a Sobre o tempo que passa: Corrupção 9 - o Estado a que chegámos, apesar de ser grande demais na subsiodiocracia e na empregomania, não é suficientemente forte para a combater

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.1.08

Corrupção 9 - o Estado a que chegámos, apesar de ser grande demais na subsiodiocracia e na empregomania, não é suficientemente forte para a combater


E mais disse:


Um grupo de pressão é um grupo de interesse que exerce uma pressão. Quando passa do mero estádio da articulação e da agregação de interesses e trata de influenciar o decisor político.


Quando larga o âmbito do mero sistema social e trata de actuar no interior do sistema político.

A pressão pode ser aberta ou oculta, exercendo-se directamente sobre o decisor ou, indirectamente, lançando-se sobre a opinião pública.

As duas principais formas de pressão oculta, isto é, não publicitada, são as relações privadas e a corrupção.

As relações privadas passam pelo clientelismo, pelo nepotismo e pela pantouflage.

A corrupção, como processo de compra de poder, tanto pode ser individual como colectiva, nomeadamente pelo financiamento dos partidos.

Porque o Estado a que chegámos, apesar de ser grande demais na subsiodiocracia e na empregomania, não é suficientemente forte para combater a corrupção, a evasão fiscal ou o indiferentismo que nos seca a cidadania.

Porque o sistema de financiamento da política, da partidocracia às campanhas presidenciais, passa pela habitual complacência do Bloco central de interesses face aos patos-bravos locais, aos lóbis das consultadorias e empresas de estudos, não deixando de passar pelos colarinhos brancos das oligarquias financeiras e burocráticas, em torno das quais circulam, em procissão, alguns intelectuais, jornalistas, universitários e homens de letras que andam de mão estendida ao subsídio ou à avença.

As plataformas giratórias que fazem comunicar a economia e a política costumam ser bem mais circunspectas do que as articulações que se têm estabelecido entre a futebolítica e os autarcas de sucesso.

E as leis que pretendem controlar a coisa chegam sempre no "day after", dado que os criadores da tipificação penal, de tanta "tradução em calão" das tabelas fornecidas pelo direito comparado, não conseguem assentar os olhos no laboratório lusitano das manigâncias.

A rede de dependências e medos vai continuar enquanto não assumirmos que em situações pós-totalitárias e pós-autoritárias, mesmo depois de se eliminarem os aparelhos visíveis da repressão e da corrupção, permanecem os subsistemas de medo e de venalidade que os mesmos geraram.

Podem proliferar os micro-autoritarismos sub-estatais e modelos de temor reverencial que podem ser substancialmente agravados e fomentados

Assim, a activação dessa permanecente repressão, visível ou invisível, pode até levar a que os mesmos finjam que estão a ser vítimas de perseguições imaginárias, para que muitos caiam no engodo e alinhem num processo de instauração do espírito de seita, a que não faltam coisas como o revisionismo histórico, a literatura de justificação e o abundante recurso a milhentas hipóteses de teoria da conspiração, através de encenações cientificamente orientadas, nomeadamente pelo recurso ao boato, à difamação, à insinuação e à própria ameaça, através de um processo que seria ridículo se não fosse trágico e não gerasse amplos prejuízos pessoais a todos aqueles que não aceitam alinhar na procissão.
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