a Sobre o tempo que passa: Não pronuncie nomes como ManelaFL e JSocrasPS. Vá de férias e leia Zweig

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

6.8.09

Não pronuncie nomes como ManelaFL e JSocrasPS. Vá de férias e leia Zweig


Quem gostar mesmo de política, deve evitar pronunciar nomes como os de MFL e de JSPS, especialmente nesta ressaca das listas, cujas trapalhadas mostram como PS e PSD são mesmo o espelho desta partidocracia que nos enreda em quezílias de mau gosto. Aliás, a última vez que votei PSD foi com Sá Carneiro. Entre cainesianos da esquerda menos e cainesianos da esquerda mais, prefiro resistir liberal, não dando para esse peditório de governos de esquerda com temperamento de direita, plenos de fantasmas e preconceitos.


Daí que tenha entrado noutras interacções. Leio, de Stefan Zweig, "A Morte de Cícero": "para um intelectual não existe felicidade maior do que ser excluído da vida pública, da vida política". Porque "todas as formas de exílio, para o homem de pensamento se tornam espora para profunda reflexão" (Zweig, sobre Cícero).


Porque um político pode assumir a "res publica" como vive a "res privata". Pondo esta acima daquela, isto é, acabando com razão de Estado... Melhor: subordinando a razão de Estado a um Estado-razão, o principado à república... Cícero, sempre! O Cícero de Stefan Zweig: que "combateu em Catilina a anarquia, em Verres a corrupção, nos generais vitoriosos a ameaça da ditadura".


Há os que querem conservar o que está. E os que querem conservar o que deve-ser. Os reais conservadores, isto é, pós-Burke, vieram depois dos progressistas e dos revolucionários... Porque a revolução mentiu!


A revolução é nostalgia de voltar atrás, à pretensa pureza primitiva, imaginada pela falsa ciência. O conservador, coisa diferente do reaccionário, quer apenas uma revolução evitada (Arendt). Mas também há utopistas do passado, alguns conservadores da secção tradicionalista, como girondinos ou ecologistas à velho PPM. Apenas existem para provocação ao presente, malhando nas degenerescências...


Nunca houve conservadores à Burke em Portugal, à excepção de alguns vintistas e mindeleiros. Ou melhor: foram todos instrumentalizados pelos reaccionários e pelos vanguardistas. Por mim, não quero perder mais uma vez em Alfarrobeira! Porque tão conservador é Alegre, à procura do Manuelinho de Évora, contra os ministros do reino por vontade estranha, como um outro que diga que D. Sebastião não morreu. Como eu. Porque ainda falta o Quinto Império do poder dos sem poder...


Ser conservador é continuar a escrever o livro do desassossego. Que os autênticos, persistam na procura! Mas contra todos os absolutismos. Os do Estado Moderno e os do povo absoluto, entre Luís XIV e Robespierre, contra pombalistas e jacobinos. Porque até a virtude precisa de limites (Montesquieu)


Eu cá ainda digo que sou conservador, mas do que deve ser, mesmo quando o não estou, por me assumir contra o conservadorismo do que está. E sendo e não estando é como normalmente sou.