a Sobre o tempo que passa: Os principais culpados da escravatura são os escravos que não se revoltam, como já dizia Beaumarchais.

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.5.08

Os principais culpados da escravatura são os escravos que não se revoltam, como já dizia Beaumarchais.


Lá vi quase todo o debate dos quatro candidatos de um partido, bem representativo de certo Portugal dos Pequeninos com a mania das grandezas, os tais artistas mediáticos que se sujeitaram ao imediato comentário de Vasco Pulido Valente, sem direito a réplica. Tudo aconteceu quando os números do sismo chinês apontam para a morte de um drama equivalente ao súbito passamento de todos os habitantes de uma cidade média portuguesa, quando também ficaram sem tecto tantas pessoas quantas as que poderiam ser mais de metade da população portuguesa. Ao mesmo tempo, reparamos que, na África do Sul, a república de Mandella, há massacres anti-estrangeiros, no que uns qualificam como racismo e outros, como xenofobia, quando o governo lá do sítio, dito de esquerda, fala em manobras da extrema-direita. Pelo menos, não tem havido notícias de mais atentados terroristas no Iraque...


Felizmente que, em Portugal, a situação e a oposição são mesmo de esquerda, e há muitas décadas, desde que domina o politicamente correcto dos revolucionários frustrados do Maio 68, os tais que se entusiasmam com premiados filmes de Che Guevara e agora detestam o "Tirofijo". Os discursos prometem.... Mas sempre em sucessão de oportunidades perdidas, porque, conforme estatísticas recentes, continuamos a ser o país da UE com mais disparidades sociais, apesar dnotas oficiosas e decretinos preâmbulos com inúmeras boas intenções socialistas e sociais-democratas. Estou farto dos preconceitos de esquerda e dos fantasmas de direita. Esta sociedade de casino já não consegue dar música celestial ao lema de Guizot do "enrichez-vous". Nem com uma mais meticulosa candidata a ser boa aluna do comissário Almunia que nos desgoverna, para que o porreiro pá continue comissário.

Vale-nos que o "agenda setting" das candidaturas do PSD manda falar na necessidade de acabarmos com os novos pobres, quase repetindo uma velhinha argumentação que notava a existência de uma nova questão social, conforme os não revistos manuais de campanha eleitoral de outras realidades europeias. O pós-moderno já cheira a bafio. O cavaquismo é o pai do socratismo e todos se cruzam na Galp, entre ex-ministros e ex-assessores de primeiros-ministros, do PS e do PSD, porque o Bloco Central, como o grande partido da mitificada classe média, acabou por ser usurpado pelos novos ricos que têm sido donos do poder, mesmo agora, quando a mesma média classe se proletariza com os impostos que pagam os vencimentos e as reformas dos que conquistaram o poder.

Vale-nos que as massas são arrastadas para Viseu, para os discursos de Scolari e para as conferências de imprensa da madailização, onde os anúncios da petrolífera de bandeira põem os lusitanos de Viriato a empurrar um autocarro, quando a crise do petróleo amedronta o consumidor e as regras do jogo da globalização especulam com o preço dos bens alimentares, condenando à fome cerca de metade da humanidade. O desenvolvimento sustentado é uma treta. A nossa encruzilhada decadentista está para durar, mesmo sem lavar. Resta-nos seguir o trilho de Cadilhe e ir para o BPN, ou o de Paulo Teixeira Pinto e fazermos estágio para ministro de cultura da direita de sempre. O socratismo não passa de um subcavaquismo retroactivo e o PSD que resta tenta copiá-lo. Chama-se ASAE e EMEL, os símbolos dos "Statejackers" da classe média baixa, proletarizada, a tal que está prestes a recorrer ao SOS do rendimento mínimo garantido.

A nova questão social é haver cada vez mais ricos e cada vez mais novos pobres, com cada vez menos ilusões nesta sociedade, onde PSL pensa que tem uma quinta eleitoral de dez por cento e Paulo Portas, uma reserva de índios de cinco por cento, para que o resto do meio fique no mais do mesmo e o PCP e o BE atinjam a europeia média dos vinte por cento. Somos, na União Europeia, a lanterna vermelha das desigualdades sociais e quem as fez, ou permitiu, não se envergonha nem pede desculpa pela falta de autenticidade. Esperemos que, desta, o povo não lave as mãos para que eles durem. Os principais culpados da escravatura são os escravos que não se revoltam, como já dizia Beaumarchais. O Vieira já arranjou novo treinador. Tenhamos fé!