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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.7.07

Contra o medo de pensar pela própria cabeça, contra o medo de discordar, contra o medo de não ser completamente alinhado


Como não vou pagar quotas ao PSD, espero, ansioso, a pausa de Verão, embora ainda hoje tenha que aturar mais um filme série B de mais uma consequência de prequianos golpes de revolucionários frustrados, sentados nas alcatifas directoriais dos suplementos de vencimento, com que costumam ser prebendados os cabos eleitorais e que não lêem os que têm razão antes do tempo, como o poeta Manuel Alegre que, hoje, traça a causa desta decadência: “medo de pensar pela própria cabeça, medo de discordar, medo de não ser completamente alinhado”, com a consequente “tradição governamentalista”, que leva um partido, quando está no Governo, a transformar o “seguidismo” “em virtude”.
(é evidente que onde está Governo pode ler-se qualquer outro agente de poder ou de distribuição de subsídios, promoções ou viagens, podendo a coisa ser substituída por "chefe", chame-se director-geral, presidente, directivo, reitor, delegado ou governador-civil, incluindo os pretensos filiados nos partidos de Sócrates, Salazar, Marques Mendes, Portas ou Jerónimo de Sousa, especialmente quando o chefe tem uma corte de plurais comedores do dinheiro do povo)


Também alguns segmentos da dona universidade, em vez de aprenderem, investigarem e ensinarem, preferem brincar a certo revolucionarismo frustrado, onde não faltam bibliotecários que semeiam ameaças a torto e a direito, contra as esquerdas que não querem ser assimétricas e contra as direitas que não são compráveis, procurando impedir o urgente gesto do Zé Povinho contra a coligação de fidalgotes, inquisidores e pides não reciclados, a qual ameaça com o terror reverencial e a terra queimada saneadora, nesse explosivo misto dos verões quentes, donde costuma emergir a ditadura da incompetência, quando a assembleia do MFA dá origem ao V Governo Provisório.


O cúmulo desta insanidade orgânica pode até levar a que a pretensa legalidade formal do governo dos espertos promova a reunião plenária de uma qualquer direcção-geral do antigamente, dominada pelos habituais administradores de posto, de colonial memória, para assumir por unanimidade medrosa uma nova lei orgânica digna do PRACE, onde se invoque a Constituição de 1933, porque a aprovada Constituição de 1976 ainda está à espera de publicação.


Assaltando-se a "vacatio legis", pode ser que alguns ex-estudantes de teologia interpretem a dita branda como mera vaquinha propícia à cow-boiada, onde não faltam promoções para os chefes de facção, concursos com fotografia para os pretensos chefes da oposição e imensas prebendas para os serviços prestados pelos senhores da guerra que feudalizaram a coisa, tudo à custa da mesa do orçamento e do consequente devorismo.


Tudo o que digo coincide com a realidade dos que, degrau em degrau, lá vão descendo a caminho do delírio, com sucessivas bebedeiras contra-revolucionárias e revolucionárias, onde a índole de extremistas da esquerda e da direita rompe o verniz do pseudo-estadão dos cargos assaltados, só porque alguns dizem fazer cesarianas de alienígenas, mas com os métodos típicos da autópsia, dado que outros proclamam não seguir os adequados manuais de medicina forense, de que se assumem como os únicos especialistas, mesmo sem preparação básica.


Enquanto isto, na macropolítica politiqueira, com o caso Charrua arquivado e com o caso dos sobreiros em acusação formal, eis que a governança se engasga com a teatrocracia do plano tecnológico, devido à encenação das agências de comunicação que recorreram ao trabalho infantil, para que aquilo que apareceu no telejornal pudesse continuar esta paradoxal conspiração de avós e netos, onde, depois dos velhinhos que vieram de Cabeceiras de Basto fazer o comício a António Costa, tudo se assemelha, cada vez mais, aos figurantes contratados para os sucessivos programas dos "prós e contras".


Julgo que Sócrates não deve transformar-se em Fátima Campos Ferreira, nem o parlamento que volver-se em auditório da Casa do Artista. Quanto às criancinhas, se aplaudo o golpe oposicionista de Zita Seabra, mais me irrita que o governo tenha servido de campo de promoção para a empresa que forneceu computadores ao Estado, e que utilizou o primeiro-ministro de nós todos como figurante de filme de propaganda comercial.


Por mim, quero continuar a pensar pela própria cabeça. E não temo os bufos. Da direita e da esquerda. Incluindo aquele que, fingindo-se meu companheiro de valores, se mostrou portador do habitual neodogmatismo petensamente antidogmático, com os degenerados trejeitos maneiristas do anti-inquisidor realmente inquisidor, sem reparar que, mui avençadamente, entre o "mosca" do Intendente e o "bufo" da PIDE, houve alguns "formigas" que tramaram tanto Afonso Costa como o 25 de Abril. Desta feita, os chefes não foram parvos e sabem que tudo sai dos meus privatíssimos arquivos da memória que adequadamente informatizei e donde não constam fichas nem contrafichas do "Lumpen".