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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.10.07

PPD, a revolta que vem de baixo...


O velho PSD vai virar mais uma curva do seu caminho, varando as suas linhas de Torres. Por outras palavras, a partir da próxima semana pode emergir um Partido verdadeiramente Popular Democrático que retome a luta da província contra os capitaleiros, mesmo que tenha uma das suas principais bases na cidade capital de Portugal, até porque Lisboa sempre foi feita por subscrição nacional. Por outras palavras, chegou o mais autárquico, regionalista e futebolítico dos grandes partidos portugueses.
A questão é, aliás, clássica na história do PPD/PSD, bastando recordar a causa da dissidência de Sousa Franco, quando denunciou a fractura entre os urbanos e os rurais, acusando estes de se acantonarem no sá carneirismo. Agora, o homem de Gaia, além de ser do Sporting, ameaça tornar-se no bombo da festa de certas castas pretensamente urbanóides que pensam ter o monopólio do modelo cristão, polido e civilizado da democracia, só porque as mesmas se identificam com as classes A e B das análises de "share". Não são capazes de reconhecer que o Dien Bien Phu das directas do PSD derrotaram os tais "elitistas, sulistas e liberais".
Daí que não seja de estranhar que sportinguistas dêem as mãos a dragões, como o homem de Arcozelo, habituado aos milagres de Maria Adelaide, e a águias, como o meu amigo autarca de Sintra. Todos estes ingredientes autarcóide, mediáticos e futebolíticos, com o profissionalismo das novas agências de comunicação, serão um novo desafio para o socialismo situacionista do modelo socrateiro, se conseguirem enredá-lo nos preconceitos e fantasmas de certo Bloco Central, o que assume a imagem da aliança entre a esquerda moderna e a direita dos interesses.
Por outras palavras, os velhos manuais do argumentário político que garantiam a Sócrates mais um tranquilo passeio eleitoral, para nova maioria absoluta em 2009, podem ter que ser revistos nalguns dos respectivos dogmas, assim se confirmando como o estilo oposicionista do "ganda nóia" era, até agora, um aliado objectivo do PS. Daí que também seja fecundante vislumbrar qual vai ser a manobra que Paulo Portas vai desencadear, dado que não parece possível vê-lo retomar o investimento metapolítico de Ribeiro e Castro, quando este procurou reanimar os últimos redutos de autenticidade democrata-cristã do velho CDS.
Por mim, apenas confirmo que o lançamento deste grande Partido Popular, sob a aliança de Menezes e Santana, é coisa que não me entusiasma civicamente. Apenas confirma a falta de mobilização do novo centro excêntrico, radicalmente defensor da independência nacional, da efectiva justiça social e da imaginação dos grupos sociais excluídos por este Bloco central de interesses...