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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.6.08

Sobre Portugal, pode-se afirmar que é o menos europeu e, ao mesmo tempo, o mais europeu dos países europeus


Depois de 48 horas de info-exclusão, só porque o Kanguru ainda não conseguiu dar o salto para as Flores e o Corvo, apenas uma frase de uma jovem açoriana de 25 anos, durante uma visita aos Estados Unidos: "sobre Portugal, pode-se afirmar que é o menos europeu e, ao mesmo tempo, o mais europeu dos países europeus" (Natália Correia). Apenas digo que ainda ontem vivi essa observação fisicamente, sobretudo quando, depois de uma travessia num frágil semi-rígido, desembarquei naquela ilha do Corvo que Mercator escolheu para meridiano anterior ao de Greenwich, porque, no seu tempo, a agulha de marear não sofria nenhuma declinação. E mais emocionadamente o pensei, quando a pátria, das malhas que o império teceu, construiu um recente monumento, em Vila Nova do Corvo, em memória de dois soldados corvinos falecidos em combate, lá mais longe, em Moçambique. Daí ter lido, neste mais Portugal do grande mar-oceano, a "Relação breve da grande e maravilhosa vitória dos moradores da ilha do Corvo, contra dez poderosas naus de Turcos. Anno MDCXXXII". Porque, eu, português coimbrinha, também sei de Isabel de Aragão, a rainha santa que nos introduziu o quase herético culto do Espírito Santo e que, também perto da minha terra, na serra do Açor, há uma Santa Maria dos Açores, invocação que deu nome ao arquipélago, por causa da primeira ilha descoberta, tal como as doze estrelas da Europa vêm de um vitral da mesma invocação mariana, que ainda está na catedral de Estrasburgo, símbolo que o próprio Padre António Vieira usou para bandeira do quinto-império do poder dos sem poder que aqui foi comunitariamente assumido, neste paradoxo da pátria amada, azul de mar, com lágrimas de sal. E não foi um acaso, tudo ter sido cumprido pelo grão-mestre daquela Ordem dos Templário que o consorte de Isabel de Aragão, el-rei D. Dinis, transformou em Ordem de Cristo, nestas encruzilhadas de um espírito que nos continua a dar alma atlântica.