a Sobre o tempo que passa: Toda a solidariedade para Pedro Guedes e Ana Gomes!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.1.07

Toda a solidariedade para Pedro Guedes e Ana Gomes!




Portugal precisa, cada vez mais, de gente que goste de viver como pensa, que tenha a coragem de estar em minoria e que assuma causas, mesmo que sejam causas contra as quais eu possa estar. Reparo hoje que uma senhora deputada do Bloco de Esquerda, ao melhor estilo dos moscas do intendente e dos caça-comunas e caça-fascistas, veio atirar para o pelourinho o meu querido Pedro Guedes e o seu blogue belenense, só porque ele se assumiu como seu, e meu, opositor na causa da IVG. Em nome da memória do teu avô, assistente de Abel Salazar, e do sonho sempre presente da tua mãe Fernanda, quero dizer-te, Pedro, que estou contigo, para que possas continuar a defender os teus princípios, mesmo quando eles contrários aos meus.



Outra pessoa que está pelourinho, é a senhora embaixadora Ana Gomes, empenhada que está numa causa onde eu confio mais nela do que no deputado José Luís Arnaut, embora, neste campo, tenha de apoiar o ministro Luís Amado. Julgo que Portugal bem precisa de inconformistas como ela, temendo que, por esta razão, ela seja punida na próxima escolha de candidatos a deputados pelo respectivo directório partidário. Por mim, confesso que devia haver mais pessoas com esta energia, especialmente nas chamadas comissões parlamentares de inquérito.

Curiosamente, estes dois pelourinhados são activistas da blogosfera e quem por aqui navega não precisa de denúncias para saber o que esses dois navegadores pensam e defendem. Por mim, que tenho a honra de ser referenciado e de referenciar os blogues dos dois, apenas desejo que, na grande política, se estabeleça esta vivacidade não censurada do mundo da "internet". Tanto não admito que o poder estabelecido e as conveniências governamentais e parlamentares atirem para o campo da dissidência a senhora embaixadora, como gostaria que em Portugal pudesse haver uma liberdade de organização de forças políticas equivalente à própria liberdade de expressão.



Se, por exemplo, existirem inequívocos neofascistas, como ele se expressam na blogosfera, eles devem poder constituir-se em organizações políticas expressamente neofascistas, tal como acontece com a coincidência que há entre a liberdade de expressão de pensamento da esquerda revolucionária e a respectiva liberdade de organização. De outra maneira, poderemos correr o risco de ter militantes da extrema-esquerda a organizar processos contra militantes de extrema-direita e a consequente hipocrisia vigente, onde aparecem neofascitas a reclamar-se como a direita autêntica, esquecendo ambos que nenhum adepto de ditaduras, autoritarismos e totalitarismos alguma vez admitiu que houvesse partes ou partidos e, consequentemente, direitas ou esquerdas.

Basta assinalar que nunca um Salazar, um Hitler ou um Estaline se qualificaram como da direita ou da esquerda, admitindo, contra eles, com os mesmos meios, opositores de esquerda ou de direita. Eles sempre disseram que eram o "todo" e nunca admitiram que eram "partidos" ou "parcelas".



É por isso que me revolto contra estes sinais de intolerância de que estão sendo vítimas Pedro Guedes e Ana Gomes. A actual democracia pluralista tem a vantagem de ter sido gerada no pós guerra por governações dominadas pelos dois principais inimigos do demoliberalismo no século XIX. De um lado, os democratas-cristão, herdeiros de uma militância eclesiástica que, até à "Rerum Novarum" de 1891, era inimiga da democracia. Do outro, os sociais-democratas que, até ao revisionismo de Bernstein, eram incompatíveis com o jogo parlamentar.




Curiosamente, nos finais do século XX, a democracia pluralista transformou antigos marxistas-leninistas sovietistas em pós-comunistas à italiana e à Europa Central e do Leste, bem como antigos neofascistas italianos em ministros da democracia e do europeísmo, tal como, entre nós, antigos cunhalistas, salazaristas, udps e mrpps andam por aí, e muito bem, como ministros, deputados e líderes partidários, convictos e coerentes sacerdotes do Estado de Direito e do pluralismo. E ainda bem...