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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.2.05

Ubuntu...dignidade! Parabéns, Jorge!

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Transcrevemos relato da Lusa:

A Guiné-Bissau volta a contar, a partir de hoje, com uma nova revista sócio-cultural, a"Ubuntu", fruto de um projecto idealizado por um grupo de jovens quadros guineenses recentemente regressado ao país. A revista, de 60 páginas, é dirigida por Jorge Lopes Queta, quadro do Fundodas Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em Bissau e mestrando emRelações Internacionais, e constitui um espaço de reflexão em que sãoabordados todos os temas, "sem complexos". Em declarações à Agência Lusa, Jorge Lopes Queta indicou que aperiodicidade da revista, lançada sábado à noite em Bissau durante a 14ªedição das "Noites Culturais" promovidas pela Associação Ubuntu, "será inicialmente anual, embora haja planos para que se torne ainda este anosemestral ou mesmo trimestral".


O "Ubuntu", palavra do dialecto sul-africano Zulu que significa "dignidade"ou "respeito", conta com seis secções distintas e pretende apresentar,segundo o seu director, uma nova abordagem dos assuntos dos espaçoslusófonos, maioritariamente ligados à Guiné- Bissau é à regiãooeste-africana." Essa abordagem visa alcançar uma nova visão das questões africanas,desprovida de complexos, inovadora e objectiva, e que deverá caracterizar amudança de milénio", sublinhou Jorge Lopes Queta. A este facto não é alheio a juventude dos seus responsáveis, pois são todosda geração pós-independência e que tiveram oportunidade de estudar no estrangeiro, nomeadamente em Portugal.

Nesse sentido, esclareceu o director, esta nova visão tem também porobjectivo estimular o debate público de temas conjunturais, tendo em contao "público-alvo" da revista: os diversos actores sociais, comoinvestigadores, universitários, lideranças nacionais e comunitárias,responsáveis da sociedade civil e políticos. O conceito Ubuntu, que tem na sua génese o lema "Eu sou porque nós somos. Nós somos porque tu és. Nós sabemos somente que somos porque o outro é.", é um princípio organizacional da consciência africana." Define a proeminência dos interesses da comunidade em detrimento doindividual e a obrigação do indivíduo em partilhar o que é pessoal com acomunidade", explicou Jorge Lopes Queta.

O número 1 da revista, que não lançou o tradicional número zero, consagraum dossier de 10 páginas sobre a participação cívica em África, bem comovários artigos de opinião sobre os mais variados domínios, entre eles ospolítico, económico, social e cultural. O conceito de "Ubuntu" é, contudo, mais lato, explicou Jorge Lopes Queta,que adiantou que a revista é apenas um vector do projecto, que se associaclaramente às actividades de índole cultural.

Tudo começou em Lisboa, quando, em 1997, um grupo de jovens estudantes universitários africanos criou a Associação Africana Ubuntu com o objectivode editar uma revista e desenvolver projectos humanitários na área daEducação.Além de Jorge Lopes Queta, envolveram-se no projecto a sua irmã, EuniceQueta, hoje advogada residente em Lisboa, e Rómulo Pires, licenciado emGestão Bancária e que estagia actualmente na sede do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), em Dacar. Findas as licenciaturas e com o consequente regresso de muitos dos estudantes a Bissau, iniciou-se uma série de actividades culturais que, noprincípio, tiveram pouca recepção local, pois a divulgação era praticamentenula e a resistência dos guineenses à novidade era grande.

Jorge Lopes Queta lembrou que, no início, as "noites culturais" nãopassavam de um "mero encontro de amigos", na sua maioria estrangeiros, eque, com o tempo, a iniciativa ganhou adeptos, tendo-se já transformado num "acontecimento cultural por excelência" no país. As "noites culturais", que já vão na 14ª edição, congregam uma série deiniciativas, pois é demonstrado todo o potencial cultural que sedesenvolve na Guiné-Bissau, onde a tradição, nomeadamente na dança, é oprato forte. O evento serve para os que músicos menos conhecidos apresentem as suascanções, para os pintores exibirem as suas obras, para os escritoresdivulgarem os seus livros, para os actores levarem a cena as suas peças deteatro, para todos mostrarem a sua arte.

Ponto de referência para a cultura guineense, a associação conta com poucos apoios quer estatais quer da classe empresarial e, como instituição semfins lucrativos, os poucos lucros revertem para um fundo destinado apromover e realizar as "Noites Culturais", que Jorge Lopes Queta tem conseguido manter com uma periodicidade irregular. Em relação ao futuro, o director da "Ubuntu" pretende obter uma estrutura"talvez um pouco mais profissionalizada", para que se possa manter quer arevista, quer as "Noites Culturais". No entanto, o projecto, adiantou, é muito mais vasto, pretendendo-se, apartir de agora, criar um espaço e um roteiro cultural, um programaradiofónico, apoiar e desenvolver acções para a defesa e promoção dacultura e promover a participação cívica e os valores da cidadania, democracia e liberdade junto da sociedade.

Com o surgimento do "Ubuntu", é relançada na Guiné-Bissau a ideia de umarevista sócio-cultural, após a "Tcholona", um magazine lançado em 1997 eque, por falta de financiamento, terminou após o sexto número. A "Tcholona", palavra crioula que significa "dar uma dica" foi criada em1995 pelo Grupo de Expressão Cultural (GREC), que se dedicava a divulgar epromover as artes e letras guineenses, entretanto desactivado. Nos últimos anos da década de 70, o então único jornal da Guiné-Bissau, o Nô Pintcha, publicou, embora de forma irregular, um suplemento literário intitulado "Bambaran", em que havia a preocupação de promover a cultura donovo Estado independente.


José Sousa Dias, da Agência Lusa Bissau, 27 Fev (Lusa) -