a Sobre o tempo que passa: Continuaremos a mirrar asfixiados neste funil situacionista que continua a proibir a imaginação

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.5.08

Continuaremos a mirrar asfixiados neste funil situacionista que continua a proibir a imaginação


Muitos, como eu, estiveram até às tantas da madrugada, agarrados à futebolítica do "prós e contras", esquecendo a campanha eleitoral do PSD, dado que o major tem mais piada que o alberto joão e ninguém tem pachorra para as meditações macheteiras do nosso bloqueio centralão, onde notáveis treinadores de bancada correm o risco de levar o maior partido político português à disfunção, se os circuitos da decisão ficarem entupidos entre aqueles que foram ministros, desejando deixar de o ser, e os que, querendo ser como os primeiros, sonham apenas em ser ministros, apenas para que, depressa, deixem de o ser.


O PSD, como espelho da nação, assiste a este regresso da fauna dos barões assinalados, permitindo-nos concluir que se aproxima cada vez mais dos apitos finais e doiradinhos de um regime que entrou no sistema das habituais decadências, dado que preponderam as habituais brigadas do reumático mental, esses que sabem, de ciência por fazer e subsídio absoluto, a impossibilidade emergente de um qualquer movimento de capitães. Logo, sobre o PSD, apenas fico triste em ver como milhares e milhares de esforçados militantes correm o risco de servir de carne para almoço comemorativo desses caldo de interesses que põe os cotas e os jotas a servir de campo de manobras para a gentalha de alcatifa que usurpou os restos de autenticidade do partido de Francisco Sá Carneiro.


Esta última epifania de certo cavaquismo do "a posteriori" talvez constitua mais um dos cantos de cisne de certa direita lusitana que, envergonhadamente, pede à respectiva sociologia que se dilua sob o bordão de uma tecnocracia descrente que já perdeu direito ao sonho e o sentido do risco. Ainda não percebeu que foi o exagero dos preconceitos de esquerda ocupantes do aparelhos ideológicos que produziu o desespero do populismo direitista. O poder continua a medir-se pelo esquema do homem de sucesso, pelo que me fico soterrado pelo magnífico discurso de Barroso a receber as chaves da cidade de Lisboa e prefiro não mais comentar nominativamente as candidaturas laranjas, até porque posso cair involuntariamente no pecado do óbvio divisionismo.


Aliás, ainda há dias, conversando com um conhecido ex-militante da extrema-esquerda, hoje assente na sua gravatinha de director-geral do sistema, por nomeação cavaqueira, mas de companheirismo PS, olhando para o dito cujo, tão bem assente no discurso da supremacia institucional do situacionismo, mas com a arrogância de ter sido revolucionário, verifiquei que o dito estava a apoiar uma das candidaturas do PSD, para se vingar de uma qualquer que o Sócrates lhe tinha feito e para lhe tirar a maioria absoluta.


Logo, não me apetece continuar a alimentar esta dialéctica dos preconceitos de esquerda contra os fantasmas de direita, desses que vivem de uma omnisciência assente nos tradicionais pés de barro, onde os "pré-captos" (preceitos) dos respectivos óculos ideológicos não os deixam ver um boi à frente dos palácios onde estacionam as respectivas viaturas oficiais. Tal como os seus adversários dogmáticos do antigamente, os presentes neodogmáticos são como os macacos orientais, que já não querem ler, que já não querem ver e que já não querem ouvir.


Circulam de preconceito em preconceito e querem transformar o resto de conceitos do respectivo marxismo imaginário num preceito salazarento e lá vão indo, de decreto em decreto, até ao esquecimento final, enquanto, resfolegando de soberba, tentam limpar, com a lixívia da literatura de justificação, a que chamam memórias, as velhacarias inquisitoriais que vão, dia a dia, produzindo, enquanto tomam chá com os ministros de Salazar, prebendados pela cobardia. Vivam os pezinhos de esquerda da cavaqueira situação. Assim continuaremos a mirrar asfixiados neste funil situacionista que continua a proibir a imaginação.