a Sobre o tempo que passa: Baralhar e dar de novo, entre fumaças e Cícero. Porque nem tudo o que é lícito é honesto...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.5.08

Baralhar e dar de novo, entre fumaças e Cícero. Porque nem tudo o que é lícito é honesto...


Com Sócrates e Pinho, apanhados com cigarrito, no voo que os levava em visita oficial à Venezuela, tudo foi inteiramente lícito, dado que o príncipe nem sequer precisou de usar o absolutista princípio do "princeps a legibus solutus". Apenas se confirmou o bem pregas Frei Tomás da falta de autenticidade de certos políticos profissionais, coisa que apenas se situa no plano moral. Daí que ligue a matéria à audição, ontem ocorrida, no parlamento, dos grandes do BCP, e deseje que não surja o terceiro princípio do absolutismo, segundo o qual, o que o príncipe diz tem valor de lei, sem forças de bloqueio... Sim, claro, a empresa de meios aéreos cumpriu rigorosamente todos os preceitos legais, o nosso primeiro, o fumante, também. Não leram Cícero, o tal que bem nos avisou: nem tudo o que é lícito é honesto...


Reparo que, hoje, Alberto João, vai quebrar o tabu da pescada, da tal que antes de o ser já o era, quando a questão não está na Dona Manela ou nos dois Pedros que restam. O problema não é apenas do PSD, mas da globalidade do sistema partidário, onde somos o país mais à esquerda da Europa Ocidental, com sondagens revelando que os ex-sovietistas mais a extrema-esquerda são quase 20% e a direita, quase toda, se diz ideologicamente social-democrata. Logo, é inevitável que se apontem caminhos para uma reengenharia sistémica. Não leram Cícero, o tal que bem nos avisou: nem tudo o que é lícito é honesto...


Depois desta campanha, pode acontecer que o PPD entre em confronto com o PSD. O grupo populista pode ficar farto e avançar para um PPD-PSL, dado que, garantidamente, tem cerca de o dobro dos votos do PP-Paulo Portas e até pode recolher apoios no pós-fascismo, bem como monteirismo e noutras navegações do mesmo teor, bastando recordar o episódio dos estados gerais ditos da direita, organizados pelo Professor Paulo Otero, onde Santana Lopes foi o principal discursante. Não leram Cícero, o tal que bem nos avisou: nem tudo o que é lícito é honesto...


Se outra for a decisão do eleitorado PSD, pode ser que os barões do Bloco Central caiam na tentação de um verdadeiro partido do centro, capaz de conversar com um PS que não queira alinhar com os seus canhotos, na mobilização dos que, em sondagens, dizem que votarão no Bloco de Esquerda. Resta saber o que vai fazer o velho PC, sujeito à boa gestão de Jerónimo de Sousa e com a hipótese de ser reforçado por Carvalho da Silva, dado que o Nogueira dos professores pode substituir este último na CGTP. Não leram Cícero, o tal que bem nos avisou: nem tudo o que é lícito é honesto...


Tudo depende do povo nas próximas eleições. Tudo depende do que vai acontecer à carteira do eleitor médio. Tudo depende da imagem que a nova liderança possa transmitir, nomeadamente se conseguir vender a boa ideia eleitoral de um Estado Social conservador, capaz de reduzir o diabo do défice, mas sem afectar os direitos adquiridos dos funcionários públicos, dos professores e de outros blocos sociais corporativos que as más reformas do PRACE lançaram contra Sócrates, depois de venderem o mesmo produto à Madeira natal do jardinismo. E, sobretudo, tudo também pode depender do intervencionismo de Cavaco, dado que o Presidente já não vai alimentar o estado de graça do primeiro fumador, dando-lhe cobertura em medidas eleitoralistas, contrárias às boas práticas financeiras. Não leram Cícero, o tal que bem nos avisou: nem tudo o que é lícito é honesto...