a Sobre o tempo que passa: Vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.11.06

Vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso



Há dias em que compreendemos bem existencialmente quanto custa esse espaço de libertação que nos leva a tentar a procura daquela autonomia que nos manda ser um homem livre, quando apetecia ceder à servidão, sem reconhecermos que a culpa da escravatura está na circunstância de não haver a necessária revolta dos escravizados. Há dias que, em nome de tal exigência, importa mais descobrir o silêncio do que confirmarmos a não existência do paraíso. Por isso, vale mais dizermos que hoje, aqui e agora, não diremos a razão funda da nossa revolta. Por isso, não falaremos em sistema político e universidade, para não sermos acusado de insinuações. Mantendo os pés na lama do caminho e continuando a caminhar, preferimos, hoje, olhar as estrelas, porque ainda não apetece olhar o sol de frente.

Apenas apetece dizer que não nos importa pagar a factura do exercício da nossa liberdade de expressão de pensamento neste blogue, contra a ignorância, o fanatismo e a intolerância. Tentarei continuar a viver como penso, sem pensar como vou vivendo. Isto é, sem ceder ao antiquado torcer do velho feudalismo, agora pintado de pós-moderno pelo chamado esquema da idade das redes e da troca de favores. Continuo a dizer, como Régio, que não, não vou por ai. O dia está de um belo azul de Outono, as cores são nítidas e não se reduzem ao preto e branco do maniqueísmo, com que se continua a conjugar o poder.

Aliás, ontem, foi um dia de belas aulas, numa delas com um curioso exercício "quodlibético" onde os alunos me levaram a transmitir aquela razão experimental dos que antes de nós disseram o que há-de ser dito depois de nós, nesta corrente de cumplicidade, onde até recebemos o que de civilizacionalmente belo ocorreu em Istambul, Bizâncio ou Constantinopla, nessa viagem de séculos entre o patriarca ortodoxo e o bispo católico, religando-nos em espírito, onde já não somos gregos nem judeus, nem maçons nem católicos, mas homens livres em metafísica. Às vezes, vale mais o silêncio do que vir a saber que não há paraíso, nesta bela frase que plagio já sem saber a quem, porque o nós precede o eu.