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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.2.05

O enjoado choradinho do interior, visto por um capitaleiro...

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Se concordamos com as denúncias de corrupção lançadas pelo Professor Saldanha Sanches, se louvamos o respectivo combate cívico nesse processo, rejeitamos, em absoluto, a sua conversão ao capitaleirismo, quando considera fundamental que o primeiro-ministro «atire o dossier «interior do país» para o lixo. Esse conceito foi usado na campanha. Agora esqueça isso, urbanize-se. Pense no litoral, que paga os impostos e que arrasta o País para o crescimento. Aliás, porque já não há interior. Hoje, Vila Real está a uma hora e meia do Porto». Porque é preciso acabar com as «demagogias ridículas» das políticas direccionadas para o desenvolvimento do interior, diz o fiscalista: «Esse choradinho do interior é a coisa mais enjoativa que se pode imaginar».

O Professor Sanches quer que o litoral arraste o interior para um crescimento que nos pode levar directamente para o abismo oceânico no preciso dia em que faleceram em Mortágua quatro bombeiros da minha terra, quando combatiam um incêndio provocado pelos erros de planeamento florestal pela indústria da pasta do papel. O litoral paga com impostos. O interior paga com a vida.

Logo, se o provinciano Sócrates cai no conselho fiscalista de atirar o interior para o lixo, nomeadamente através do método da co-incineração, eliminando a demagogia ridícula da luta contra a desertificação e pelo desenvolvimento sustentável, poderíamos elevar ao máximo esse modelo capitaleiro, sugerindo outras medidas bem mais radicais:

Despovoamento imediato das ilhas do Corvo e das Flores, com instalação dos respectivos habitantes no Hotel Ritz de Lisboa:

Instalação de milhares de discotecas em todas as praias e falésias do litoral e terraplanagem imediata de todo o país interior, de maneira a podermos ter longos parques de estacionamento em espinha para uso dos europeus que pagam impostos;

Solicitação à NATO quanto à cedência gratuita de armas de destruição massificada, bombas napalm e pequenas armas atómicas de eficácia táctica que arrasem aldeias, vilas e cidades que não têm pessoas susceptíveis de pagamento de impostos;

Colocação em leilão internacional do país interior terraplanado, a fim de se instalarem em adequados campos de concentração cerca de dez milhões de párias de todo o mundo, com adequada vigilância das nossas forças armadas.