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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.4.08

Chegou a hora da mistura de Alves dos Reis com Salazar, onde Keynes continua a ser glosado, para que o Zé continue a pagar, neste mais do mesmo


O presidente da distrital de Lisboa do PSD, cargo já exercido por Manuela Ferreira Leite, com íntima colaboração de António Preto, veio hoje entusiasmar-se com a hipótese de candidatura de Alberto João Jardim. Este, ainda há dias proclamava: Um general só deve ir à batalha quando tem tropas. Não tenho tropas no Continente, nem ninguém me pediu sequer para avançar. Nestas coisas, não se avança por iniciativa própria. Por outras palavras, prognósticos, só quando começar mesmo a corrida, entre um populismo que se quer neo-sá-carneirista e um neo-keynesianismo neo-cavaquista, com todos olhando para o retrovisor.


O problema está na circunstância de os principais factores de poder já não serem nacionais. De os problemas económico-financeiros se resolverem apenas com medidas económico-financeiras, mas não apenas com medidas económico-financeiras. E de não bastar que Menezes gostasse de copiar Sarkosy, Santana, o Berlusconi e Sócrates, o Zapatero. Agora, Sócrates pode vir a ter a oposição de direita que não lhe convinha, dado que a outra face do Bloco Central pode inverter a imagem do Deus-Défice e apresentar-se como o bom aluno de Almunia e de Durão.


De qualquer maneira, parece que tinha razão Armindo Monteiro, na sua tese de doutoramento, quando dizia que a história de Portugal é a história do défice. E o consequente recurso a pretensos magos financeiros, ou a utilização do prestígio da velha ditadura das finanças. Até recorremos a uma bisneta do chefe do governo José Dias Ferreira, enquanto no tribunal de Contas está o homónimo e parente do ministro da fazenda do mesmo professor de direito.


A ministra das finanças de Cavaco e de Barroso, já violentamente contestada por Mira Amaral, com a imagem de dama de ferro do orçamento, foi a criadora desta criatura que vai enredando Sócrates. Por outras palavras, com Manela ou com o populismo anti-manela, o PSD ameaça vir a caçar no terreno de Sócrates, remobilizando a esperança das vítimas do PRACE, bem como dos deserdados das reformas por cumprir, de funcionários públicos a professores, dos centros de saúde às universidades, esmagados pelo "outsourcing" e pelo "off shore" dos pretensos "choques tecnológicos".


E como o povão vive entre o tudo e o seu nada, entre a queda para o autoritário e a contraqueda para o diálogo, entre a austeridade e o laxismo, pode chegar à conclusão que o nem carne, nem peixe, do situacionismo governamental, cumpriu o seu ciclo e que chegou a hora dessa mistura de Alves dos Reis com Salazar, onde Keynes continua a ser glosado, para que o Zé continue a pagar, neste mais do mesmo, onde continua a faltar um golpe de asa. Aliás, ninguém repara que o povo, hoje, através do parlamento, vai aprovar o Tratado do Mar da Palha, entre hossanas do PS e do PSD e o sim-senhor do CDS...