a Sobre o tempo que passa: Denunciando o trabalho de sapa dos animaizinhos que vão corrompendo a liberdade

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.5.07

Denunciando o trabalho de sapa dos animaizinhos que vão corrompendo a liberdade

Imaginem que um funcionário público qualquer, neste tempo de directores regionais que não gostam de anedotas sobre o nosso primeiro, escrevia coisas como estas: quem está nas cumiadas é que sabe de que lado sopra o vento, e que precisa de imitar a canna, que verga e se dobra para não ser arrancada ou quebrada. Se o furacão atirasse das alturas para as varzeas da vulgaridade os homens eminentes que por lá andam, quem perdia não eram elles, era a patria.

Estávamos em plena monarquia liberal, com gentalha e quadros mentais de absolutismo e de reacção, mesmo quando invocavam inscrição em partidos de muito progresso e modernidade. Mas poderia dizer-se como hoje: a republica litteraria, como a civil, tem a sua aristocracia, a sua classe média e o seu vulgacho, e, como na republica civil, ha aqui sympathias entre os membros da mesma categoria, e ha malevolencias da plebe contra as superioridades...

O homem liberdadeiro que assim escrevia dizia estar alheio da política militante, por não crer na redempção do país e dizia-se afastado das cousas publicas com indifferença, essa indifferença filha das serveras licções da experiencia. E dizia da Sancta Madre Igreja, quando esta foi desafiada por alguém que teimava na defesa das suas ideias, o seguinte: ela agacha-se quando lhe viram o dente. Pensam alguns que é medo. Enganam-se. É para começar o trabalho de sapa.

Observava a seguir que a dita
tem uma jerarchia interna que nem sempre corresponde à jerarchia official. No fim da escala estão os que possuem olhos no corpo, sem que por isso os tenham na alma. Serve esta espécie de animaesinhos ... para aquelles trabalhos subterraneos que se vão abrindo debaixo dos pés dos maldictos...

As antimaquiavélicas palavras são de Herculano e bem podem ser aplicadas a este ambiente de decadência que marca os actuais meandros das novas leis da rolha, este garrote sorridente que vai semeando um totalitarismo doce, sob a capa da partidarite, da compra do poder, do clientelismo e da personalização do poder. Espero que muitos continuem em resistência, na defesa da liberdade.