a Sobre o tempo que passa: A eterna discussão do sexo dos anjos e os europeístas do costume...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.5.05

A eterna discussão do sexo dos anjos e os europeístas do costume...



Vejo e ouço as notícias da manhã, entre papel e rádio, net e televisão. Noto o apelo patriótico de Sampaio para a união de sindicatos e patrões, reparo que este ministro das finanças quer mesmo redimensionar o Estado, sem pedir ajuda aos "dossiers" deixados na gaveta pelo antigo ministro da reforma do estado do PS, que é actualmente o líder parlamentar do partido governamental, mas prefiro observar o pânico que domina as hostes lusitanas do "sinzismo", temendo que o "niet" holandês se junte ao "non" galicista. Concluo que Mário Soares, neste fim de carreira de ausente-presente, continua a ter azar, porque quase todas as causas a que tem dado a sua patriarcal adesão continuam a ser sucessivamente derrotadas, até porque o nosso "pater respublica" não reparou que a maçonaria francesa também apelou ao "non". Já o meu amigo Guilherme d'Oliveira Martins que, mais uma vez, alinhou com o senador Mário, com o senador Adriano e com Marcelo Rebelo de Sousa, compreensivelmente magoado com este desprezo do eleitorado pelo trabalho dos convencionalistas, preferiu repescar uma frase de Monnet: «se não está aberta a porta da frente, então temos de entrar pela porta de trás». Só que, nesses meados da década de cinquenta do século XX, o presidente francês não era gaullista...

Reparo também que a Rádio Renascença decidiu emitir uma importante peço de jornalismo de investigação sobre a distinção entre "lobby" e "tráfego de influências". A estação católica preferiu não seguir o caminho mais fácil que era teclar na "Google" ou ir à estante consultar um qualquer dicionário ou manual de ciência política, preferindo uma entrevista, não com constitucionalistas como Jorge Miranda ou Jorge Bacelar Gouveia, mas antes sentir o palpitar reflexionista do supremo consultor da República e historiador do regime, António da Costa Pinto, que terá sucedido nesta última postura a Fernando Rosas, apesar dos inúmeros afazeres que o mobilizam como presidente das comissões comemorativas do 25 de Abril e não sei se do 10 de Junho e do 1º de Dezembro, cargo a que ascendeu por conseguir fazer a síntese entre Durão Barroso, Jorge Sampaio e o reitor da Católica. Consta que a estação vai, em breve, tentar investigar a diferença que separa a ideia de constituição da ideia de decreto-lei, estando aprazada uma reflexão transcendental a emitir pelo presidente do INA, professor doutor Valadão, também docente da Católica, em regime de acumulação, que, mais uma vez, continua à espera de ser nomeado ministro da reforma do Estado e da Inovação.

Por estas e por outras, decidi investigar a velha discussão teológica sobre o sexo dos anjos, antes de Bizâncio se tornar otomana, tentando descobrir os meandros das portas das traseiras europeístas...