a Sobre o tempo que passa: Deus, Inquisição, Razão

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.9.04

Deus, Inquisição, Razão



Em nome de Deus nos deram a Santa Inquisição. Em nome da Santa Razão nos deram a Junta da Providência Literarária e a Dedução Cronológico-Analítica. Absolutismos de sinal contrário, bem expressos pela topografia de Lisboa que colocou o Marquês de Pombal como cúpula tutelar da chamada Avenida da Liberdade.

Este acaso de uma liberdade feita à imagem e semelhança de um déspota esclarecido não é simples coincidência. O esclarecimento põe as tais luzes dos fins que se pretendem positivar na cidade no plano superior aos meios.

Daí o paradoxo: queremos fazer reinar a tolerância com muitos chicotes de intolerância; queremos fazer perdurar a razão através da anti-razão. Sempre carradas de apelos a pretensas éticas da responsabilidade contra as humaníssimas éticas da convicção. Que venha o Diabo e escolha. Que venha Santana Lopes e nos governe. Que venha Paulo Portas e nos defenda.