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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.7.08

Estes bailados da madailização do bloqueio central


Acordo para mais um dia feito daqueles beneditinos exercícios de mais de uma centena de testes para classificar, um a um, letra a letra, dado que, segundo o ilustre juízo dos meus burocratas-mores, não há possibilidade de recrutamento por concurso público de especialistas na matéria que serviu de pretexto ao exame, isto é, as crises do século III e do século XVI e as consequências na administração pública, segundo a perspectiva weberiana. Os "copy and paste" da "Wikipedia" e as fotocópias para lentes não resolvem este pequeno-grande problema de chouriçadas curriculares, ditas bolonhesas, como muita massa e escasse carne, cheia do molho discursivo do reformismo modernizante, com que repetimos as tolices da Grande Depressão, certos que, de Coimbra, não nos vai chegar um endireita que nos acabe por punir com o chicote da viradeira.





Entre 1926 e 1929, os portugueses não tinham que se inebriar com as discussões da futebolítica, especialmente com a febre da segunda-feira. As tais que implicam análises daqueles ilustres administrativistas que se reservam quase exclusivamente para a parecerística e para a avença, sujeitas a IRS, à excepção do Professor Marcelo que, por ser do Sporting de Braga e do PSD, já disputa o lugar de comentaário boeliro aos nossos queridos José Eugénio Dias Ferreira, Fernando Seara e Guilherme Aguiar, também todos do PSD, fazendo com que o pedibola largue a dimensão autárquica e entre nos grandes negócios de Estado.

Reparo também como o António Costa, que era supremo comandante dos bombeiros nacionais quando era Ministro da Administração Interna, volta aos incêndios, agora dos prédios devolutos da cidade de Lisboa, mas com dois secretários de Estado ao lado, fazendo de emplastros para as câmaras televisivas e sem direito a entrevista. Pelo menos, ficámos a saber que, só na capital, há mais de quatro mil prédios devolutos e que cerca de seis centenas entre eles pertencem ao senhor Estado que também não resiste à tentação da especulação imobiliária. Por outras palavras, as sequelas das várias leis dos senhorios e dos arrendamentos, desde a de Bernardino Machado, por causa da Grande Guerra, deixaram Lisboa como se fosse uma cidade bombardeada. E com tantos especialistas em inquilinatologia, parece que ninguém quer inventar o que já está inventado nem descobrir o que já está descoberto. Basta dar um salto a Londres, depois da Segunda Guerra Mundial, ou a Berlim, depois da reunificação, para compreendermos a urgência de leis especiais, que nos libertem da antiquada disputa entre a associação de proprietários e a associação de inquilinos, agora com a intervenção de Helena Roseta e Manuel Salgado.






Um qualquer Gonçalo Ribeiro Teles que é tradicionalista, mas com saudedes de futuro, já escreveu as frases todas que hão-de salvar Lisboa. Basta passá-las para letra de lei de emergência nacional, mesmo que a legião dos dilatores processuais percam pareceres e avenças, antes que venha um qualquer déspota iluminado do ministerialismo que nos decrete em desse terramotos do rolo unidimensionalizador que nos rotundize...

Se continuarem estes bailados da madailização do bloqueio central que nos desgoverna, nem os partidos do Bloco Central se safam, mesmo que coloquem a Drª Mizé Morgado a limpar-nos de apitos ou o Doutor Saldanha Sanches a falar na corrupção das autarquias. A não ser que acreditem que o único D. Sebastião capaz de livrar-nos da presente ditadura da incompetência se chame Ministro das Obras Públicas, acumulando com a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Só que seria trágico dizermos que o Duarte Pacheco se chama Mário Lino ou que o José Sócrates se iria vestir de Sebastião José de Carvalho e Melo, inundando-nos de um festival de arquitectura, mesmo que pusesse assinaturas nos projectos de Siza Vieira...






Nem sequer a leitura daquelas verdades de Monsieur de La Palisse, constantes do documento da SEDES, essa central de ex- e futuros ministros, secretários de Estado, juízes do Tribunal de Contas e gestores das companhias de economia mística, banco-burocráticas, nos consegue excitar. O documento agora emitido apenas repete o óbvio, já transmitido pelos comentadores independentes: confirma-se que, um quarto de hora antes da crise, já havia sinais de crise.



Quanto à terapêutica do que parece ser crise, não de meros choques petrolíferos, mas de mudança de paradigma da inevitável globalização, tanto o discurso da SEDES como o dos situacionistas aflitos, nunca usa termos como cidadania e bem comum, porque não consegue perceber que a governança que temos disponível, é mera pilotagem automática, onde os pretensos governantes do Bloco Central, tanto os socratinos como os maneleiros, têm um défice excessivo de imaginação criadora, talvez porque são meros agentes de duas grandes multinacionais europeias de que são simples secções de bons alunos nacionais, sempre à procura de um elogio do "porreiro, pá".



Como a maioria dos factores de poder não é nacional, há que nacionalizar esse bem escasso chamado polítca, através do habitual recurso dos tempos de crise que é a vontade de sermos independentes e de, através, da cidadania, evitarmos que a democracia se transforme em democratura, como o ameaçam os neofeudalismos do desespero reinante e do crescimento do indiferentismo. O principal da crise tem a ver com a falta de políticos de confiança, desses que podem ser capazes de encher a democracia de povo, tanto o que anda em protestos nas ruas, como o que está silencioso no recato do lar ou vai, apesar de tudo, conversando "face to face", com os vizinhos, que é palavra que vem de "vicus", aldeia, e que não pode continuar a ser traduzida por "pagus", quando o discurso oficial e oficioso do estadão passou a chamar "pagão" ao aldeão que resiste ao rolo unidimensionalizador