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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

16.12.09

Do sebastianismo científico ao sebastianismo merceeiro, entre verbeteiros e amanuenses


Alcácer-Quibir ainda nos mata. Depois do "sebastianismo científico", o do esquerdismo marxiano ou fascitóide, e do sebastianismo merceeiro, o da ditadura das finanças, há muitos que anseiam por um qualquer invasor suave que nos traga "a bela ordem", sobretudo se ele chamar "libertação" à efectiva ocupação heterónoma das coisas e das mentes.

Sim! Tudo anda irascível, sempre à procura do adjectivo demoníaco que dê uma desculpa para ninguém dialogar com o adversário. Todos parecem carecer daquela ciência certa do ideologismo e daquele poder absoluto que adora pisar o opositor com um insulto. Será que o novo D. Sebastião não passa de um contabilista que se assuma como disciplinador externo? Mas foi na Irlanda que baixaram consensualmente os vencimentos. E foi na Grécia que Medina Carreira se vestiu de líder do governo socialista.

Aqui, o essencial no poder conquistado (o estadão a que se chegou) é o dito procurar manter-se, com muita música celestial disfarçando o "apartheid". Quem diz organização, diz necessariamente oligarquia, isto é, a degenerescência da aristocracia, e na véspera do cesarismo, como é típico de todas as ditaduras da incompetência, plenas de bonzos, endireitas e canhotos.

Cumprido o ofício de corpo presente, como amanuense da máquina decretina de avaliações e processualizações, reparo como continua aquele incomemorável da I República, quando o ministro da instrução nomeava um capitão para reitor de uma universidade pública. Especialmente quando o dito, ex-ministro, aliás, tentou ser o líder do próprio 28 de Maio.

Hoje não há nomeações, mas eleições. Só que, em muitos cargos electivos, o colégio eleitoral é mais do que censitário, dado ser uma colecção de elegíveis, definidos pelos restritos electivos que os previamente eleitos nomeiam, para que, de eleitos, passem a elites que nada têm a ver com o mérito.

Aqui e agora, todos os mensageiros têm que ser processualizados, encubados, enquadrados pelos sargentos verbeteiros e pelos falsos chefes de repartição. Calem-nos! Calem-nos! Só o nosso venerando chefe é que tem direito ao despacho, a colocar o nome de três ou quatro membros do grupelho no buraquinho da sagrada grelha que lhes dá tacho. Cala-te, senão, não, senão não comes nem vences. Nós somos a verba e, contra a verba, não há verbo que mantenha o pio. A malta corta-o e este crime costuma compensar. Amen! Amen!