a Sobre o tempo que passa: Joaquim Jorge Magalhães Mota

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.9.07

Joaquim Jorge Magalhães Mota


Morreu Joaquim Jorge Magalhães Mota. As biografias oficiais hão-de falar no fundador do PPD, no ministro, no deputado, no militante de ideias. Eu falo nele como alguém a quem devo muito de quem sou. Sobretudo, pelo exemplo de vida. Fui seu adjunto num dos governos provisórios e sempre o considerei como o paradigma de servidor público, misto de inteligência e de honra, com a dignidade da coragem. Talvez o melhor ministro que conheci, pela imparcialidade, pelo rigor do despacho, pela capacidade combativa. Mais: ele foi um dos meus professores de democracia viva e vivida. Nunca fui militante dos partidos a que deu cidadania, nem dos muitos movimentos a que se entregou, mas tive o privilégio de sempre dele ter recebido confiança. Magalhães Mota foi um dos pais da nossa democracia e teve a nobreza de a servir, sem dela procurar servir-se. A melhor maneira de o homenagearmos é continuarmos a respectiva ideia, com a força do sonho de que nunca abdicou. Todos os que com ele privaram, colegas, companheiros ou adversários, guardaram esta semente. É mais um, dos raros, que da lei da morte se libertaram.