propagandistas maneleiros.

4
Parece que o modelo delorsiano de dois terços de remediadinhos que vivem melhor, que não sentiram menos dinheiro na carteira, considera que isso do endividamento é discurso de Medina Carreira. Até a direita prefere o voluntarismo estético de Portas. Porque o eixo da decisão é a disputa entre o PS e o Bloco. O povo é aquele que temos e é este quem mais ordena.

5
As sondagens são fotografias do passado. O povo em voto pode ser projecção cinematográfica, a não sei quantas dimensões. E a intuição dos grandes políticos é hierarquicamente superior às análises de "politólogos", como eu, e dos sondageiros, como eles próprios reconhecem. Os políticos podem e devem ter o lume da profecia, se tiverem saudades de futuro.

6
Democracia não é sondajocracia. Ou pelo menos, não deve ser. A sondagem mostra a vontade de todos conjugada no pretérito. A democracia é a vontade geral. Quando cada um decide como se fosse a própria república, abdicando do respectivo interesse. Rousseau o disse, Kant o teorizou, pelo imperativo categórico. António Sérgio o recordou. Parece que muitos nunca o compreenderam.

7
Dreyfus foi injustamente condenado num determinado dia. Só três anos depois é que Zola conseguiu começar a virar a opinião pública, pondo a consciência humana acima do respeitinho por um Estado que se portou mal. Dreyfus continua a ser aqui e agora.

8
Dreyfus é quando um homem quiser. Qando quiser resistir, em nome da consciência humana contra o aparelhismo de Estado, quando este pretende assumir o monopólio do patriotismo e inventa bodes expiatórios. Mesmo quando volta Pilatos e fingindo a justiça daquele Salomão que cortou a criança reivindicada ao meio. Também houve inventonas e espiões em autogestão, cheios de boas intenções.

9
"A posteriori", depois do apito final, todos farão as habituais interpretações retroactivas da história, com a consequente literatura de justificação dos revisionistas, mesmo que o crime acabe por triunfar. Mas no caso Dreyfus, toda a república se portou mal. Foi de 1895 a 1898-99 e ainda não aprendemos.

10
O Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado. Fernando Pessoa sintetizou tudo neste lema.

23.9.09

Antes de sermos da esquerda ou da direita, somos da pátria


Qualquer Sebastião José, qualquer António de Oliveira Salazar e outros quejandos, de déspotas iluminados a mais rascas césares de multidões, rever-se-iam nas muitas sementes de micro-autoritarismo subestatal que por aí vão medrando debaixo da mesa do orçamento.

Só quem for cego, surdo e mudo é que não consegue vislumbrar segmentos coligativos de asfixias sociais, ditas democráticas, mesmo em coligações expressas ou tácitas de chefões que se dizem do PS com chefões que se dizem do PSD. Já os senti várias vezes no lombo. Isto é, sei de experiência vivida que pode haver uma democracia sem povo e até contra o povo, a tal democratura que é gerada pela doença da partidocracia.

Uns recobriam-se de esquerda revolucionária, mas amadurecerem como ministros da direita. Outros aderiram ao capitalismo pela corrupção negocista. Outros ainda invocaram a benção da sacristia, mesmo sem conversão. A opressão não é platónica. Faz sangrar.

Não sei se, nos recentes episódios, houve belenzada ou se tudo não passa de um pretexto para setembrizadas da viradeira. Umas das abriladas é que não é, com toda a certeza.

Preferia que tudo se resolvesse como em 9 de Setembro de 1836. Os deputados incorruptíveis desembarcavam no Cais das Colunas. O povo recebia-os com vivório e foguetório e, em procissão, com bandas filarmónicas, íamos aos paços da rainha, esta despachava os espiões da rainha Vitória que ensarilhavam a Corte e fazia-se uma governança de moralidade.

Neste reino por cumprir, temos que começar por restaurar a república. Porque, como dizia o Passos (Manuel): antes de sermos da direita ou da esquerda, somos da pátria. Viva a Revolução de Setembro! Abaixo o devorismo!

PS: Imagem de camponeses da Beira Litoral, de 1836, picada aqui

22.9.09

Que venha o indisciplinador colectivo que nos traga a urgente regeneração!


1
O Watergate dos pastéis já deu uns passinhos na Calçada da Ajuda. Mas ainda não se assentou nos bancos de pedra da Praça Afonso de Albuquerque. Remeto para os dois artigos que publiquei no Diário de Notícias. O de hoje, e o que saiu logo que rebentou o petardo. Prefiro ir ao fundo da questão. Para a vagalhota de vulgatas de "intelligence" mal digerida com que pretendem explicar de forma pretensamente científica os chamados mistérios do poder e que nos enredam no mais paranóico dos enredos.

2
Estes ditos omniscientes das sebentas da teoria da conspiração, afinal, apenas sucedem à era dos juridicismos que marcaram a mentirosa razão de Estado da última fase do regime derrubado em 25 de Abril de 1974, já dominada pela cultura do Estado de Segurança Nacional, onde se traduzia em calão a NATO, conforme os manuais de planejamento estratégico de Golbery do Couto e Silva, Augusto Pinochet e Kaúlza de Arriaga.

3
Os fantasmas securitários ameaçam continuar a despolitizar o Estado. Mesmo quando invocam protecções místicas de sacristia ou de loja, não têm técnica nem teoria que lhes dê a categoria de monopolistas da alta política e muito menos podem chegar ao entendimento da nebulosa do chamado interesse nacional.

4
Os mais recentes episódios de histeria aconselham prudência a estadistas e líderes políticos e académicos sobre o uso que fazem de tais pretensos ocupantes dos interstícios do poder. Porque alguns deles não passam de míseros e mesquinhos carreiristas e capangas que a inquisição e a bufaria nos deixaram. Podem servir para alimentar sensacionalismos jornalísticos ou paraganonas, com fugas aos segredos de justiça e são o mais sórdido que deixámos crescer em democracia e pluralismo. Logo, há que separar o trigo do joio, antes que apodreçamos todos.

5
Juro que continuo romântico e radical, mas que detesto a revolução e a reacção. E reconheço perfeitamente os irmãos-inimigos que assumiram o situacionismo e nos vão instrumentalizando. Logo, não deixarei de denunciar as duas faces da mesma moeda má que nos vai desvalorizando a todos.

6
Não se iludam: nem a Dra. Manela é um Salazar de saias, nem Sócrates, um qualquer Hugo Chávez. Eles não passam de meros espelhos da nação que somos. De um povão a quem obrigaram a torcer em cobardia, porque lhe adormeceram a honra da coragem, dizendo que, mesmo sem espinha, vale mais um pássaro na mão do que dois a voar.

7
O mal já vem de longe, dessa bolorenta hipocrisia com que a Inquisição nos eliminou a fibra de Quinhentos, quando ainda vivíamos como pensávamos. Das moscas do Intendente que nos deram as Viradeiras, a última das quais durou quase cinquenta anos, em pleno século XX.

8
Mais recentemente, tudo se agravou quando arranjámos colectivismos de seitas que nos deram a ilusão dos PRECs. Quando muitos confundiram os amanhãs que cantam com a varinha de condão do viracasaquismo saneador, da luta de invejas. Ou com o socialismo de consumo dos hipermercados e do betão, de vez em quando embrulhados com o folclore das campanhas eleitorais.

9
Não me deixo enrolar pelos sermões de Marcelo e de Vitorino, ou pelas frases pretensamente assassinas de Mário Soares. Quero ser um bocadinho mais exigente. Não quero ser governado por aposentados e não vejo, nos políticos profissionais alternativos, aquela altura de fins políticos que nos possam conduzir à regeneração.

10
Gostaria que as próximas eleições fossem o necessário golpe de Estado sem efusão de sangue e que a próxima encruzilhada gerasse o urgente indisciplinador colectivo que pusesse fim a esta decadência neocabralista e neofontista, onde políticos honestísismos se deixaram rodear de gente com o perfil exactamente contrário. O Estado de Direito só resiste se as respectivas raízes se revivificarem na confiança pública e, consequentemente, na simples fé do homem comum, nos homens e mulheres de sangue, suor e sonho.

21.9.09

Retalhos da vida de fim de semana de um eleitor que ainda não sabe onde vai votar


1
Dizem-me que me dizem que alguém disse aquilo que não convinha, a quem queria que eu dissesse o que eles queriam que eu dissesse. Desprezo bufos. Com eles no poder já tinha ardido há muito. Digo, disse e direi, para quem quis, quer ou há-de querer ouvir. O que penso.

2
Vou seguir o conselho presidencial, sobre não ser ingénuo. Infelizmente, neste tempo de homens e presidentes tão lúcidos, eu sou dos que prefere a lucidez de continuar ingénuo, notando como a geração da imaginação ao poder caiu nas mais rascas teias da antiquíssima teoria da conspiração, com caceteiros intelectuais à mistura e espiões em autogestão...

3
Há um velho aforismo que tudo resume: Nec Proditur, Nec Proditor, Innocens Ferens (Nem o traidor nem o traído se presume inocente)...

4
Está um excelente dia de sol. Vou passear à beira do Tejo, diante do Palácio de Belém, vou caminhar em direcção à barra e olhar a Torre que está à esquerda, para, em silêncio, mandar bugiar os familiares, moscas e bufos que querem manter o emprego de caça-fascistas, caça-comunas, caça-pedreiros e caça-jesuítas, esses resíduos sólidos de extrema-esquerda e extrema-direita que nos continuam a poluir!

5
Lá volto à casinha, depois de ler o Expresso. Pouco me interessa que os altos dirigentes do Bloco subscrevam na prática o capitalismo accionista e obrigacionista. As sondagens já os elevam a quase-ministros, de acordo com a informadíssima bandeira daeurodeputada Ana Gomes que, tão garbosamente, enterra a estratégia do partido que lhe dá causa. Luís Amado que se cuide..

6
Cavaco e Sócrates podem colocar no respectivo balanço político esta via original de transformarem o Bloco de Esquerda naquilo que outrora foi o partido eanista. Sempre podem dizer que assim evitaram a via berlusconiana do pós-fascismo, ou a criação de uma qualquer frente lepenista. Lerei com atenção as análises dos persistentes intelectuais da esquerda endireitada que deram pensamento ao cavaquismo, com e sem Cavaco.

7
O que é a social-democracia deste nosso pensamento dominante? "Materialismo do caracol (flácido, vagaroso, escondido, mostrando-se apenas ao Sol e com duas antenas para evitar os 'maus' terrenos ou não perder o 'contacto')". Francisco Lucas Pires, "Uma Constituição para Portugal", Coimbra, 1975, p. 12.

8
Gostei imenso daquelas cenas de ontem da RTP Memória, no programa do Museu da Democracia que ontem invadiu Coimbra. Alegre em verso épico de filho pródigo. Marcelo a ler papelinho escrito. Alegre podia ter ido ao comício de Manela e Marcelo, ao de Sócrates, dizendo para todos votarmos apenas no situacionismo. Mas a coisa está felizmente preta para o mais do mesmo, com Louçã, Jerónimo e Portas a resistirem

9
O sol continua a brilhar. Assisto da varanda à liturgia belenense do render da guarda. A GNR continua garbosa, com homens e mulheres, controlando a charanga, montando os cavalos e orientando os cães. A GNR passa, outros cães ladram, outras cavalgaduras andam aos coices, estes soldados continuam alinhados e firmes. Apeteceu-me içar a bandeira azul e branca para coroar privadamente a bela cerimónia.

10
A GNR já regressou ao quartel. Noutras gamelas da Ajuda, alguns donos do poder arreganham a dentuça. Mas ela não passa de dentadura postiça e estamos à beira de a deitar barra fora. Basta que não passemos novo cheque em branco aos situacionismos. A próxima encruzilhada pode ser estimulante se reforçarmos o pluralismo e ameaçarmos os donos do poder. Devagar, devagarinho, a música pode começar a ser outra!

PS: No canto superior direito da foto, ainda se vê a janela do quarto donde vos estou escrevendo. Não emito as fotos que tirei a membros da casa civil presidencial neste fim de semana. Um deles estava sem gravata, serenamente sentado na esplanada da esquina. Julgo que era ofender o "zen" privado de uma figura pública.

18.9.09

Dez conselhos para homens livres


Há dias em que se acorda marcado pela agenda das parangonas dos jornais, entre os efeitos da bomba de ontem da pretensa compra de votos na laranjada, aos meandros das escutas presidenciais e limianas, árvores que quase ocultaram a sonoridade das sondagens. Neste país, onde ninguém a ninguém admira e todos a determinados idolatram (citação, de memória, do Almada), apenas observo, hermeticamente: há quem diga que o foi, mesmo sem nunca o ter sido, para que, quando o for conveniente, dizer, então, que já o deixou de ser. Porque todos querem flutuar como rolhas, nas ondas do pensamento dominante. Pior ainda: nas fachadas institucionais que deveriam ser de homens livres, mesmo que em aulas livres, quando aquelas se enredam nos diccionários dos mestres-de-seita, sobretudo das seitas que se carimbam com o monopólio da racionalidade.

E depois disto tudo, lá tenho que escolher entre os seguintes cabeçudos de lista: Jaime Gama, Manuela Leite, Francisco Louçã, Teresa Caeiro e Jerónimo de Sousa, com muitos outros à ilharga, entre os quais o departamento de benzeduras de um colégio ligado a Josemaría Escrivá e que não é bem aqueles que passando os olhos por esta frase julgarão, porque está mais ligado ao ramo da restauração e dos pastéis. Se for votar, o que será sempre contra o situacionismo, juro que prefiro um dos que pensam como vivem e que vivem como pensam, mesmo que, aparentemente, possa situar-se no lado oposto ao que me é indicado pela bússola eleitoral. Prefiro a honra à inteligência.

E recordo:

1. A versão constitucional que nos rege não a do tempo de Eanes, nem dos três governos presidenciais que constituiu, dos quais tive a honra de ser adjunto, com mais saudades de Nobre da Costa que de Maria de Lurdes Pintasilgo, mas com muito respeito pela utopia desta grande senhora.

2. Quem eliminou esse anterior presidencialismo foi a campanha civilista de Sá Carneiro, quando isso era espinha dorsal do PPD/PSD, a que aderiu Soares e o PS.

3. Este presidente, apesar de Fernando Lima e João Espada, vai cumprir o contrato de guardião da Constituição.

4. Foi Sampaio que usou a bomba atómica da dissolução, contra um governo de maioria absoluta, o de Santana/ Portas.

5. Soares não favoreceu um governo de Constâncio (PS), Eanes (PRD) e Adriano (CDS), contra a semente de cavaquismo, durante o 1º governo do cavaquistão. Apesar de, depois, clamar contra a ditadura da maioria e apelar ao direito à indignação.

6. Pode haver um governo de maioria absolutamente relativa, mesmo que um dos partidos não obtenha maioria absoluta. Por exemplo, do PS, com acordos parlamentares de apoio, com o BE e o PCP, onde estes partidos enumerem cláusulas de salvaguarda ideológica. O PS fica confortável porque sabe que as seccções portuguesas do PPE o terão de apoiar em matérias europeias que são mais de metade dos actuais factores de poder vigentes.

7. Se for necessário, Sócrates vai fazer um interregno como presidente do PS, substituindo Almeida Santos. E a drª Manela, idem. Os partidos e lideranças que temos sabem das potencialidades da democracia e são responsáveis. E Cavaco vai cumprir os contratos. Basta notar que Jerónimo só entrou para o PCP depois do 25 de Abril de 1974. Que Sócrates e Paulo Portas começaram na JSD. Que Louçã só começou em comícios depois da mesma data e que antes andava encostado aos cristãos progressistas. Todos têm raízes. Até Manela no bisavô e na crise estudantil dos anos sessenta e não do lado salazarento.

8. A democracia recomenda-se e os partidos precisam de desafios. Por exemplo, o da luta contra a corrupção, de acordo com os critérios globais da "Transparency International". É uma vergonha estarmos ao lado de Malta e da Islândia, como os únicos três da nossa Europa, sem institucionais representantes da luta global contra a corrupção. Ainda pensamos que a coisa tem a ver com leis, polícias, magistrados e organismos carrimbados com esse nome, quando o impulso tem de vir daquilo que ainda não existe: a sociedade civil.

9. O problema da democracia é esta ilusão absolutista e salazarenta do decretino. E os partidos que temos são cada vez mais estadão e, logo, mais decretinos, num momento em que também faltam empresários na economia, professores na escola e sindicatos no trabalho.

10. Não precisamos de menos Estado. Precisamos de mais república, de mais comunidade, de uma democracia que não se volte contra o povo e que as autarquias locais e regionais não sejam direcções-gerais ou governos civis. O máximo de público sempre foi o contrato das horizontalidades. O que vem de baixo para cima. E de dentro para fora. Contra a hipocrisia inquisitorial que nos transforma em mentira generalizada, com mais cobardes do que corajosos. Dos que são antes de quebrar que torcer, porque vivem como pensam.


16.9.09

Contra a tirania das maiorias, laranjas ou cor de rosa!


A pior coisa de Manela são os maneleiros, entre inquisidores, pretos, brancos, cor-de-rosa, ex-ministros, candipatos e aristocretinos, todas essa ganga dos bate-palmas que estas mudanças sem radicada infra-estrutura fazem vir ao de cima na máquina da laranja, em tempo de mudança de líder. A melhor coisa de Manela é a própria Manela, que é o exacto contrário do que lhe aconselham que pareça. Como ontem se demontrou, no "esmiuçado" exame a que foi sujeita e onde brilhou, na solidão da respectiva personalidade. Parabéns, senhora dra. Mas, deixe-me acrescentar: não é por ter havido essa primavera que me esqueço de quem escolheu para transportar, ou das anteriores "gaffes" que os laranjas nos revelaram. Mas gosto de ser justo e não costumo responder como alguns dos seus piores maneleiros, que agitam por aí as cargas negativas do ódio e dos ataques pessoais, típicos dos bufos, dos caceteiros verbais, na velha tradição do manual dos inquisidores.

Mais lhe digo que saiba interpretar as sondagens que vão chegando, porque se elas conseguem captar a sociologia eleitoral em períodos que repetem estabilidades de escolhas, não atingem aquilo que só a intuição dos grandes políticos capta: as pulsões do inconsciente colectivo. Elas precisam de sociologia, mas também de enraizada cultura política e de mui científica psicologia política. Porque, ainda hoje, cada eleitor tem dentro de si um Sócrates e uma Manela, ou, melhor dizendo, os fantasmas e os preconceitos que a imagem de cada um transporta, ou daquilo que cada um diz do outro. Num pólo, a pulsão para o avançar. No outro, para a regressão.

Não! Não é a esquerda contra a direita, mas o paradoxo da procura de um certo equilíbrio na luta de contrários, aproximando-se do próprio sistema de forças do actual sistema político, onde nunca pusemos todos os ovos no mesmo cesto, permitindo que o sufrágio universal gerasse concorrência de maiorias presidenciais e de maiorias parlamentares, com sinais diversos, mais complementares do que inimigos, onde convergências e divergências geraram emergências de separação e fusão de poderes.

Eanes foi eleito depois de uma maioria da AD e mesmo após o desastre de Camarate. O primeiro cavaquistão gerou o presidente Soares. E o novo socialismo permitiu a ascensão de Cavaco a Belém. O povo sempre foi mais sábio do que os analistas, comentadores, politólogos e políticos de interregno. Até porque o povo que foi para a rua no dia 1 de Maio de 1974 era o mesmo que, semanas antes, aplaudiu Marcello Caetano, espontaneamente, no estádio do Sporting. Porque o português que ganha eleições é como Jano, com uma cara na regressão do avô tirano e outra no avançar. Só é grande político o que consegue dialogar directamente com esse inconsciente colectivo.

Há pulsões libertacionistas que já se chamaram Sá Carneiro e Soares. Pulsões autoritárias de desejo de um animal feroz que nos deram Cavaco e Sócrates. E há pressões de procura do delicadinho e do gajo porreiro que fizeram Guterres ou o Soares das bochechas e do diálogo. E todos podem ler o Joaquim Pedro de Oliveira Martins que, logo em 1878, descrevia assim o rotativismo: "o governo da liberdade ficou sendo tirania das maiorias, máquina movida por ambiciosos, o realejo que toca a mesma ária, aclamando a todos os que movem a manivela". É a máquina da sua Madeira, Dra. Manela, é a máquina contra a qual se insurge no contenente, mas com a memória daquela máquina do Estado laranja do cavaquistão, contra a qual um presidente da república, Mário Soares, pediu direito à indignação contra a ditadura da maioria.

15.9.09

Não! Não vou por aí! Continuo não-cavaquista, conforme princípios desde sempre manifestados


Ontem aprendi, com Berlusconi, que tenho de apertar dois dos três botões do casaco para parecer mais elegante, conforme a única piada que recebi do senhor engenheiro, durante a sua visita ao planeta dos Gatos/Jay Leno. Por outras palavras, repetiu-se em Portugal um estilo que é normal noutras campanhas, nomeadamente na última presidencial norte-americana, onde os candidatos são obrigados a pagar o imposto de riso. Mas Sócrates continuou a resistir na sua faceta de picareta falante, dado que continua a fingir que é verdade o discurso que ele próprio finge, como já o tinha feito na entrevista sobre a intimidade levada a bom porto pela Raquel Alexandra. Claro que nunca me consegui rir com o líder do PS e que foi patente que a metalinguagem dos Gatos poucas ou nenhumas coincidências teve com o ritual socrático, que, sabendo que o Araújo Pereira tinha sido do PCP, decidiu passar ao ataque e chamar-lhe estalinista, embora também lhe pudesse chamar benfiquista ou outra qualquer adjectivação.

Seguir-se-á a outra senhora, outra piada de mau gosto, emitida ontem pelo João Soares, porque a dita, se ouvir o mano Dias Ferreira, o do Sporting, em vez de alguns técnicos de "marketing", poderá surpreender-nos com algumas quebras de tabus, porque, ao contrário do que vociferam alguns maneleiros que a andam a destruir, a dita senhora gosta mesmo de rir e é de uma honestidade tal que não me importava de lhe entregar a minha carteira, embora politicamente nunca me leve, dado que tem fingido dolosamente que é um Salazar de saias, quando a vida dela, desde estudante, é o exacto contrário desse fantasma. Esperemos que, nos Gatos, se liberte dessa campanha negra em que os pretensos apoiantes a enredaram e que ela, por oportunismo político, deixou correr, cultivando o mistério da gestão dos silêncios, o que, para mim, é tão criticável quanto o ser efectivamente da outra senhora.

Não acreditem que ela costuma usar carros do Estado, porque tem um culto exacerbado da separação do público e do privado e mesmo os colaboradores próximos sabem perfeitamente que tem um alto sentido moral. Aliás, segundo estou informado, não me parece que Sócrates esteja muito distante desse mesmo padrão. O mal não está neles, mas no bando de náufragos que os circulam e no tipo de mensagem que os dois estão a veicular para a obtenção do voto útil. E bem pode acontecer que os dois estejam a subir os degraus de uma guilhotina política, onde acabem por tropeçar no último degrau, para usar a anedota de mau gosto que Sócrates contou a Raquel Alexandra.

Se Sócrates permitir que o Bloco de Esquerda atinja os dois dígitos, sem ser à custa do PCP, e se Ferreira Leite fizer aproximar Paulo Portas desse patamar, ambos erraram. Claro que o PS não vai expulsar Sócrates. Muito provavelmente, Almeida Santos vai ceder o seu lugar de presidente ao actual secretário-geral e este cargo poderá ter uma espécie de solução colegial, onde António Costa e António José Seguro terão lugar certo, com o total apoio do socráticos e dos alegristas. Já o PSD pode reconhecer o erro de ter-se reduzido ao espaço de um cavaquismo sem Cavaco, porque o governo, de acordo com esses resultados eleitorais, nem terá que ser de ampla coligação interpartidária, bastando uma simples maioria de esquerda, interpretada exclusivamente pelo PS, mas com variados acordos de apoio parlamentar com o PCP e o BE, onde até nenhum destes partidos tem que abandonar as respectivas reivindicações, criando cláusulas de salvaguarda em zonas de lina ideológica básica: Até porque em matérias de integração europeia, por exemplo, o PSD e o CDS estão condenados a seguir o programa comum do PPE, nomeadamente em matéria orçamental. Não são província de Espanha, mas secções nacionais de uma multinacional partidária supranacional.

Por razões exclusivamente políticas, e não de falta simpatia pessoal, é que reconheço os permanecentes erros de campanha e de estratégia do PSD. Mas como já me enganei em duas campanhas, onde fui responsável contra Cavaco, na década de oitenta do século XX, tenho o cuidado de não dizer que esta intuição está de acordo com a realidade do povo que temos, aqui e agora. Pode ser que os cavaquistas ainda continuem a conhecê-lo melhor nas suas pulsões e nos seus ideais conjunturais. Apenas continuo a dizer que, se assim for, a nossa crise ainda será maior do que a ausência de uma maioria absoluta. Porque perdemos a fibra multissecular e nos deixámos enredar nas teorias do homem de sucesso do "Leviathan". Não! Não vou por aí!

PS:Nos gatos norte-americanos, o MCain saiu-se bem, mas já estava tudo obamizado!

14.9.09

Contra o fanatismo, a ignorância e a tirania!


O começo da campanha, esse eufemismo de não dizermos que andamos nisto há mais de seis meses, o recomeço das aulas, a chamada rotina da decadência, deste mais do mesmo, entre o Senhor Ninguém e a Dona Incompetência, apesar do choque tecnológico, dos Gagos e das Lurdes, porque a pesada herança do fanatismo, da intolerância e da tirania, oriundas, não da luta de classes, que estas ainda poderiam ser metafísicas e salvíficas, mas da simples luta de invejas, afinadas pelos irmãos-inimigos dos inquisidores e dos burocratas, sobretudo desse cúmulo lusitano do sargento verbeteiro que sabe escrever ofícios, já sem "saúde e fraternidade", já sem "a bem da nação", com aqueles "melhores cumprimentos" que disfarçam a mão felpuda do despotismo ministerial em que nos vamos enrodilhando, onde "novo governo, novo ministro", mas o maquinismo kafkiano de sempre. Daqui a bocado, lá subirei a colina, de corpo dado ao ritual externo de quem se submete para ter de sobreviver, mas que continuará a lutar para viver. Levo comigo o velho lema do Professor Hernâni Cidade: "primeiro a aula, só depois o capítulo!". E agradeço a Gago ter-me livrado de ser do capítulo à força. Graças a esta lei, tanto não me candidatei, como nem sequer votei. Prefiro continuar a olhar o sol de frente. Não há instituições vivas sem ideia de obra, sem cumprimento das regras que são réguas que nos dão a medida da perfeição, e, sobretudo, sem manifestações de comunhão entre os membros da mesma instituição. Se apenas durar o sargento verbeteiro ou a memória viva do avô tirano, algum curto-circuito deve ter apagado a Luz no Portugal de Sempre, o tal que deveria continuar a ter saudades de futuro. O velho disco do mais do mesmo está muito riscado. Nem com o verniz dos pretensos novos, comprados no retalho das lojas dos trezentos, o preto é branco e o animal feroz, um delicadinho...

12.9.09

O Senhor Ninguém e a Dona Incompetência, em regime de união de facto, a que dantes se chamava concubinato, ou o acesso ao ensino superior


Os ilustres contribuintes, os senhores votantes, os dignos cidadãos e os meus queridos leitores que, depois de tantas abstracções qualitativas, não passam de pessoas concretas, de carne, sangue, sonho e osso, que vivem o instante do tempo que passa, ainda não assumiram que quem manda em nós não é o PS, nem foi o PSD com o CDS, mas um tal Senhor Ninguém que vive em união de facto com a Dona Incompetência, permitindo que a Ti Culpa acabe por morrer solteira. Ambos os parceiros da concubinagem reinante foram educados na arte de se escreverem ofícios segundo o manual dos inquisidores, a tal que se transformou no livro de estilo dos modernizadores administrativos, esse misto de teólogos arrependidos com a sacanagem dos jotas que eles elevaram a assessores. Todos acabam de vos enganar com a habitual notícia de Setembro sobre as candidaturas ao dito ensino superior da bolonhesa, coisa que resultou desta pesada herança da Manela, ministra do sector, antecedida pelo Couto dos Santos e pelo Deus Pinheiro, seus renovados candidatos da verdade, e cujo resultado acabou por ser a mais recente versão do Roberto Carneiro que é a soma de Gago com Maria de Lurdes.


Os incautos, diante de uma lista de cerca de um milhar de cursilhos de pretenso acesso a uma ilusão de emprego, a que o Estado se comprometeria a dar um posto de vencimento, quando antigamente apenas saíam licenciados, isto é, com licença para continuarem a estudar por si mesmos, podem reparar que a mesma ditadura de perguntadores nos afunila para saídas políticas que nos obrigam a ter que escolher, como chefe do governo, o Sócrates ou a Manela, com os sacristães Jerónimo, Francisco e Paulo a darem bicadas na alternativa. O primeiro pretenso grande diz que é de esquerda e só leva porrada da esquerda. A outra, que é da não-esquerda, finge que segue a esquerda-menos ao ritmo da jardinada.


Não há meio de compreendermos que este caldo de cultura resulta de um erro de subsolos filosóficos, compreendendo-se como a nota de entrada num dos melhores cursos de filosofia no ensino público de Lisboa acabe por ser abaixo do velho dez. Porque foram estes donos do poder que não perceberam como deveriam educar para a mudança e nunca seguindo o catálogo de saídas profissionais inventado pela fantasia do positivismo tecnocrático dos construtivistas que já falharam todas as sucessivas grandes opções dos planos que engendraram. E porque não querem compreender o presente, vingam-se do passado e proíbem-nos o futuro.


Nunca deveríamos deixar que toda a nossa juventude ficasse dependente de um venerando reitor, de um profético ministro ou de um mais que douto conselho, desses que decretaram, com tanta mensurabilidade, o mercado de trabalho do próximo século, em total contraciclo, como se demonstra na presente crise global. Bolonha não tem culpa. O modelo até exigia uma urgente banda larga, em profundidade, na base, e qualquer país polido, civilizado e culto da Europa não caiu na nossa esparrela de pôr a oferta da empregomania a controlar o mercado das vocações. A única via que temos para curar a doença e voltar a ter luz está, como dizia Guerra Junqueiro, em incendiarmos os símbolos destes filhos de Veiga Simão e Roberto Carneiro.


As regras do jogo do ensino, incluindo do superior, estão totalmente viciadas pelos frustrados da educacionologia, da avaliologia e do planeamentismo. Os quadros publicados na madrugada de hoje são a melhor prova da nossa decadência humanista. O "big brother" dos tecnocratas falhados, que se apoderou da máquina decretina do ministerialismo, afastou-nos esquizofrenicamente da realidade do presente e do futuro emprego. Deixámos de ter os pés no chão e de olhar as estrelas do sonho, permitindo, em nome de uma manipulação da ilusão, que nos metam a pata na poça. A Dona Incompetência e o Senhor Ninguém já não tomam chá com a Ti Culpa. Já perceberam que o Sócrates e a Manela, a quem enredaram, já foram desta para os anjinhos. Eles passam, os educacionálogos, os avaliológos e os planeamanetistas ficam e mandam, para amanhã poderem despedir os mais competentes que resistem em liberdade e saudades de futuro. Não tarda que voltem os inquisidores, para continuarmos a ser jangada de pedra.

11.9.09

O fim dos grandes e dos micropartidos. Ficam todos PMEs e nenhum é do boavista, jogando no olhanense


Finalmente, a medição da opinião por mais uma sondagem. Dá esperança a todos, ao centrão dos ditos grandes, que estão quase empatados, e aos pequeninos, que passam a médios. O PS sonha estancar a aquilo que pensa ser a saída para o Bloco, com o CDS a penetrar naquilo que o PSD pensava ser o bastião inamovível do cavaquistão, quando a crescida do Bloco e de Portas talvez tenha mais a ver com novos eleitores, que não estão para aturar o senhor engenheiro e a senhora directora-geral. Provavelmente, ficaremos sem grandes partidos e sem micro-partidos, serão todos PMEs, com engenharia de subsidiocracia nas multinacionais partidárias da Europa do mais além.


Os grandes tiveram gula demais. Pensaram ser a revolução institucional da solução mexicana, a europa connosco, o betão para os patos bravos, o magalhães p'ró Chavéz, o presidente connosco, etc... Mas a crise fez de todos eles uma cordilheia de PMPs, com direito a essa reserva do património cultural da humanidade que são as secções museológicas da disputa entre os ex-estalinistas e os ex-trotskistas, depois de até exportarmos para Bruxelas um m.l., da secção Cralucci.


Museológicos são também os nossos grandes educadores do proletariado intelectual, como esses ausentes-presentes que já fizeram setenta anos há década e meia, com um a dizer que Robespierre é um liberal norte-americano do centro-esquerda, num sítio onde a revolução foi sempre evitada, e outro a jogar retórica e dialéctica em distintas associações de velhos-colonos, entendidas como militância de conspiração de avós e netos, entre técnicos de reprografia, motoristas de mercedes pretos e ministeriáveis feitos do mesmo preto pau.


Felizmente, há 20% de indecisos, esse novo D. Sebastião destes tempos que se anunciam de encruzilhada e Manuel Alegre promete ir a terreno, para apoiar Seguro, Maria de Belém e Alberto Martins. Até Jorge Sampaio foi assistir a uma das palancadas de Sócrates, enquanto Alberto João Jardim se vai rebolando de gozo com a instabilidade que introduziu nos cubanos do "contenente", porque o que ele quer é uma revisão da constituição e a lei de santos cabral, para o regresso do Léo Taxil.


Claro que a Drª Manela, quando deixou de ser directora geral, ironizando, foi sublime, malhando na Judite, subdirectora, sobre o Marcelo poder ter como rival uma nova emissora de homilias na RTP, a Moura Guedes. A líder do PSD, se estagiar mais com Pacheco, até pode tirar o colar e, fazendo o milagre contra os rosas, atirar as pérolas a mais gente que o bem merece. Solte-se e ria, até de si própria...


Sócrates sorriu para os seus botões e, se fosse como o Mitterrand e o Soares, transformava o Portas em inimigo principal, porque este é que o pode levar a vencer Manela, em termos de eventual maioria absolutamente relativa, esperando, como o Carlos Queirós, uma qualificação para o campeonato, graças às derrotas dos outros...


Porque ontem, Portas, ao correr para os 800 metros deixou a maratonista no tapete das tartes e dos 150 gramas de fiambre, nem mais, nem menos. Quis ir aos "clusters": aposentados que trabalharam toda a vida, jovens, desempregados. E talvez neste confronto tenha chegado aos 10%. Manela, em cima da maioria absoluta na Madeira, não teve garra de ganhadora. Disse querer tirar Sócrates de PM e apenas mais votos do que ele. Não houve caldos de galinha, mas política contra tecnocracia, a qual, até em matéria financeira, ficou em defensiva.

10.9.09

Barroso, António Sardinha e Alfredo Pimenta, com o cabralismo em fundo e o profeta Daniel em frente


Foi delicioso o frente a frente entre Barroso e o grupo dos Verdes, liderado por Daniel Cohn-Bendit, com aquele regresso ao confronto do histórico do Mai 68 com um MRPP do "nem mais um soldado pr'ás colónias". Porque Barroso não gostou de ser apelidado como conservador, ele que agora se diz do centro reformador, e invocou como seguro de vida o ter andado nas ruas de Lisboa a clamar contra o colonialismo...

O Zé Manel, o português que, em toda a nossa história mais voou pelas alturas das relações internacionais, suplantando Afonso Costa na SDN, lá deixou que a costela de quem levou os sofás da Faculdade de Direito para a sede do partido do grande educador do proletariado lhe marcasse o ritmo argumentativo. Apenas me recordei de dois grandes esquerdistas que foram activistas da greve académica de 1907, desencadeada pelo avô da actual líder do PSD, o maçon José Eugénio Dias Ferreira. Um deles era António Sardinha, do lado do estudantes republicanos, o tal que sete anos depois há-de ser maurrasiano e extraordinário pensador e polemista, na liderança do Integralismo Lusitano. Honra lhe seja feita, continuou fiel ao estúpido subsolo filosófico do postivismo de Comte que também marcou a secção jacobina do Partido Republicano.

O outro grevista de 1907, ainda mais esquerdista, quando ainda alinhava no anarquismo de Kropotkine, é Alfredo Pimenta que, depois de ser activista, propagandista e "boy" de um dos partidos republicanos, se passou para a exaltada e reaccionária facção monárquica, ainda mais à direita que os integralistas. Tentou ser o filósofo de serviço do Estado Novo, mas nem Cerejeira nem Salazar o consentiram e acabou pró-nazi e sempre excelente polemista e historiador. Pena que se tenha enganado quanto à valia de Fernando Pessoa, quando este deu cabo de Santos Cabral, um subproduto do pimentismo.

Por outras palavras, há uma certa lei da nossa história contemporânea que tem a ver com traumatismos juvenis: quanto mais doença infantil do comunismo, mais reaccionarismo na idade madura. Já tinha sido assim com António Bernardo da Costa Cabral no Clube dos Camilos. E basta eu recordar-me de algumas aparições fantásticas por essas bandas de um tal Manuel Dias Loureiro. Se o Saldanha Sanches e o Garcia Pereira começarem a desfilar os nomes dos camaradas, bem nos continuaremos a rir, sobretudo quando agora se justificam, salientando que faziam tal contra o "social-fascismo" do PCP e que isso de "nem NATO, nem Pacto de Varsóvia" era uma espécie de antecipação da união sagrada do Freitas do Amaral, do Louçã e do Soares contra o Bush.


Sobre a matéria, ainda não me foi dado fazer adequada consulta aos arquivos da CIA e do KGB, e das operações de estratégia indirecta ou de "operation chaos". Ainda me caíam os restos de Gladio, P2, Aldo Moro e pacifismo do "antes vermelhos que mortos". Sempre preferi Soljenitsine, a Carta 77 e a liga anticongreganista de que foi presidente o liberalíssimo grão-mestre, bisavô da Drª Manuel Ferreira Leite...

9.9.09

Um quarto de hora antes dos votos, fantasmas de direita e preconceitos de esquerda


Cada um cumpriu as suas ordens de caça. O timoneiro procurou chamar à nau os dissidentes, sobretudo os que não votaram nas europeias. O abalroador pediu, ao eleitorado do PS, para abandonar a rota, porque sempre foi socialista, republicano e laico. Nenhum foi ao fundo. Mesmo sem revolta, a pirataria pode vir de outra velha nau, já cansada de viagens à volta da asfixia. Vale-nos as camas voadoras!




Conheço bem o despotismo de todos. Conheço, de todos os dias, os césares de multidões. Sinto, todos os dias, a hipocrisia de quem os usa e deita fora. Sei o preço que os homens livres têm de pagar para os aturarem nos respectivos jogos de poder. A burricada reaccionária e a nostalgia revolucionária lá continuam a alimentar estes extremos, para que os familiares do situacionismo atinjam o princípio de Peter. E são muitos o emplastros que saem do oculto sem qualquer esoterismo. Fica o redondo do hermético e a farpa da metáfora.


O mistério eleiçoeiro está por um fio, preso a argumentos tão sábios como o velho e o novo, o macho e o feminino, o mano que queria ter ou a tia que nos mostra memórias de contas do avô tirano. Como não estou entalado entre preconceitos de esquerda e fantasmas de direita, eu, que nunca votaria no situacionismo, dos bonzos, dos endireitas e dos canhotos, ainda não sei onde votar. Mas nunca votarei o, do mal, o menos, em nome do pretenso útil que nos encavacou, à esquerda e à direita.

8.9.09

O meu adversário não é Vossa Excelência! Don't f... them!


A campanha, ainda ser ser campanha, lá vai vivendo em clausura auto-reprodutiva, onde Sócrates e Manela, entre preconceitos de esquerda e fantasmas de direita, vão metendo golos na própria baliza, porque são desajeitados e sempre em "gaffe", sem saberem rir de si mesmos. Daí que os tipos do "agenda setting" de cada um não esteja preparados para este "ou of control". Daí não conseguirem que os campanheiros saibam driblar a sucessão de imprevisíveis, entre o caso TVI e o "fuck them". Todos têm um jardim nos calcanhares, um alberto no propagandismo e muitos vulgateiros, mais papistas do que o papão.


Manela passou a ser mais conservadora e democrata-cristã do que Portas e este, menos liberal do que o PS. Jerónimo, depois do discurso da festa do Avante, voltou a social-democratizar-se e, de gravata amarela e pose ministerial, como as setas e bolas do CDS, lá vai dizendo que assumirá todas as responsabilidades que o povo queira que ele assume. Portas invoca a rainha Dona Leonor, muito padre Milícias, mas sem explicar que a principal das ditas Misericórdias é um serviço estadual que assume o monopólio das lotarias e das apostas desportivas, coisas que bem poderiam ir para as associações dos deficientes das forças armadas, se houvesse justiça na memória.


Ontem foi Portas e Jerónimos, as duas vozes tribunícias mais conservadoras do que está. Foram excelentes actores, seguros na metáfora e coerentes com o combate anterior. Onde um dizia agricultura, camponeses e CNA, outro pensava lavoura e CAP, ambos contra o Silva que, para mal de Sócrates, nunca foi remodelado. Um talvez queira levar novamente o PCP ao poder do governo, mesmo que seja em regime de queijo limiano. Outro, seguro de um partido unipessoal, já foi ministro e quer voltar a sê-lo. Pouco arriscaram, não meteram a pata na poça e foram brilhantes. Estão ambos próximos dos dez por cento e Portas pode chegar ao poder se a soma do CDS e do PSD ficar 15% acima do PS, tal como Jerónimo pode reeditar a união de esquerda.


Aliás, as eleites que defendem o bloco central são as da nova casta bancoburocrática, ou os jogadores de cenários que apontam o termo para as eleições presidenciais, pensando que Cavaco não se recandidatará, enquanto Sampaio, por essa razão, já aparece na capa do "Semanário" e Jaime Gama pensa que é convicção aquilo que outros andam por ele profundamente a pescar. Alegre nada diz, joga no Costa e no Louçã. Por isso o frente a frente de Jerónimo e Portas não foi debate, porque cada um dele tinha a lição bem preparada: o meu adversário não é Vossa Excelência.


O guardião da constituição laboral e da constituição económica, viu Portas, que está em coligação com Santa e Rui Rio, elevar o BCP, o BPN e o BPP a tambores da festa e jogar com números certos às operações às cataratas. em nome de uma economia de mercado socialmente sustentada em valores éticos. Jerónimo bem tentou invocar a justiça social de São Tomás de Aquino, mas Portas já tinha inconscientemente citado Karl Marx, no de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades. Juntos, não ficam mal num próximo governo de grande coligação à portuguesa. Teria mais legitimidade democrática que o do Irão, o tal que veio dos votos, mas que, ao contrário do que acontecia com Salazar, não deixa que circulem jornais da oposição.

7.9.09

Os bastiões inamovíveis do bom governo...


A Convençaõ do PS, ontem, assumiu ritmo esotérico, denunciando a heresia maneleira, porque a mesma usurparia o título divino quando diz "Eu sou a Verdade". E, ao milenarismo, responderam com o serem avançados, naõ sei se mentais. Uns estão na Utopia (do Maio 68), outros no Milénio. Uns querem a planificação dos iluminados, outros, a tempestade que nos afastará dos pecados. Uns com nostalgia da Mãe, outros, com saudades do Pai...

Por tanta escatologia é que a líder do PSD se enreda em coisas como as que foi dizer ao "bastião inamovível" do "bom governo PSD", a Madeira, onde não haveria asfixia democrática, dada a existência de jornais da oposição. Por outras palavras, admite a ditadura das maiorias, porque tudo mede com o voto que tudo ordena. Eu pensava que, na democracia, interessava menos a resposta ao quem manda e mais ao como se controla o poder dos que mandam. Mas compreendo, a principal líder da oposição estava a querer mandar uma de subliminar para a questão da M. M. Guedes, coisa de que discordo, porque o Jornal Nacional da TVI de sexta não era propriamente a voz da oposição...

A hipocrisia inquisitorial ainda manda que ninguém manifeste sinais exteriores das suas convicções íntimas. Porque nunca extirpámos a raiz dessa servidão voluntária, mantendo a fortaleza do Rossio mesmo depois dos decretos estaduais que extinguiram a polícia do pensamento. Porque permaneceu o sub-sistema de medo dentro de cada um, venceram os adesivos e os viracasacas...

Depois de despotismos iluminados de curta duração, sucedem-se quase sempre viradeiras de provisórios definitivos, como foi o salazarismo, onde há sempre pinas maniques e preconceitos de ordem que, através do neofeudalismo da anarquia ordenada, permitem a continuidade dos familiares, dos moscas, dos formigas e dos bufos. Infelizmente ainda somos pós-inquisitoriais, pós-autoritários e pós-totalitários. Temos medo!

6.9.09

Manifesto de um jovem nascido em 1985. Por acaso é o meu filho que pensa pela própria cabeça e o emitiu, em revolta, no "Facebook"


Eu não nasci no tempo do Salazar, nem nasci na altura em que o comunismo era um risco real para a democracia. Nasci e cresci depois disso e não sei o que isso é ou foi, portanto não posso falar disso.


O que eu sei é que economicamente (em termos de crescimento) a década de 90 foi pior que a de 80, e a década de 2000 foi pior que a 90. E excepto para aqueles que estão filiados ou estiveram nos governos, câmaras municipais ou empresas públicas, as coisas não estão melhor, nem vão ficar melhores.


Não quero saber se o PS é melhor que o PSD (ou os seus apêndices), nem vice-versa, tal como não queria ter que escolher entre morrer afogado ou queimado. Também não quero saber de demagogos que são doutorados em economia ou que leram o Capital na juventude, mas esquecem-se de dizer que vivemos num mundo globalizado e competitivo à escala mundial, e que o capital , esse, escorre mais depressa dum país do que areia de uma mão aberta quando lhe apetece.


Não quero saber se um bando de militares conquistou a democracia em 1974 e decidiu chamar-lhe a revolução do povo, se hoje, em 2009, vivemos numa cleptocracia, onde o socialismo do estado é na teoria tirar aos ricos para dar aos pobres, mas na prática é tirar aos falsos ricos para dar uma pequena parte aos pobres, outra parte aos pouco produtivos e uma grande parte aos muito ricos.


Porque distribuir riqueza na sua maioria por outros critérios que não o mérito só faz este país mais pobre e miserável, e é usado como a desculpa perfeita para continuarmos a viver numa sociedade onde uns vivem à custa dos outros, e por detrás uns ainda enriquecem à custa de outros.


Não me acusem de ser egoísta e não querer saber dos mais pobres e desprotegidos. Por me preocupar com eles é que me revolta a farsa deste socialismo que promete que todos serão doutores mas depois só entregam um mercado de trabalho reduzido e precário, que é resultado desta economia.


Revolto-me porque sei que muitas empresas que dão emprego a muito gente, poderiam dar muito mais (empregos e rendimentos) se não tivessem que dar tanto a um estado que não dá nada de jeito em troca.


Revolto-me também com esses demagogos da esquerda que acham que os ordenados podem subir por decreto-lei, sem considerarem que, numa economia global, o papel do estado na definição da escala em que o mérito (monetário) é retribuído às pessoas é irrelevante, quando já nem o valor da nossa moeda controlamos.


Revolto-me porque esses demagogos estupidificam a discussão que não têm nada a ver com comunismo e capitalismo e proletariado. Que esquecem-se de dizer no fim que o estado social é um luxo de economias produtivas, e podem ser também o fim das mesmas.


Mas o que me revolta mais é as pessoas acharem que não existe solução, que sempre foi assim e sempre será, que o PS e o PSD vão sempre mandar nisto e quando aparecer um novo vai ser igual.


Revolto-me quando se comparam as decisões políticas (conquistas democráticas) de outros países com as nossas e o que eles fizeram de melhor é minimizado ou relativizado e desculpado com tudo (Salazar, povo português, o nosso tamanho geográfico, económico ou político), tudo menos com o carácter e decisões dos políticos que tivemos (porque elegemos). Assim, vivem eles em paz de espírito, pensando que não fazer nada é justificável, porque não há nada que se possa fazer para mudar.


Revolto-me quando se fala disto e se ouve coisas como "não há nada a fazer", "mesmo que se faça alguma coisa vai sempre ser a mesma coisa", "ele é corrupto mais ao menos fez mais que o anterior". Mas quem disse isso?


Não, eu não sei qual é o caminho, nem sei qual é a solução, muito menos as melhores soluções, e ainda sei menos no curto prazo. Só sei para onde quero ir como país e cidadão e sei que esta não é a direcção nem o percurso.


Às vezes, penso, o melhor é sair deste país e nunca mais voltar. Já pensei assim, e penso na ideia muitas vezes, principalmente quando penso o quão rápido e há quanto tempo caminhamos para um abismo. Mas não quero, nasci neste país e não sou culpado de nada. Para além disso não sou nem fui escravo de ninguém. Não tenho e não quero ser escravo e servir nobres para o resto da vida, nem quero que os meus descendentes o sejam enquanto todos empobrecem e uma minoria enriquece.


Também não desejo fazer parte dessa vida fácil, dessa nobreza que só enriquece à custa dos mesmos sem mérito nem vergonha na cara. Nem me metem medo, não têm Pide nem militares armados prontos para me matarem. Protegem-se apenas com a nossa passividade e ignorância, e ainda precisam de nós para votar neles e para contribuir para o orçamento. Ter medo para quê e de quem e porquê?


E estou farto de pertencer à minoria de pessoas que já está farta disto, deste vira-o-disco-e-toca-o-mesmo e que sabe quem não tem de ser assim e não é assim em grande parte do mundo

(...)


Não entendo a maioria das pessoas que paga mais impostos e taxas e têm menos emprego, menos serviços, menos educação, menos saúde e menos segurança e mesmo assim dá maiorias absolutas à esquerda e à direita e aqueles que nos governam há 30 anos de uma maneira cada vez pior
(...)


Mas não quero partir porque tenho esperança que a caneta seja mais forte que a espada, e que o português possa perceber que decidindo juntos e justamente o nosso futuro somos mais felizes, ricos e inteligentes.


PS: O autor é o tipo de azul na fotografia que é pública. É o primeiro texto político que li dele. Assim é que é desconstruir campanhas e viver democracia. Não faço ideia onde ele vai votar, porque já votou, mesmo que não vá votar. Como escreveu Camus, no ano em que nasceu o pai deste cidadão, cujo texto somos nós, um homem revoltado é um homem que diz não. Mas se ele recusa, ele não renuncia: é, assim, um homem que diz sim, desde o seu primeiro movimento...

4.9.09

Quem semeia ventos lá vai colhendo as tempestades...




Dizem que o irmão do Primeiro-Ministro comanda uma rede de jornais e que, perante a campanha negra que, ao mano-chefe lançaram os oposicionistas, o mano-subchefe se pôs e vigilância, armazenando papéis de campanha negra contra os outros, para espetar a farpa na altura certa aos sucessivos adversários, também especialistas nas sombras da vida privada do comandador. A meio do campeonato, as cadeias de jornais e televisões da Igreja, directamente dependentes de um bispo delegado da Conferência Episcopal, entrou no combate, denunciando a falta de moralidade do chefe do governo, com editoriais de moralismo catolaico bem emocionante. A resposta foi bombástica: apanhou-se o laico director de jornais e televisões, o tal moralista de sacristia, num caso de tribunal que mete assédios e homossexualidade. O editorialista em causa demitiu-se. Os bispos lavaram as mãos como Pilatos, defendendo o demitido.

Esta onda ainda não chegou a Portugal, com todos os seus contornos de Sade. O português suave apenas apanhou Manuela Moura Guedes. E ontem logo o comentei para o DN de hoje: Mesmo quem não seja um fã de M. M. Guedes e da restrita companhia da tribo "independente" que Moniz elevou a grandes educadores do nosso proletariado intelectual não deve hesitar: a liberdade exige plenitude de acção a propagandistas da situação e da oposição! Quando a entidade capitalista se desculpa com ordens vindas da patroa espanhola, mais se lamentam as anteriores palavras usadas pos Sócrates sobre a “campanha negra”, não sendo possível justificar o corte de pio com casos anteriores, como a cena dos santanistas com Marcelo Rebelo de Sousa.

Não há evidentemente censura, mas liberdade do mercado, neste socialismo a retalho, que é interventor nos dias pares e licencioso nos dias ímpares, conforme os heterónimos convenientes dos donos do poder. Mas Sócrates, a partir de agora, deixa de ter debates, passa a ser o bombo da festa, a não ser que tenha a hipocrisia de mandar um porta-voz defender a liberdade de expressão da M. M. Guedes, para se assumir como bode expiatório. Julgo que alguns, mais papistas do que o papão, continuam a fazer golos na própria baliza, pensando que ter o poder é ter a palavra. Talvez acabem por comunicar ao país que a peça sobre o Freeport será emitida pelos tempos de antena do PS. De outra maneira, darão razão a todos os que acham que esse elemento é o calcanhar de Aquiles do ministerialismo. Por mim, gostava mais que não “desviassem a atenção” da política, nesta campanha eleitoral!


Em conlusão, a campanha tem imensas minas e armadilhas, onde chafurdam os habituais artistas das campanhas negras, não faltando o vício da espionite. Só que, de tanta autogestão de consultores e espiões, entrou-se naquilo que em estratégia se chama "out of control", e talvez em "point of non return". Até Louçã e Jerónimo aparecem como carneiros do pluralismo, fazendo parecer que Sócrates, Manela e Portas são animias ferozes. Por outras palavras, precisavam todos de mudar o guião e até os actores, limpando profundamente os bastidores.


A televisão em causa foi formatada por D. José Policarpo, com Roberto Carneiro e Zé Ribeiro e Castro, antes de passarem o testemunho a Carlos Monjardino, e antes da chegada de Moniz. Os espanhóis, que a compraram, não querem velinhas a este ou àquele partido, querem "share", mas sem que conspirem contra a igreja estabelecida ou os donos do poder. Ouviram falar nos saneamentos que José Saramago, ao serviço do PCP, fez no velho Diário de Notícias, mas hoje não o reconhecem como tal. Sabem as técnicas que o PSD teve para com Marcelo. E até entendem os meandros negociais do cardeal com a comissão que afastou do canal o Daniel Proença de Carvalho, onde o dialógo da Santa Madre e da maçonaria não era pecado grave, embora houvesse risco de excomunhões, pelas duplas pertenças, de acordo com o cânon 2335 do Codex de 1917, aggiornato pelo 1374 de 1983.


O episódio da outra Manela, a que já foi deputada do Manel Monteiro, é apenas sintoma da decadência, não é causa de nada, porque eram interessantes os debates que nos traziam os ilustres colegas de trabalho do marido de Constança, como o presidente e os seus colaboradores num dos mais importantes institutos estatais de investigação universitária, com um a educar a direita, outro, o centro do cavaquismo, e o terceiro, com saudades do seu velho colaborador-tarefeiro, Paulo Portas, quando era um bom aprendiz de académico. Pelo menos, mostravam como pensa o capitaleirismo sobre o resto do país, que é etimologicamente província, isto é, terra a conquistar.


O Sócrates tinha que ser o "gajo" a denunciar, por não ser suficientemente "radical chic" para continuar "feitor dos ricos". Desenhou casas muito feias, obteve a licenciatura numa privada, que acabou encerrada pelo Gago, e tem uns tios e primos de susto. Entre bons pastores e péssimos criados, a burguesia fidalgota, não perdoa, sobretudo quando não esquece as tácticas maoístas e trotskistas, segundo as quais um bom revolucionário nunca pode ser um humanista. Importam mais as técnicas de cortar na viracasaca das intrigas da sociedade de corte, com os seus adesivos.

É evidente que o feitiço volta-se sempre contra o feiticeiro. Sócrates apanhou em cheio as tempestades que desencadeou, especialmente quando pôs a pata na poça ao não assumir, com toda a clareza, a sua atribulada vida académica. Ele, como doutorado em vida política, não precisava dos pergaminhos da licenciatura ou do doutoramento e devia ter-nos declarado isso mesmo, olhos nos olhos, denunciando a luta de invejas. Como devia mostrar tudo o que sabe sobre os meandros do Freeport, sem cair na esparrela da campanha negra, especialmente quando, no congresso do PS declarou que o povo é quem mais ordena. Sofreu agora a tempestade que desencadeou.

Santos Silva e ele próprio, Sócrates, estiveram bem, ontem, no tempo e no tom da resposta. Mas a memória do malhador e das trapalhadas não limitaram suficientemente os estragos. Apenas espero que não surja a espiral da contra-resposta com outros elementos ainda ocultos, mas que os campanheiros guardam para as contra-ofensivas. Porque tudo foi desencadeado pela conversa de alguém da casa civil da presidência sobre os arcanos do relacionamento entre os principais órgãos de soberania. Não acrescentemos à tragédia, o ritmo da comédia e da ópera bufa. Ainda não estamos em ritmo de Berluscolini e de Boffo.