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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.7.08

Entre apitos e furacões, madonas e mádis, o grande espelho da nação enrodilhou-se em jogos florais...

Foi no meu refúgio do Valbom dos Gaviões que recolhi os discursos do estado da nação, ou, dito à maneira de Salgueiro Maia, os discursos sobre o estado a que chegámos, depois de tantos encómios de estadão, entre belos acordes de música celestial e outra tanta retórica de justificação do poder. Porque, ainda anteontem, confirmei, na SIC, que o anti-optimismo de Medina Carreira quase coincide com as análises realistas, simpáticas para o situacionismo, da autoria dos economistas Campos e Cunha, Nogueira Leite, Silva Lopes e Ferreira do Amaral. Entre apitos e furacões, madonas e mádis, o grande espelho da nação enrodilhou-se em jogos florais.



Ai das grandes instituições, quando as chefias são assaltadas para que os pequenos homens disfarcem a respectiva mesquinhez. Ai do Estado se voltar a ser tema para um improviso de "l'État c'est moi", porque se eu pudesse dar, mais dava, com grandes propagandistas que glosam a metáfora da folha A4 e não seguem os conselhos dos sábios, entretendo-nos com as minhoquices que vão fazendo e prometendo, como a do grande mágico que nos prometeu fazer desaguar o Amazonas no Tejo, em alta velocidade.



Está caduco o velho manual do como ganhar eleições, proclamando-se, com ar grave e solene, que "nós somos honestos". Na história de Portugal, não consta o Robin dos Bosques, mas o Zé do Telhado e as consequências da Maria da Fonte e da Patuleia, contra os devoristas e os cabrais.



O que ficou foi este regime mercantilista da viradeira, já pós-revolucionariamente pós-pombalista, pós-afonsista, pós-soarista e pós-cavaquista, onde abundam as grandes companhias de economia mística, aquelas que, agora, querem privatizar os lucros e nacionalizar os prejuízos, através desses novos caminhos de ferro do fontismo que são os regeneradores investimentos em obras públicas, para gáudio dos partidos-sistema do Bloco Central, essas federações de grupos de interesse e de grupos de pressão que discutem se o matrimónio é uma fábrica de procriação, para que D. Policarpo possa optar.



O ficou foram os milagres de Lurdes sobre a matemática rodrigues e o grande administrativista Freitas do Amaral, a preparar madailicamente um manual de direito de grandes penalidades e apitos, com reedição do guia das assembleias gerais, que não sejam RGAs do PREC, para uso do confronto de Sócrates com Louçã. Porque, entre jantaradas de geopolítica e croquetes de embaixada, qualquer profano pode ascender em 24 horas ao grau supremo, em cerimónias sem ritual que traduzem em calão as procissões funerárias que comemoram a reconquista cristã de Alcagaitas à moirama. Volta, Marquês, que eles já cá estão outra vez!