a Sobre o tempo que passa: Entre Santana Lopes e o preço do arroz em Bissau

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.5.08

Entre Santana Lopes e o preço do arroz em Bissau


Mais cem mil nas ruas de Lisboa contra o governo. Mais uma grande entrevista com um grande candidato à liderança do PSD. Mais um programa festivaleiro de redução do abrilismo aos unitários antifascistas da frente popular que não houve, mas que acabaram de negar um voto de pesar pelo Cónego Melo. Mais sondagens confirmando que o PS e os partidos mais à esquerda teriam hoje o maior resultado de sempre, transformando a maioria de direita que elegeu Cavaco num ridícula minoria. Porque Zapatero e o PSOE espanhol são esmagadores, mas já não são significativos os comunistas entre "nuestros hermanos".


Porque a esquerda perdeu as eleições em França e em Itália. Porque na Grã-Bretanha os conservadores estão confortavelmente prestes a ganhar as eleições. Porque Portugal continua em contraciclo. E desta feita não há fundos estruturais que paguem o ruinoso "Welfare State" com que traduzimos em calão atrasado os modelos do imediato pós-guerra dos nossos parceiros.




Volto ao programa das canções da RTP-Memória com a Ermelinda Duarte e a Luiza Bastos, quase à maneira da Festa do Avante e noto como, nestes últimos trinta anos, com governos maioritariamente de esquerda, acabámos por não acompanhar os ritmos de justiça social e de criação de riqueza dos nossos parceiros europeus, apesar de sermos o país político mais à esquerda da europa, onde a esquerda é socialista democrática e a direita, social-democrata. E até poderíamos continuar a entoar baladas e canções de protesto contra o autoritarismo, protestando contra muitos sinais de autoritarismo de governos de esquerda como este.



Por isso, recolho notícias sobre o drama do PSD. Hoje, ao almoço, um jovem campanheiro menezista informava-me que PSL tinha as estruturas todas com ele. Ouvi. De repente, passou um ex-deputado do PSD, ainda há pouco entusiasmado com Menezes, como, antes, estava com Santana, e questionei-o sobre o voto: Manela, evidentemente! Porque as directas não são congressos de aparelho, desconfio que PSL consiga convencer o eleitor PSD da injustiça dos barões assinalados, coisa que só os activistas entendem.


Logo a seguir, outro PSD, todo ele santanista, me confidenciava a última teoria da conspiração que atravessa messianicamente o maior partido português: os cavaquistas querem alterar o processo político português, estão à espera de um motivo para a dissolução, à maneira de Sampaio e já têm disponível o nome de um potencial ministro executor: Alexandre Relvas. E lá esbocei mais um sorriso de tédio, perante as desditas de casa onde não há votos, onde muitos ralham e quase nenhum tem razão.


Optei preocupar-me com outras globalidades, conversando longamente com as desditas da Guiné, com um fula e um mandinga, ambos indignados com o risco de Narco-Estado que dá falta de repeitabilidade a Bissau. E lá nos preocupámos com o aumento do preço do arroz e com a falta de espiritualidade que a globalização pouco feliz trouxe ao mundo. Até falámos no Papa e nas confrarias islâmicas que tentam recuperar os tradicionais valores que marcam estes enredos politiqueiros das nossas pátrias. Especialmente em dia de ponte, onde os alunos e os professores compareceram em massa, cumprindo o respectivo dever.