a Sobre o tempo que passa: O acesso ao ensino superior

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

16.9.07

O acesso ao ensino superior

Precisando o meu postal anterior sobre as contas do acesso ao ensino superior, numa área disciplinar que conheço por dentro, estive a discriminar as sete universidades públicas que oferecem licenciaturas em tal universo e verifiquei que, dos quase quatrocentos colocados, apenas pouco mais de duas dezenas o fizeram em primeira opção. Qualquer avaliação da floresta, deveria cuidar-se com um pouco bom senso e menos anúncios coloridos sobre as árvores, as ramagens e os floreados da dita. Por mim, se tivesse que dar parecer experimentado e titulado sobre a matéria, concentrava a oferta pública continental em duas ou três unidades e reduzia as vagas a cerca do dobro das vocações manifestadas, criando concorrencialidade e mobilidade de docentes, através de efectivo concurso público nacional, livre de endogamias, carreirismos e clientelismos, neste misto de mercado, proteccionismo e planeamentismo em que vamos vivendo, onde os troncos comuns disfarçam emigrações carreirísticas. O produto público oferecido poderia assim estar de acordo com a dimensão do país e atender à empregabilidade, enquanto o restante poderia ser espaço de competição para o ensino não público, marcado pela exclusividade das dedicações profissionais. Julgo que, por enquanto, uma "revogada" assembleia de representantes, da presente "vacatio legis", participada por docentes, funcionários e estudantes, mesmo que seja contra a opinião dos conselhos científicos, até pode emitir diplomas que alteram especialidades, incluindo as publicamente concursadas, enquanto também cria novos quadros de grupos de especialidades, numa pedagógica fragmentação, à custa do Orçamento de Estado, que tem funcionado segundo o ritmo da capitação. Julgo que li o tal diploma regulamentar num "Diário da República", tudo ao abrigo da lei velha, já depois da nova lei ser aprovada. Aliás, ainda ontem consultei um pequeno livro do "Forum Estudante" de 2005, onde, expressamente e com assinatura, emiti esta posição, que também repeti formalmente na comunicação que apresentei no 10º aniversário de uma dessas licenciaturas, na Universidade Nova de Lisboa. Julgo que ainda tenho direito a esta eventualmente incómoda liberdade de expressão.