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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.5.08

Prometo que já deixei de fumar há uns anos, mas que bem apetecia, agora, uma cigarrada oposicionista, nesta varanda voltada para o Tejo


Quando o autoritarismo pseudo-moralista dos salazarentos ainda mexe na política e na academia, mas esfumando-se em reles cobardia, lado a lado com os estalinistas que se diluem no carreirismo e na procura do tacho, prefiro reconhecer a atitude de gajo porreiro, com que um dia qualifiquei José Sócrates. Porque essa de prometer deixar de fumar, é d'homem, carago! Apenas o aconselho a estudar os mínimos de Estado de Direito e de Estado de Legalidade, nomeadamente o princípio geral, até aplicável em ditadura, segundo o qual a ignorância da lei não serve para pedir desculpa.

Reparo apenas que Jardim meteu a viola no saco da sua microgovernança autárquica, que Menezes não se lhe seguiu nos apoios, preferindo ir a uma jantarada com o homónimo do seu antigo líder parlamentar, e que tudo como dantes, com Miguel Relvas fora de Abrantes, a mostrar que ainda mexe. Por cá, lá dei uma aulinha e ainda meti conversa com um alto hierarca universitário que me confirmou que, na prática, o choque reformista de Gago, depois de traduzido em conservação sistémica dos corporativismos e mandarinatos vigentes, só começará a aquecer nos começos do próximo ano lectivo e que posso passar as minhas férias sem me preocupar com a emergência dos novos-velhos donos do poder, com muitos discursos sobre o bem comum e a salvação pública, em ritmo de ofício e nota oficiosa.


Entretanto, pelos meandros da fauna onde circulo, está tudo mais interessado em saber o que aconteceu ao respectivo pedido de bolsa. E não me farto de os aconselhar para que arregimentem um qualquer profe das estranjas, bem cotado entre o painel, mesmo que ele não diga nada e nunca tenha sido visto, ou então, o parecer de um desses "opinion makers" sistémicos que nada sejam em termos académicos, mas com a hipótese de voltarem à ministerialice. Porque o que interessa é garantir a implantação das "policies" não declaradas pelos hierarcas das entidades oligárquicas, as tais que pretendem monopolizar o conceito de instituto dito de alta cultura, a que agora se chama laboratório estadual associado. Porque, mesmo com o nome de ciência verdadeiramente científica, o que interessa é a burocrática distribuição autoritária de valores, ao serviço da eterna dedução cronológica e analítica em que o socialismo vigente se vai pombalizando, sem qualquer "ratio studiorum".


Por mim, bem me lembro dos termos em que rejeitei o convite do Primeiro-Ministro Durão Barroso, quando me sondou para a alta hierarquia distribuidora da ministerialice científica. Foi com os mesmos argumentos com que não aceitei os convites do guterrismo para consultadoria na reforma das prisões ou do plano nacional da água. Exactamente os mesmos que me levam a excluir do "curriculum" o ser académico de número e ex-secretário-geral de uma academia formal, integrada no Ministério da Cultura, ou a não ter incluído no cartão de visitas, que também não tenho, funções de ilustre coordenador pedagógico e científico de uma veneranda instituição estatal. Prefiro a solidão criativa do viver como penso, sem ter de pensar como vivo, ou sem ter que aturar certos figurões do estadão...