a Sobre o tempo que passa: Morreu o Fausto de Coimbra

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.10.07

Morreu o Fausto de Coimbra


Morreu o Fausto. Tínhamos a mesma idade. Éramos da mesma pequena pátria e fomos colegas na escola primária pública do Arco de Almedina, por baixo do Palácio de Subripas. Andámos no mesmo liceu e nunca os acasos da vida nos permitiram voltar a conversar nos últimos trinta anos, apesar de comungarmos em muitos valores. Eu que era um dos seus leitores, no velho Despertar, guardo para mim a pequena alcunha que lhe dávamos na escola do professor Ildefonso. Prefiro dizer que não morrerá o Fausto de Coimbra. Prefiro alinhar com os que querem que o programa de Fausto se cumpra, mobilizando vontades e, sobretudo, os coimbrinhas no exílio. Transcrevo o que proclamava num dos seus últimos artigos, contra o declínio político de Coimbra - cidade, concelho, distrito e região ...Coimbra tem pela frente marés de dificuldades. Mas este é o momento, se bem aproveitado, para abrir janelas de oportunidades. Esta é uma verdade inquestionável. E a nossa aposta. Que desejamos não seja optimista...
PS: A cadeia de amizade e de eterno que o "galinha" gerou foi impressionante. Desde o Zé Mateus aos mails que se foram trocando, mais uma vez se demonstra que os exemplos de vida têm mais força do que os tratados e os discursos. Deixo algumas palavras de um deles: Também eu não me cruzei com ele durante os 30 anos após o liceu. Minto, excepto numa cerimónia pública aquando da sua passagem pelo governo. Um abraço, só isso. Não sendo da mesma turma, como sabes, era um adversário do futebol no campo do recreio do liceu. E foi num desses jogos de turma contra turma, com o galinha à baliza, que o Couceiro, se não me engano, sem querer, lhe partiu uma perna. E de muletas lá andou por muito tempo. Mantivemos uma relação de cumplicidade política nos anos finais do liceu. Eu tratava de lhe arranjar “livros proibidos” da “Grijalbo”, da “Maspero” “D. Quixote” da “Moraes” ou da “Zahar Editores”. Era um assíduo da minha cave no ... Mas isso era no tempo, como dizia o outro, em que estávamos todos vivos. Paz à sua alma.