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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.11.06

Um postal metafisicamente equívoco, mas com os pés presos na lama da terra-mãe



Nova semana que anuncia passagem de mês e confirma mudança de tempo. Por mim, foi uma atribulada viagem à terra natal, para participar num júri da Faculdade de Direito, porque, quando ao fim da tarde, pretendia regressar a Lisboa, verifiquei que as linhas de comboio estavam bloqueadas, pelo que preferi passar a noite no velho Hotel Bragança e só marchar para casa na madrugada de sábado.

Também em Coimbra verifiquei como a universidade portuguesa está pouco disponível para a chegada da turbulência bolonhesa, dado que esta proclamação ministerial de desvio de fundos para a uma ciência que se pensa regulamentada pelos painéis planificacionistas, pode acelerarar a chegada do tempo dos intelectuários, essa mistura da "intelligentzia" com o serventuário, coisas que sempre entraram, chouriçamente, na constituição do clero.

Ciência em portugalês começa a ser essa bicha de especialistas no preenchimento das fichas exóticas dos mestres de obra dos construcionismos neopositivistas e toda a sua clique de assessores e gabinetes jurídico-económicos, esses novos nomes de uma burocracia técnica, com que se disfarça o novo manga de alpaca do sargento verbeteiro.

Por outras palavras, os bem intencionados desta nova era da Idade da Ciência, contra as trevas das Idades da Teologia e da Metafísica, se não leram Saint-Simon, frequentaram cursos de formação acelerada no INA em Excel e Open-Office e proclamam o exacto e verdadeiro científico, sem repararem que caíram nas redes dos pescadores de água turvas, desses que confundem bruxaria com futurologia, por errro na tradução automática do Google.


Pobre universidade portuguesa, fundada nos finais do século XIII, cativa que começa a estar dos tradutores em calão dos manuais de "hardware", com que os colaboracionistas dos novos colonizadores nos querem transformar em mero protectorado tecnológico dos novos donos do mundo, desses potentados para os quais saber é poder e não deixam que a pretensa periferia ouse penetrar nas torres cimeiras do "software".

É por isso que não vale a pena desperdiçar pérolas de "sophia" e "phronesis" com a criadagem de certa suinicultura que pensa disfarçar o mal-cheiroso de uma conduta indigna com muita contrafacção de água de colónia, para uso na diplomacia do croquete, como já se vivesse em pleno Petro-Estado, susceptível de enfileirar em meros processos cleptocráticos, mesmo que tudo se recubra com o pó-de-arroz do português suave.