a Sobre o tempo que passa: Corrupção: acordem, acordem! E recordem...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.10.09

Corrupção: acordem, acordem! E recordem...


O resultados conhecidos da operação face oculta são inequívocos e a abstenção comentarista dos políticos, como ainda ontem foi demonstrado pelo formal oposicionista José Luís Arnaut, permitem que esse vazio seja ocupado pelos grandes jornalistas de investigação que ainda temos. Seria uma boa oportunidade para o novo ministro da justiça mostrar que voltou a haver ministro no sector.


O tipo de corrupção que marca Portugal e grande parte dos países da nossa área não consegue ser detectado pelas melhores polícias. A parte visível do "iceberg", isto é, passível de provas, é bem mais ínfima do que as profundezas tentaculares de uma cultura laxista que nos entorpece. O combate é árduo, mas vale a pena e todas as forças políticas, morais e económicas não podem continuar a afastar-se do povo.


A corrupção significa compra do poder. Onde há quem esteja disponível para a venda e quem o queira comprar. A única forma de a vencermos está em deixarmos de reduzir o poder político a uma coisa que se conquista. O poder tem que ser visto como relação. Desde logo com um sistema de valores, comunitariamente assumido.


Se a partidocracia se desleixar, ela pode tornar-se na pior adversária da democracia. Se as areias movediças deglutirem o sistema, pouca diferença faz. O pior será se ameaçarem o regime. Governo e oposição, parlamento e presidente, todos, têm o dever de cumprir a respectiva missão. Doa a quem doer. Ainda estão a tempo! Acordem! E recordem Alves dos Reis...


Rede, "connection" e, consequentemente, desconfiança pública face ao aparelhismo directo e indirecto do estadão não podem continuar a disfarçar-se. PS, PSD, CDS, PCP e BE, com a colaboração de Belém e de São Bento, deveriam dar sinais inequívocos de justiça sem justicialismo e de moral pública sem choradinhos moralistas. Basta o sincero arrependimento.
Certa rapaziada da política e do negocismo ainda não compreendeu uma coisa óbvia: os valores que hão-de imperar são precisamente aqueles que o homem comum tem nas suas simples relações interpessoais e familiares. A moral é só uma. A que os vai vencer em autenticidade. Aquela que os maquiavélicos dizem ser da política, do ter razão quem vence, é amoral ou imoral....