a Sobre o tempo que passa: Falta consciência, estratégia nacional e patriotismo científico, dominando o concentracionarismo dos interesses negocistas...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.6.08

Falta consciência, estratégia nacional e patriotismo científico, dominando o concentracionarismo dos interesses negocistas...


Lá foi mais uma aulinha, nesta vida de professor, onde os burocratas do controlo administrativo da nossa vidinha de funcionários do ministério gago, não nos contabilizam as longas horas diárias em que investigamos ,e as muitas outras de prestação de serviço à comunidade, sem avença nem senha de presença, mas com muita honra e certa liberdade académica, que é uma prima da liberdade de expressão e uma filha da criatividade. Ontem foi na Academia Militar, hoje na "Visão", na "Sábado", no "Meia Hora" e na "Rádio Renascença", amanhã na Autoridade Nacional de Segurança e na Universidade Lusíada, só para que o secretário do secretário do secretário vírgula tantos do regulamento inspectivo entenda o que é universidade voltada para a coisa pública e sem necessidade da rolha do temor reverencial, do oportunismo carreirístico e da cobardia cinzentona dos engraxadores do chefe.


Recordo que ontem, no debate, lá repeti o velho clamor de Ezequiel de Campos, em torno da urgência da organização do trabalho nacional. Este autor que não deve ser citado pelos pretensos engenheiros sociais que nos reformam em desorganização e andam em altas cromices pelos inas, bem devia ser recordado. Aliás, também ontem, perante uma plateia de militares, lá recordei que um dos nossos principais problemas estava no concentracionarismo que marca o interior da "black box" da nossa governança. Porque se os "outputs" passam pelo ambiente e se transformam "inputs" quando penetram no interior da máquina administrativa espatifam-se com pouco "feedback", face à ausência de uma estratégia nacional sustentado num estado-maior adequado que permita a retroacção da informação. Aquilo que os velhos teóricos do sistemismo qualificavam como "conscience" e que antigamente nos era dado pelo patriotismo científico das universidades, das igrejas, da maçonaria, dos grandes corpos de Estado e das forças armadas. Os tradicionais centros de memória e de valores que davam autonomia e identidade à comunidade nacional.


Quando chegaram os "jobs for the boys" e a alternância dos "boys for the jobs", começou o trabalho de sapa de destruição destas bases de resistência, em nome de uma pseudo-modernização de revolucionários frustrados com muitas traduções em calão. Os tais que se vão sucedendo em confrontos dilacerantes entre o partido dos funcionários e o partido dos fidalgos, permitindo o triunfo dos predadores da colonização exógena, desde os tradicionais interesses dos velhos imperialismos continentais europeus aos multinacionais difusos da nova república imperial, num país onde as pretensas elites já chegaram à conclusão que o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido. Outros lá andam metendo cunhas para entrada como gestores públicos ou consultores das multinacionais do "outsourcing" com quem contratam fornecimentos.


Aplaudo, pois, a corajosa intervenção do social-democrata Alfredo Barroso, ontem na SIC-N, quando denunciava os enredos dos tradicionais negócios do Bloco Central, bem como a usurpação dos partidos pelos advogados de negócios, concluindo que, por mais denúncias, acabará sempre por triunfar essa consequência doneosituacionsimo, chamada política das águas de bacalhau. Coisa semelhante à luminosa decisão da nova autoridade dita da concorrência, recentemente nomeada pelo ministro Pinho, assim se comprovando como as entidades reguladoras não podem ser efectivamente independentes, porque não assentam no clássico princípio da burocracia racional-normativa que era a carreira do "civil service". Por mim, que não acredito em bruxas, apenas devo concluir que "las hay, las hay". Até posso repetir Galileu, confessando perante a inquisição que a terra não gira à volta do sol, mas que se move e move. Porque o mundo gira e os interesses se movimentam, sobretudo quando somos marcados pelo crepúsculo decadentista das crises políticas e das anunciadas mudanças dos futuros feitores dos ricos...